Toneladas de peixes mortos chegam à areia de praia no Rio, consequência da poluição na região
'Transformamos lagoas em latrinas', diz biólogo Mario Moscatelli
Toneladas de peixes mortos tomaram as águas da Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, nesta quinta-feira (24). Segundo o biólogo Mario Moscatelli, o "fundo pútrido" das lagoas de Jacarepaguá está tomado por sedimentos, lixo e esgoto, por isso, basta uma ressaca para remexê-lo. Depois de morrerem nas lagoas, os peixes estão sendo levados para as praias dos Amores e da Barra, junto do Quebra-Mar.
Com pouco oxigênio disponível nas lagoas da Barra da Tijuca, por conta do acúmulo de esgoto e lixo, os peixes que habitam o local não precisam de muito para estar em perigo. E, com o histórico de poluição, a quantidade de peixes mortos nesta manhã é apenas um retrato disso.
"Não é questão de falta de dinheiro, é falta de vontade política de atacar as causas da degradação: crescimento urbano desordenado e falta de saneamento universalizado. Nós transformamos bacias hidrográficas em valas de esgoto e lagoas em latrinas", observa Mario Moscatelli, biólogo que, mais uma vez, denuncia esse tipo de situação.
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"Nós tivemos promessas de melhorias ambientais para os Jogos Pan-Americanos, que não aconteceram, depois vieram os Jogos Olímpicos, com mais promessas, e praticamente nenhuma aconteceu".
O biólogo — que acompanhou pessoalmente o trabalho de retirada dos peixes mortos — explica que, quando acontece uma ressaca, as águas do mar remexem o fundo das lagoas, o que elimina metano e gás sulfídrico, além de consumir o pouco oxigênio ainda existente ali. Mortos nas lagoas da Barra da Tijuca, os peixes percorrem o Canal da Joatinga e, assim, chegam à praia. Moscatelli estima que 6 toneladas de tainhas, robalos, carapicus e sardinhas, todos mortos, tenham sido removidas na praia nesta manhã. A preocupação agora é com as espécies que sobreviveram ali, como os caranguejos que, assim como os peixes, vivem na água suja.
"Agora, cabe a quem assumiu a responsabilidade de fazer o saneamento nesta região resgatar esse imenso passivo ambiental, que não vai ser resgatado de uma hora para a outra, pois o monstro que foi criado durante décadas por impunidade e omissão é gigantesco. O meio ambiente neste país aqui está para ser consumido até a sua exaustão. Fico na dúvida do que vamos deixar para os nosso filhos e para as próximas gerações".
Já a Comlurb calcula ter coletado uma tonelada e meia de peixes mortos só na praia da Barra da Tijuca nesta manhã.