TECNOLOGIA

TikTok ajuda a "normalizar" misoginia entre meninos adolescentes, mostra estudo

Pesquisadores afirmaram que o alerta deve se estender para várias plataformas de mídia social, incluindo as da Meta (como Instagram e Facebook) e YouTube (da Google)

TiktokTiktok - Foto: Reprodução: Pinterest

Algoritmos do TikTok estão ajudando a "normalizar" discursos misóginos entre adolescentes, que são cada vez mais expostos a vídeos com conteúdo negativo on-line sobre mulheres, relacionamentos e masculinidade, mostrou um estudo conduzido pela University College London e a Universidade de Kent, divulgado no início da semana.

De acordo com a pesquisa, houve um aumento de quatro vezes no nível de conteúdo misógino apresentado na página "Para Você" ("For You") — a primeira que se vê ao abrir o TikTok e que se adapta rapidamente às preferências do usuário — em apenas cinco dias de testes. No total, foram analisados mais de 1.000 vídeos em um período de uma semana.

Para examinar como diferentes perfis de usuários poderiam ser expostos a esse tipo de conteúdo na plataforma, os pesquisadores primeiro entrevistaram meninos jovens de alguma forma envolvidos na disseminação de conteúdo on-line radical em outras mídias sociais, como o Discord. O objetivo era criar, com base nessas entrevistas, "arquétipos" para representar adolescentes suscetíveis à radicalização.

Em seguida, foram criadas contas no TikTok para cada um dos quatro "arquétipos" definidos, observando quais vídeos seriam sugeridos pelo algoritmo do aplicativo durante o período de análise. Eles incluíam usuários "experimentando o isolamento ou solidão"; usuários "focados no desenvolvimento de conhecimento sobre saúde mental"; usuários focados em "masculinidade e conselhos de relacionamentos"; e, por fim, usuários interessados em "conteúdo generalizado sobre os direitos dos homens".

Inicialmente, os recomendados refletiam os interesses de cada uma dessas contas recém-criadas. Contudo, após cinco dias, houve um aumento significativo na oferta de vídeos com conteúdo abertamente misógino, passando de 13% para 56%.

Os critérios para classificar vídeos como misóginos incluíam: estereótipos e objetificação das mulheres, afirmação da superioridade dos homens, abuso, assédio sexual e ameaças de violência, e difamação. Entre os exemplos de postagens misóginas analisados pelo estudo, havia uma predominância daquelas dedicadas a oferecer dicas sobre como atrair mulheres, sobre "a arte da sedução" e criticando comportamentos femininos usando estereótipos e pseudo-psicologia.

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Diante dos resultados, os pesquisadores defenderam uma abordagem de "dieta digital saudável" para lidar com o problema, em vez de proibições totais de telefones ou mídias sociais, que "provavelmente serão ineficazes". Além disso, embora a análise tenha explorado apenas como o sistema de recomendação do TikTok opera, os pesquisadores afirmaram que o alerta deve se estender para várias plataformas de mídia social, incluindo as da Meta (como Instagram e Facebook) e YouTube (da Google).

Em resposta, a chinesa ByteDance, proprietária do TikTok, contestou o estudo, afirmando que havia "limitações de amostragem" e que não foram compartilhados exemplos de conteúdo misógino para revisão. "A misoginia é proibida há muito tempo no TikTok e detectamos proativamente 93% do conteúdo que removemos por violar nossas regras sobre ódio", disse um porta-voz do TikTok em comunicado. "A metodologia usada neste relatório não reflete como as pessoas reais experimentam o TikTok", acrescentou.

Polêmicas
Há muito o TikTok, que tem mais de um bilhão de usuários em todo o mundo, tem sido alvo de críticas (sobretudo nos Estados Unidos) de pais e profissionais da educação, que levantam cada vez mais preocupações sobre como o TikTok pode estar prendendo as crianças ao aplicativo e fornecendo conteúdo impróprio.

Nos EUA, por exemplo, uma coalizão de mais de 40 procuradores-gerais estaduais está investigando o tratamento dado pelo TikTok aos jovens usuários. A investigação bipartidária, anunciada no ano passado e liderada pelos estados Tennessee e Colorado, procura determinar se a empresa se envolveu em conduta injusta e enganosa que prejudicou a saúde mental de crianças e adolescentes.

O TikTok também enfrenta uma série de possíveis proibições. No ano passado, foi adicionado a um lista de empresas de tecnologia com prazo determinado para cumprir as regras rigorosas dos mercados digitais da União Europeia (o Regulamento Geral de Proteção de Dados, ou GDPR). Além do escrutínio na UE, parlamentares americanos já propuseram vários projetos de lei que poderiam bloquear o aplicativo.

Adicionalmente, o aplicativo também já foi proibido em dispositivos governamentais, por questões de segurança, em diversos países, tais como a Austrália, Estados Unidos, Canadá, Nova Zelândia, Reino Unido, França e Holanda, além da Comissão Europeia.

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