saúde

Tendência do TikTok esgota remédio para diabetes nos Estados Unidos

Usuários da rede social estão usando injeção que mantém os níveis de açúcar no sangue controlados para emagrecer; prática tem gerado danos a diabéticos no país

DiabetesDiabetes - Foto: Freepik

A nova "trend" que está viralizando entre americanos no TikTok tem causado prejuízos a pacientes com diabetes tipo 2 no país. Com o objetivo de emagrecer, usuários da plataforma de vídeos começaram a relatar, há quatro meses, suas experiências com a semaglutida — também conhecida como Ozempic — para a perda de peso. O medicamento antidiabético, no entanto, é usado para manter os níveis de açúcar no sangue sob controle. De acordo com a rede de televisão a cabo Bloomberg, a prática viralizou tanto que o remédio está em falta nos estoques dos Estados Unidos, segundo o banco de dados mantido pela "Food and Drug Administration", uma agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos do governo.

Dentre os relatos de pacientes ouvidos pelo veículo, há vários casos de pessoas à espera da chegada de novas levas da medicação às farmácias locais. A febre é tão grande que medicamentos alternativos para o tratamento de diabéticos também estão esgotados. Em alguns casos, quando se encontra outros tipos de comprimidos, eles não são cobertos pelos planos de saúde, e é preciso pagar a parte para obtê-los.

No país, há mais de 35 milhões de pessoas diagnosticas como diabetes tipo 2 atualmente. A prática médica de prescrever semaglutida para emagrecimento não só gerou a escassez da droga, como acrescentou mais empecilhos ao gerenciamento de uma doença crônica já complicada e cara. A situação também expôs as deficiências no uso de prescrição "off-label" nos Estados Unidos, que permite aos médicos indicarem medicamentos para tratar uma condição diferente daquela que consta na bula aprovada pelos órgãos reguladores.

A Ozempic faz parte de uma classe de medicamentos para diabetes conhecidos como agonistas do receptor GLP-1, que existem há quase duas décadas. Ela oi aprovado pela primeira vez nos EUA em 2017 para uso em pessoas com diabetes tipo 2. O remédio age no corpo imitando um hormônio ligado ao apetite e a alimentação, ajudando a estimular a produção de insulina e, assim, a diminuir os níveis de glicose no sangue do indivíduo. Muitas vezes, por consequência, essa ação também os leva a perder peso.

Sem a utilização correta de medicação, pacientes com diabetes podem correr maior risco de doenças cardíacas, ataques cardíacos, infecções por covid-19, incapacidade e até morte, segundo Francisco Prieto, um médico de família na cidade de Sacramento, Califórnia. O especialista conta que atende ao menos uma pessoa com diabetes por semana, e relata estar tendo problemas para preencher receitas de Ozempics.

Embora obter uma receita diferente da usual possa ser uma opção para o cenário vivido pelos americanos, a mudança pode vir com novos obstáculos, incluindo cobertura de seguro e monitoramento mais próximo caso a alternativa não funcione tão bem quanto a medicação de costume.

No TikTok, alguns vídeos com a hashtag Ozempic já foram vistos mais de um milhão de vezes. Os chamados "spas médicos" oferecem a receita juntamente com injeções de Botox e até depilação a laser. Há ainda anúncios patrocinados no Google prometendo perda de peso sem exercícios ou dietas. Entre os casos mais famosos, há uma cirurgiã plástica que se gaba no Facebook de ter usado o remédio para perder 10 quilos obtidos durante a infecção por coronavírus. Na propaganda, ela convida os internautas a ligarem para o consultório para dar início ao tratamento.

Com as interrupções periódicas no fornecimento a usuários novos e antigos da Ozempic, um representante da fabricante "Novo Nordisk", que distribui o antidiabético no país, disse em comunicado que os problemas devem continuar até janeiro. A empresa cita umademanda incrívele limitações de capacidade de curto prazo em algumas fábricas, e disse que está investindo para aumentar a produção.

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