Terceira dose de vacina anti-Covid deve priorizar imunodeprimidos, diz OMS
Organização enfatizou que "administrar a primeira e segunda doses em países com baixas taxas de vacinação continua sendo a prioridade"
A direção-geral da OMS voltou a pedir que os países adiem ao menos até o final de setembro reforços de vacinação contra Covid e disse que os dados conhecidos até agora justificam sua aplicação apenas em pacientes imunodeprimidos.
"Distribuir e administrar a primeira e a segunda doses em países com baixas taxas de vacinação continua sendo a prioridade", afirmou nesta terça (31) a entidade à Folha, em resposta sobre a diferença de posição expressa na segunda por sua seção europeia.
O diretor regional da OMS na Europa, Hans Kluge, havia afirmado que "uma terceira dose da vacina não é um reforço de luxo retirado de alguém que ainda está esperando pela primeira injeção; é basicamente uma forma de manter os mais vulneráveis seguros".
Na semana passada, a vacinação de reforço foi descrita como um "erro técnico, moral e político" pelo diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus. Adotada no Brasil para idosos, ela também foi anunciada por mais de 30 países no mundo.
Segundo a direção-geral da agência da ONU, para pessoas em boa forma e saudáveis as terceiras doses são "um item de luxo" e impedem que se atinja a meta de vacinar ao menos 10% da população de cada país até o final de setembro.
"Quando os suprimentos globais são tão limitados, quando bilhões de pessoas ainda não receberam nenhuma dose, devemos nos concentrar em administrar a primeira e a segunda doses", diz a nota.
O pedido de adiamento das campanhas de reforço exclui "pessoas imunocomprometidas que não responderem suficientemente às suas doses iniciais ou não estiverem mais produzindo anticorpos", pois, de acordo com a OMS, "dados emergentes" mostram que, nesses casos, o reforço pode salvar vidas.
Também pode ser aberta uma exceção para países envolvidos no esforço global de fazer chegar imunizantes a outros países.
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" Se as terceiras doses são priorizadas para aqueles em maior risco, enquanto o acesso global às vacinas aumenta -como por meio de ampliação da produção e doação de doses para a Covax [consórcio que centraliza a compra e distribuição de imunizantes para mais de 100 países no mundo], então eles não devem ser vistos como privando outras pessoas de suas primeiras doses", afirma o comunidado da entidade.
Segundo a OMS, suas recomendações serão alteradas com base em estudos científicos. "Ainda estamos descobrindo mais sobre a duração e a força da proteção de diferentes produtos de vacinas em diferentes populações. Também não sabemos a segurança da administração de doses além do número administrado em ensaios clínicos."
Na segunda, Kluge reconheceu que não há evidências conclusivas, mas afirmou que a melhor forma de lidar com isso em política pública é comunicar de forma transparente que ainda faltam dados, indicar quais os riscos e benefícios e não adotar a vacinação como a única arma contra a pandemia.
Medidas como testes em grande escala, combate a aglomerações e uso de máscaras quando o distanciamento não é possível devem ser mantidas, mesmo com vacinação abundante e adoção de reforço, disse o diretor regional da OMS/Europa.
De acordo com a seção europeia, as decisões sobre as doses de reforço devem ser tomadas de acordo com o contexto de cada país, levando em conta a situação epidemiológica, o avanço da campanha de vacinação e a disponibilidade de vacinas.
Como exemplo, em um local em que a grande maioria da população esteja completamente imunizada, o número de casos entre vulneráveis esteja crescendo e haja vacinas disponíveis para todos, a terceira dose pode ser recomendada.
Na entrevista, que foi feita em conjunto com o Unicef (agência da ONU para crianças), a OMS/Europa também exortou os governos a elevarem a prevenção do contágio em escolas neste início de ano letivo no hemisfério Norte, evitando ao máximo suspender aulas.
Entre os cuidados estão garantir que professores e funcionários estejam vacinados e imunizar também crianças vulneráveis com mais de 12 anos. Ventilação das salas, turmas menores, testes regulares, distanciamento físico, com uso de máscara quando ele não for possível, também são recomendados.
"A pandemia causou a interrupção mais catastrófica da educação da história. É vital que a aprendizagem em sala de aula continue ininterrupta, para a educação, saúde mental e habilidades sociais das crianças", afirmou Kluge.
A entidade também pediu que governos e colégios evitem interromper aulas presenciais sempre que aparecer um caso de Covid. "Contágios são esperados, pois escolas são locais de convívio. Mas o ideal é fazer testes amplos e regulares e isolar apenas casos confirmados", diz o diretor.