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Chuvas

Temporais no Grande Recife: 30 anos sem obras para evitar inundações

A segunda matéria da série sobre inundações no Grande Recife faz uma análise sobre a ausência de obras que se voltem a mitigar o problema que atinge milhares de pessoas

Plano de drenagem de Jaboatão é importante, mas não tem fôlego sozinho para prevenir inundações, avalia especialistaPlano de drenagem de Jaboatão é importante, mas não tem fôlego sozinho para prevenir inundações, avalia especialista - Foto: PMJG/Divulgação

A falta de investimentos estruturais para a prevenção de inundações no Grande Recife nos últimos 20 anos chama a atenção, diante da repetição anual dos temporais na Região Metropolitana. O município de Jaboatão dos Guararapes tem sido fortemente atingido pelas inundações, que pioram ano a ano.

Em maio de 2022, em Jaboatão dos Guararapes, algumas localidades chegaram a registrar 788 milímetros, volume 150% superior à média histórica. Em Moreno, o acumulado mensal atingiu 696 milímetros, 162% a mais que a média. Esses municípios sofrem com o transbordamento do rio Jaboatão. 

“Qualquer chuva mais forte, é pior em Jaboatão”, reclama Naedja Maria da Silva, que trabalha no município e sempre precisa enfrentar ruas inundadas em dias de chuva. Este ano, o rio Jaboatão já transbordou. Foi no dia 14 de junho e desabrigou famílias nas localidades de Marcos Freire e Muribeca, em Jaboatão dos Guararapes, e vários bairros de Moreno, sendo um dos mais atingidos o de Olaria. Dezenas de casas foram atingidas, desalojando as famílias. 

“As últimas grandes intervenções para evitar enchentes no Grande Recife aconteceram entre o final dos anos 1970, como reação diante da cheia de 1975 na capital, até meados dos anos 1990, com intervenções no canal do Jordão. Desde então, temos projetos que não saem do papel ou não são concluídos”, critica o engenheiro Kleiton Lins, diretor técnico da Moura Lins Engenharia e especialista em Infraestrutura de Transportes e Hidrologia.

Nesse período pós-1975, foram construídas, por exemplo, as barragens de Carpina – inaugurada em 1975 – e Jucazinho, localizada em Surubim e concluída em 1998. Foram dois empreendimentos fundamentais para o controle do rio Capibaribe e a redução das inundações na região metropolitana.

De lá para cá, alguns projetos importantes para conter a fúria das águas no período de chuvas foram para a gaveta ou entraram para as estatísticas de obras inacabadas. Uma delas é a barragem do Engenho Pereira, essencial para o controle do rio Jaboatão, evitando enchentes em cidades como Jaboatão dos Guararapes e Moreno. 

Localizada em Moreno, a obra, de responsabilidade do governo do estado, começou a ser implantada em 2013 e está parada desde 2014. Foram investidos R$ 50 milhões em desapropriações e terraplenagem, sem grande evolução do projeto, que terá capacidade para 25 milhões de metros cúbicos de água. São necessários mais R$ 50 milhões para a conclusão.

Novela
Em maio de 2017, o Movimento Todos Juntos Pela Barragem de Moreno chegou a organizar um abaixo-assinado cobrando a construção da barragem e houve uma reunião da bancada federal de Pernambuco com o ministério da Integração Nacional para tentar articular o apoio do governo federal ao projeto. 

No início de 2018, os então prefeitos de Jaboatão dos Guararapes, Anderson Ferreira, e Moreno, Vavá Rufino, tiveram uma reunião na Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa), solicitando a retomada das obras.

Em junho de 2022, a paralisação do projeto foi discutida na Assembleia Legislativa e, na sequência, houve o envio de uma comunicação da Alepe ao Governo de Pernambuco e Compesa, com a mesma cobrança.

O capítulo mais recente dessa novela foi uma reunião, realizada em junho passado, entre o Instituto de Terras e Reforma Agrária do Estado de Pernambuco (Iterpe), o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e a Compesa para retomar os estudos técnicos sobre a barragem.

Até o momento, não há previsão para o retorno das obras da represa. A Secretaria Estadual de Recursos Hídricos e Saneamento informou que a barragem Engenho Pereira está sendo objeto de estudo de modelagem econômica para definição da forma mais adequada para a conclusão da obra. Ainda neste semestre será definido o arranjo mais viável para a retomada dos serviços, segundo a secretaria.

 

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