Tensão extrema no Líbano após confrontos violentos em Beirute
As formações xiitas acusam o partido cristão Forças Libanesas de ter posicionado franco-atiradores nos telhados de edifícios próximos ao Palácio de Justiça
O Líbano enterra nesta sexta-feira (15), em um ambiente tenso, as vítimas dos confrontos de quinta-feira (14), os mais violentos em muitos anos e que abalaram o centro de Beirute, provocando o temor de uma guerra civil.
Ao menos cinco das sete vítimas fatais pertencem aos dois partidos xiitas, o Hezbollah pró-Irã e seu aliado, o movimento Amal, que organizaram na quinta-feira um protesto diante do Palácio de Justiça de Beirute para exigir a substituição do juiz responsável pela investigação sobre a explosão no porto da capital, no ano passado.
As formações xiitas acusam o partido cristão Forças Libanesas de ter posicionado franco-atiradores nos telhados de edifícios próximos ao Palácio de Justiça. Também afirma que estes abriram fogo contra seus militantes, que se aproximavam dos bairros cristãos vizinhos.
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As Forças Libanesas negaram as acusações, exigiram uma investigação oficial e acusaram o Hezbollah de "invasão" aos bairros cristãos.
O jornal Al Akhbar, próximo ao Hezbollah, publicou na primeira página de sua edição desta sexta-feira (15) uma imagem do líder do partido cristão, Samir Geagea, com um uniforme nazista e um bigode similar ao de Hitler, acompanhado da frase: "Não há dúvida".
"Samir Geagea, você foi o primeiro a saber o que aconteceu ontem (..) porque você planejou, preparou e executou um grande crime", acusa o jornal. O partido cristão é um grande rival da formação pró-Irã.
A tensão é palpável nesta sexta-feira, dia de luto nacional, apesar da presença do exército libanês nos bairros dos confrontos.
Na quinta-feira, centenas de milicianos do Amal e do Hezbollah seguiram até as ruas do bairro de Tayouné, perto do Palácio de Justiça, nos arredores da antiga linha de demarcação durante a guerra civil (1975-1990) entre os bairros muçulmanos e cristãos de Beirute.
As circunstâncias exatas dos confrontos continuam confusas. O exército menciona "tiroteios quando os manifestantes seguiam para um protesto diante do Palácio de Justiça". O ministro do Interior, Bassam Mawlawi, afirmou que "franco-atiradores" abriram fogo contra os manifestantes.
Os tiros aterrorizaram os libaneses e muitos recordaram a guerra civil que acreditavam ter ficado definitivamente no passado.
A Rússia pediu "moderação" às forças políticas no Líbano. A França também pediu calma e o governo dos Estados Unidos expressou apoio "à independência do Poder Judiciário" no Líbano.
O porta-voz da ONU, Stéphane Dujarric, fez um apelo e pediu o "fim dos atos de provocação". Também defendeu uma "investigação imparcial" da explosão do porto, que aconteceu em agosto de 2020.
Crise de governo
Duas vítimas são integrantes do influente Hezbollah e três do movimento Amal. Uma libanesa, mãe de cinco filhos, morreu ao ser atingida por uma bala perdida quando estava em casa.
O ministério da Saúde informou que 32 pessoas ficaram feridas.
Hezbollah e Amal exigem a destituição do juiz Tareq Bitar, responsável pela investigação da explosão no porto de Beirute, ocorrida em 4 de agosto de 2020 devido à grande quantidade de nitrato de amônio armazenada de forma irregular no local.
O balanço da tragédia foi de pelo menos 214 mortos, mais de 6 mil feridos e vários prédios da capital libanesa destruídos.
O Hezbollah e seus aliados consideram que o juiz está politizando a investigação. Na terça-feira, o magistrado emitiu uma ordem de prisão contra um deputado e ex-ministro membro do Amal e foi criticado por vários políticos, o que o obrigou a paralisar novamente a investigação.
A justiça libanesa rejeitou as demandas e autorizou o prosseguimento do trabalho, o que motivou os protestos de quinta-feira (14).
O tema está prestes a provocar a implosão do recém-formado governo libanês, após um ano de bloqueio político. Na terça-feira, ministros de partidos xiitas pediram a substituição do juiz e o governo não voltou a se reunir desde então. Enquanto Amal e Hezbollah exigem que o governo se pronuncie a respeito, os demais integrantes do gabinete defendem a separação de poderes.