JUSTIÇA

TJPE abre portas para Instituto Banco Vermelho, de enfrentamento à violência contra mulher

Segundo dados do Anuário do Fórum Brasileiro da Segurança Pública, a cada hora 26 mulheres são vítimas de violência no Brasil

Banco do projeto instalado em frente ao Fórum Thomaz de Aquino Cyrillo Wanderley na tarde desta quarta-feira (20)Banco do projeto instalado em frente ao Fórum Thomaz de Aquino Cyrillo Wanderley na tarde desta quarta-feira (20) - Foto: Walli Fontenele/Folha de Pernambuco

O Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) abriu as suas portas para o Instituto Banco Vermelho (@bancovermelho), na tarde desta quarta-feira (20), por meio da inauguração de um assento do projeto em frente ao Fórum Thomaz de Aquino Cyrillo Wanderley, localizado no bairro de Santo Antônio, na área central do Recife. 

Com a iniciativa, Pernambuco se torna protagonista de mais uma causa social no cenário da Justiça do Brasil.

Na parte interna do fórum, a campanha também se faz presente com a colocação de um tecido do Movimento Banco Vermelho em alguns assentos das 3ª e 4ª Varas do Tribunal do Júri da Capital, como forma simbólica de reforçar o objetivo da causa. Essas duas unidades são responsáveis por julgamentos de crimes dolosos contra a vida, a exemplo de feminicídios.

No acessório, estão quatro telefones que podem ser acionados em casos de violência. O da Polícia Militar, 190; da Central de Atendimento À Mulher, 180; da Ouvidoria da Mulher de Pernambuco, 0800 281 8187; e da Coordenadoria da Mulher do TJPE, (81) 31820857.

Assentos internos de Varas do Fórum também ganham destaque para a causa | Foto: Walli Fontenele/Folha de Pernambuco

Antes de o banco ser inaugurado na calçada, estiveram reunidos para anunciar a novidade o presidente do TJPE, desembargador Luiz Carlos de Barros Figueirêdo; a coordenadora da Mulher do TJPE, desembargadora Daisy Andrade; o corregedor-geral da Justiça, desembargador Ricardo Paes Barreto; o coordenador Criminal do TJPE, desembargador Mauro Alencar; e o diretor-geral da Escola Judicial (Esmape), desembargador Francisco Bandeira de Mello.

Representando o Instituto Banco Vermelho, marcaram presença as diretoras Andrea Rodrigues e Paula Limongi.

Apresentação da iniciativa, minutos antes da inauguração do banco, na área externa | Foto: Walli Fontenele/Folha de Pernambuco

Diretora do Banco Vermelho, Andrea Rodrigues ressalta a importância da implantação dos assentos onde casos de violência contra a mulher são julgados.

“Esse assento é muito representativo e simbólico, porque aqui acontecem julgamentos de crimes de feminicídio, e você ter um elemento de luta é imprescindível. É preciso lutar agora para a gente não ter que lutar por justiça. A prevenção é o caminho e essa casa está sendo a primeira do Brasil a receber, e isso é um passo muito importante, mostrando exatamente a nossa tendência do Recife e de Pernambuco em sempre ser primeiro lugar em resistência”, diz.

A iniciativa ter um banco como objeto central não é à toa. Entre as referências de inspiração para isso, está o educador e filósofo recifense Paulo Freire, tido como Patrono da Educação Brasileira. “Como fã absoluta de Paulo Freire, costumo dizer que ele ensinava através do cotidiano e das pessoas, e o banco está no cotidiano e no caminho. Na praça, você vai se deparar com o banco e ele vai chamar atenção com a cor vermelha, que representa o sangue de mulheres que foi derramado em muitos feminicídios. Ele continua cumprindo a função dele, mas chama para ir além, levantar e agir”, projeta.

Diretora faz menção aos outros tipos de violência contra mulher, para além da física | Foto: Walli Fontenele/Folha de Pernambuco

Revelando inspiração em uma situação próxima para o início do projeto, ela faz um paralelo entre prevenir a violência e brigar por justiça. “Eu transformei o luto em luta. Passei por um processo que durou quatro anos e meio. Lutei por justiça pelo assassinato da minha amiga, e no final daquele julgamento eu entendi que fizemos justiça, mas que nada a traria de volta. Esse chamado é para a reflexão e prevenção. Para lutar agora e não ter que lutar por justiça depois”, alerta.

Por fim, a diretora chama atenção para violências que fogem da física, e em mais uma vez traz sua amiga como exemplo.

“Ele não fala só de feminicídio, mas de muitos tipos de abusos, que são cometidos e muitas mulheres nem se dão conta. Não é apenas a física não. O assassino da minha amiga nem encostou a mão nela. Existe a violência psicológica e a patrimonial. O silêncio não é uma possibilidade, ele só favorece o agressor. É preciso quebrar esse silêncio. As mulheres não estão sozinhas”, afirma.

Prevenir é melhor que remediar
Coordenadora da Mulher do TJPE, a desembargadora Daisy Andrade avalia a inauguração e menciona a presença de núcleos dentro da Justiça, que têm objetivo de impedir que o número de crimes contra a mulher aumentem.

“É um momento bem significativo. Quando o caso chega para nós, tudo já aconteceu. Existem as coordenadorias para que a gente consiga trabalhar em forma de prevenção”, pontua.

Desembargadora cita medidas de prevenção à violência contra mulher na Justiça | Foto: Walli Fontenele/Folha de Pernambuco

Inspiração para mais
Também incentivando a ação, a juíza Roberta Viana Jardim, por sua vez, expande a presença do Banco Vermelho para outros espaços.

“Já comecei a pensar numa ideia de ‘canto vermelho’ em cada fórum, para que cada mulher possa se esclarecer e saber o que está acontecendo ao seu redor”, frisa.

Juíza quer expandir iniciativa para outros espaços da Justiça | Foto: Walli Fontenele/Folha de Pernambuco

Com apoio dos homens
A batalha contra a violência à mulher e o empoderamento feminino devem acontecer em conjunto com os homens. E o desembargador Ricardo Paes Barreto faz questão de resgatar isso, inclusive de forma prática na rotina da Corregedoria-geral.

Papel dos homens na luta de combate à violência contra mulher é evidenciado | Foto: Walli Fontenele/Folha de Pernambuco

"É uma oportunidade de empoderar ainda mais as mulheres. Esse é um tema de suma importância. Eu sempre me preocupei com esse tema. O empoderamento feminino é uma realidade aqui no Brasil. Faço questão de tratar a minha equipe com paridade. Na nossa Corregedoria, 63% dos cargos de gestão são exercidos por mulheres”, exemplifica.

Banco Vermelho
O Instituto Banco Vermelho tem por objetivo apoiar mulheres e familiares em memória de vítimas, além de provocar a sociedade a respeito do combate à violência contra a mulher e ao feminicídio, incentivando que as pessoas sentem nos bancos, pensem sobre o assunto e ajam com relação ao que vivenciam na coletividade. Dessa forma, busca ampliar canais de denúncia de violência contra a mulher. Cada banco possui um QR Code que, acionado via celular, direciona informações.

Dados
Segundo dados do Anuário do Fórum Brasileiro da Segurança Pública, a cada hora 26 mulheres são vítimas de violência no Brasil. Em 2022, foram registrados 1.437 casos de feminicídio em todo o território nacional.

Denuncie
Para denúncias de violência contra a mulher, basta entrar em contato com a Central de Atendimento à Mulher através do número 180. O serviço funciona 24h para todos os lugares do Brasil, em todos os dias.

Além da ligação, também é possível denunciar através do aplicativo de mensagens WhatsApp, sendo necessário adicionar o contato à agenda através do (61) 996-100-180.

No segundo formato, o atendimento será conduzido por uma atendente virtual, apelidada de “Pagu”, em homenagem à escritora feminista Patrícia Galvão, que morreu em 1962. A orientação é de que o contato seja salvo com o nome “Pagu” ou de outra forma para garantir discrição. Caso o agressor tenha acesso ao celular, também há a orientação de que as mensagens trocadas sejam apagadas após o envio.

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