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Inflação

Técnicas para economizar chegam ao TikTok e causam furor nos EUA

Vídeos mostram essa técnica de poupança à moda antiga

"Cash stuffing" - É como é conhecido esse método de economia por segmentos de consumo usando envelopes"Cash stuffing" - É como é conhecido esse método de economia por segmentos de consumo usando envelopes - Foto: Olivier Douliery/AFP

Duas mãos colocam meticulosamente alguns dólares em envelopes transparentes sobre os quais pode-se ler "alimentação" ou "gasolina": os vídeos que mostram essa técnica de poupança à moda antiga seduzem os usuários nos Estados Unidos que desejam reduzir gastos diante da inflação desenfreada.

Judia Griner, de 25 anos e mais de 200.000 seguidores, começou com o "cash stuffing', como é conhecido esse método de economia por segmentos de consumo usando envelopes, há dois anos, quando era estudante da universidade Old Dominion na Virgínia.

"Queria usar meu próprio dinheiro para pagar meus gastos com educação sem me endividar muito", explicou à AFP.

"Porém, me dei conta de que não tinha ideia de como fazer porque não sabia com quanto dinheiro contava", acrescentou.

Simplesmente "passava meu cartão do banco e cruzava os dedos esperando que não fosse recusado", recordou.

Jasmine Taylor, de 31 anos, tem um relato parecido. Começou a usar esse método em fevereiro de 2021 e já é seguida por 620.000 pessoas no TikTok.

"Tinha um diploma, mas nenhuma perspectiva de emprego. Minhas finanças estavam realmente ruins", admitiu essa texana. "Fazia muitas compras compulsivas".

As duas mudaram o funcionamento de suas finanças pessoais: agora pagam tudo em dinheiro após retirar seus salários, também em dinheiro, e dividem o total em envelopes destinados a gastos muito precisos (serviços, aluguel, supermercado). E traçam os objetivos de poupança.

Na rede social TikTok, o termo #cashstuffing - que em tradução livre seria "encher de dinheiro" um envelope, nesse caso - teve hoje 930 milhões de visualizações.

Velho método com bons resultados

Longe de ser algo novo, esse sistema que recorda ao velho porquinho é muito similar ao que se popularizou há 20 anos com o guru americano das finanças Dave Ramsey, em um momento no qual os smartphones e os pagamentos por aproximação não existiam.

Apesar de parecer pouco prático (algumas lojas nos Estados Unidos não aceitam dinheiro), esse método permitiu Judia Griner deixar de gastar 7.500 dólares, uma quantia que destinou para o financiamento de seus estudos.

"Com o cartão de crédito não tinha a impressão de que o dinheiro fosse real", confessa.

Assim, utilizar dinheiro em cédulas foi revelador para ela. "Podia me ver fisicamente gastando meu dinheiro, vê-lo acabar, e isso me ajudou a frear minhas compras", relembrou. "É um problema da minha geração: o consumismo e os gastos desenfreados".

Jasmine Taylor paga em dinheiro 95% dos seus gastos e conseguiu liquidar 32.000 dólares de dívida estudantil, 8.000 dólares de dívida em cartões de crédito e 5.000 dólares que devia por gastos em saúde. Tudo isso em um país que é conhecido pelas suas instituições de crédito que estimulam os cidadãos a se endividarem mais e mais.

Sensação de bem-estar

Para Priya Malani, fundadora da Stash Wealth, um serviço de assessoria financeira para jovens profissionais, o contexto econômico deteriorado exerce um papel importante no sucesso atual desses sistemas de  economia simples.

"Com tantos títulos que causam ansiedade (queda das criptomoedas, queda dos mercados, a ameaça de recessão, entre outros), é lógico que as pessoas queiram ter um pouco mais de controle", destacou. "Uma cédula em mão aporta um sentimento de tranquilidade", resumiu.

Ainda que, "2023 seja provavelmente o pior momento para guardar dinheiro em cédulas em casa", já que não recebe nenhum tipo de juros e se desvaloriza, adverte Jason Howell, professor de Gestão de Patrimônio da American University.

Taylor, que guarda seus envelopes em um cofre à prova de incêndios em casa, sabe disso. A cada 1.000 dólares de economia, vai ao banco para depositar.

O frenesi pelo "cash stuffing" não significa para os dois especialistas que o dinheiro esteja de volta massivamente como método de pagamento nos Estados Unidos.

Na maior economia mundial, a tendência há vários anos é a que o uso do dinheiro se reduza e os pagamentos com cartão de crédito, débito ou por meio de plataformas para serviços móveis aumentem.

Em 2022, 41% dos americanos afirmavam não fazer compras em dinheiro na semana, frente a 24% em 2015, segundo um estudo do Pew Research Center.

Segundo Judia Griner, o método de separar dinheiro em envelopes é "o melhor sistema de controle de orçamento para iniciantes" em economia.

Creio "que faz pensar, é a grande vantagem desse sistema", conclui Jason Howell.

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