"Toda a Venezuela foi para as ruas": Machado lidera protesto contra posse de Maduro
Os chavistas também convocaram um ato paralelo para apoiar Maduro, que na sexta-feira assumirá seu controverso terceiro mandato consecutivo de seis anos
A líder da oposição na Venezuela, María Corina Machado, saiu da clandestinidade para liderar, nesta quinta-feira (9), um protesto contra a posse do presidente Nicolás Maduro. "A Venezuela é livre!", exclamou diante dos manifestantes na véspera da posse do governante chavista.
Vestida de branco e com uma bandeira em cima de um veículo, Machado chegou na concentração no bairro comercial de Chacao, em Caracas. Sua última aparição pública havia sido em 28 de agosto, um mês após as eleições que a oposição afirma que Maduro "roubou" de seu candidato Edmundo González Urrutia.
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"Hoje toda a Venezuela foi para as ruas", celebrou Machado diante de milhares de apoiadores, com quem antes cantou o hino nacional. "Não temos medo!", repetiu, seguindo o coro dos manifestantes.
"Chegamos até aqui porque tivemos uma estratégia robusta", continuou. "A partir de hoje, estamos em uma nova fase. A Venezuela é livre, vamos continuar."
Os chavistas também convocaram um ato paralelo para apoiar Maduro, que na sexta-feira assumirá seu controverso terceiro mandato consecutivo de seis anos, em meio a uma nova onda de prisões de opositores e líderes da sociedade civil que gerou condenação internacional.
A cerimônia de posse presidencial está marcada para sexta-feira no Parlamento, controlado pelo chavismo. González, que pediu asilo na Espanha em 8 de setembro após ser alvo de um mandado de prisão, declarou que deseja voltar à Venezuela para assumir o poder.
"Nos veremos muito em breve em Caracas, em liberdade", prometeu González em um evento na República Dominicana, última parada de um giro que anteriormente o levou à Argentina, Uruguai, Estados Unidos e Panamá.
Seu próximo destino é incerto: González quer voar para a Venezuela e assumir o poder, mas o plano parece improvável.
As autoridades venezuelanas – que oferecem 100 mil dólares (R$ 613 mil) por sua captura – já advertiram que, se ele desembarcar no país, "será preso imediatamente" e seus acompanhantes internacionais tratados como "invasores".
"Deixar a pele!"
As ruas de Caracas acordaram tomadas por forças de segurança fortemente armadas e no meio da manhã pareciam desertas. O governo, que frequentemente denuncia planos dos Estados Unidos e da Colômbia para derrubar Maduro, anunciou a captura de dois americanos - "um funcionário de alto escalão do FBI" e "um funcionário de alto escalão militar" - os quais vinculou a um golpe de Estado, o que Washington nega.
A presença da oposição aumentou com o passar das horas, mas é pequena em comparação com os grandes atos de campanha: há medo, instaurado em julho, depois da repressão brutal das manifestações que eclodiram após a proclamação do governante de esquerda, com um saldo de 28 mortos, quase 200 feridos e mais de 2.400 detidos.
Dezenas de policiais e agentes de inteligência foram mobilizados em pontos de encontro da oposição, onde os chavistas também montaram plataformas pomposas com música alta.
"Não há plataforma que resista à esperança", gritou uma mulher em Chacao. "Eles são o passado!".
"Pelos meus filhos, deixarei minha pele no asfalto, mas valerá a pena porque a Venezuela será livre", disse Rafael Castillo, de 70 anos.
A marcha chavista partiu do enorme complexo de favelas de Petare carregando cartazes e bandeiras.
"O único presidente eleito neste país se chama Nicolás Maduro, o povo o elegeu e o povo o apoia", disse Noeli Bolívar, de 28 anos, à AFP.
Milhares marcharam em todo o país. Opositores e chavistas realizaram manifestações em outras cidades, como Ciudad Guayana, no estado minerador de Bolívar (sul), e San Cristóbal, no estado de Táchira, na fronteira com a Colômbia.
Ao terminar seu discurso, o caminhão circulou até que Machado conseguiu descer e subir em uma moto. A líder opositora desapareceu em meio à multidão, e seus seguidores ficaram felizes.
"María Corina não teve medo deles, e estamos aqui com ela até o fim", disse um homem ao celular enquanto gravava um vídeo para sua família.