Temor da política migratória de Trump faz portadores de 'green card' evitarem viagens internacionais
Casos como as detenções de ativistas universitários, todos portadores de green card, aumentaram a ansiedade entre os milhões de residentes permanentes legais no país
As recentes detenções de portadores de visto de residência permanente — o famoso green card — nos Estados Unidos têm gerado temor entre estrangeiros. Muitos deles passaram a evitar viagens internacionais com medo de serem alvos das políticas de deportação do governo do presidente Donald Trump, aponta uma reportagem do jornal americano Washington Post.
Advogados de imigração, como Pouyan Darian, anteriormente asseguravam aos residentes permanentes legais que viagens ao exterior não colocariam seu status em risco. No entanto, após incidentes recentes, Darian revisou sua orientação, alertando que tais viagens podem expor os indivíduos a uma maior fiscalização ao reentrarem nos EUA.
Casos como as detenções de ativistas universitários em Nova York, um cidadão alemão retornando à Nova Inglaterra e uma mulher filipina em Seattle, todos portadores de green card, aumentaram a ansiedade entre os mais de 12 milhões de residentes permanentes legais no país. Esses incidentes, embora poucos, causaram rumores nas redes sociais, levaram portadores de green card a cancelar planos de viagem e geraram uma enxurrada de ligações frenéticas para advogados de imigração, de acordo com o Washington Post.
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Insatisfeito, governo Trump intensificou as ações
O governo Trump, insatisfeito com o ritmo das deportações, intensificou suas ações, incluindo a deportação de 238 migrantes para uma mega-prisão em El Salvador sem o devido processo legal. Essa postura sugere uma nova fase na repressão à imigração, possivelmente afetando até mesmo aqueles com status legal.
Analistas disseram que não deveria ser surpresa que o governo Trump estaria disposto a mirar em portadores de green cards. Em seu primeiro mandato, o governo Trump cortou drasticamente o número de green cards emitidos pelo governo dos EUA ao longo de quatro anos em mais de 418 mil, em comparação com o segundo mandato do presidente Barack Obama, de acordo com uma análise do libertário Cato Institute.
David J. Bier, diretor de estudos de imigração do Instituto Cato, observa que a administração Trump está deixando claro que não vê distinção entre categorias de não cidadãos e que qualquer um pode ser alvo de deportação se contrariar seus objetivos.
Hilton Beckham, comissário assistente da Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA, afirmou que a administração está aplicando as leis de imigração e que portadores de green card sem antecedentes criminais ou fraudes não devem temer ao entrar ou sair do país.
Aumento na procura por advogados
Advogados de imigração relatam um aumento nas consultas de portadores de green card, muitos optando por cancelar viagens ao exterior, incluindo férias e funerais familiares, devido ao medo de não conseguirem retornar.
Tradicionalmente, residentes permanentes legais desfrutam de amplos direitos, podendo viver e trabalhar nos EUA e viajar ao exterior, desde que não enfrentem acusações criminais ou permaneçam fora por períodos prolongados. Entretanto, eventos recentes, como a detenção de uma estudante de enfermagem de 23 anos no Aeroporto Internacional de Los Angeles após o funeral de sua mãe no Laos, aumentaram as preocupações.
Em março, a detenção de Mahmoud Khalil, líder de protestos na Universidade de Columbia, acusado de apoiar o Hamas, e de Fabian Schmidt, residente permanente desde 2008, retornando de uma viagem à Alemanha, intensificaram os temores. Schmidt, ainda de acordo com o Washington Post, teria sido pressionado a assinar um documento renunciando ao seu status de residente permanente e aguarda audiência em junho.
— As pessoas estão aterrorizadas, completamente assustadas — disse Joshua Goldstein, um advogado de imigração de Los Angeles. — Estou até recebendo perguntas de cidadãos dos EUA perguntando: "Posso viajar?"
Goldstein destacou a aparição do vice-presidente JD Vance na Fox News em 13 de março, na qual, questionado sobre a prisão de Khalil, ele afirmou que os portadores de green card não "têm o direito indefinido de estar nos Estados Unidos da América". Vance disse que a questão, em sua essência, não é sobre liberdade de expressão ou segurança nacional, mas representa um debate fundamental sobre quem tem permissão para fazer parte da sociedade americana.
Especialistas jurídicos, no entanto, afirmam que é cedo para avaliar a extensão das ações do governo contra residentes permanentes legais. Mas, de fato, a agressividade das medidas de fiscalização aumentou a ansiedade entre esses indivíduos.