Toque de recolher no Sri Lanka após violência e renúncia do primeiro-ministro
Foram registradas cinco mortes em novos protestos pela grave crise econômica do país
As autoridades do Sri Lanka mobilizaram milhares de soldados e policiais nesta terça-feira (10) para aplicar um toque de recolher em todo o país, depois da morte de cinco pessoas em novos protestos pela grave crise econômica do país.
Os incidentes, que também deixaram quase 200 feridos, provocaram a renúncia do primeiro-ministro Mahinda Rajapaksa, mas isto não foi suficiente para conter a indignação dos manifestantes, que tentaram invadir a residência oficial do ex-chefe de Governo.
Tropas armadas seguiram para o local depois que os manifestantes conseguiram passar pelo acesso principal da residência em Colombo e tentaram entrar no edifício em que Rajapaksa e sua família estavam refugiados,
"Após uma operação durante a madrugada, o ex-primeiro-ministro e sua família foram levados pelo exército a um local seguro", afirmou uma fonte das forças de segurança à AFP. "Ao menos 10 coquetéis molotov foram lançados no complexo", acrescentou.
O poder do clã Rajapaksa estremece depois de meses de apagões e escassez de produtos nesta ilha de 22 milhões de habitantes, que enfrenta a crise econômica mais grave desde sua independência em 1948.
O ex-chefe de Governo não vai fugir do país, afirmou seu filho mais velho Namal Rajapaksa.
"Meu pai está a salvo, está em um local seguro e se comunica com a família", declarou à AFP. "Há muitos boatos que vamos sair do país. Não vamos deixar o país".
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Mahinda Rajapaksa, de 76 anos, é o líder do clã que domina a vida política do Sri Lanka há quase duas décadas e foi presidente entre 2005 e 2015, depois de exercer o cargo de primeiro-ministro em 2004.
Apesar dos muitos pedidos de renúncia, seu irmão mais novo, o presidente Gotabaya Rajapaksa, permanece no cargo e controla as forças de segurança. Na sexta-feira, ele decretou estado de emergência para reforçar seus poderes.
Depois de semanas de protestos contra o governo, em sua maioria pacíficos, a violência tomou as ruas de Colombo na segunda-feira, quando simpatizantes de Mahinda Rajapaksa atacaram os manifestantes opositores.
"Eles nos atacaram, atacaram a imprensa, agrediram mulheres e crianças", disse uma testemunha à AFP que pediu para não ser identificada.
A polícia usou gás lacrimogêneo e jatos d'água para dispersar a multidão e declarou toque de recolher imediato na capita, que pouco depois foi ampliado para todo o país.
As autoridades anunciaram que a medida prosseguirá até a manhã de quarta-feira, com prédios públicos e privados, estabelecimentos comerciais e centros de ensino fechados.
Casas e veículos incendiados
A Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, condenou a violência no Sri Lanka e pediu às autoridades que evitem mais incidentes.
"Estou profundamente preocupada com a escalada da violência no Sri Lanka depois que os partidários do primeiro-ministro atacaram manifestantes pacíficos em Colombo", afirmou a ex-presidente do Chile em um comunicado.
Os manifestantes desafiaram o toque de recolher e tentaram se vingar dos militantes pró-governo. Dezenas de casas de apoiadores de Rajapaksa foram incendiadas, além de carros, ônibus e caminhões, em Colombo e nos arredores.
Mahinda Rajapaksa disse que renunciaria para abrir o caminho a um governo de unidade. Mas não está claro se a oposição aceitaria integrar um novo Executivo, pois já se recusou a estabelecer aliança com qualquer membro do clã familiar.
Com o sistema político do Sri Lanka, mesmo em um governo de unidade o presidente mantém o poder de nomear e demitir ministros e juízes, além de gozar de imunidade judicial.
O colapso econômico da ilha do sul da Ásia começou a ser percebido depois que a pandemia de covid-19 afetou consideravelmente as receitas do turismo e as remessas, o que levou o governo a proibir várias importações para evitar a fuga de divisas estrangeiras.
A dívida externa insustentável, calculada em 51 bilhões de dólares, forçou o governo a decretar em 12 de abril uma moratório da pagamentos.