Petrópolis: homem salvou parentes e quebrou as duas pernas fugindo de avalanche de lama
O ajudante de pedreiro também perdeu dois dentes, os óculos e o celular ao pular de muro de 4 metros de altura
Há nove dias a sala 301 da escola municipal João Pedro II é o lar de Anderson Avelar, que até a ultima terça-feira morava em uma casa no bairro Capitão Paladini, em Petrópolis. A residência tinha apenas um quarto e um banheiro e ficava no mesmo terreno de outras duas casas da família, onde também moravam sua mãe e prima. Sem ter para onde ir ele é uma das centenas de pessoas inscritas no aluguel social do governo do estado que estão desabrigados ou desalojados desde a tragédia da semana passada.
Os deslizamentos de terra durante a chuva da semana passada derrubaram todas as construções do terreno onde Anderson morava, onde moravam 13 pessoas. Ele escapou da morte por pouco: só não estava em casa pois foi ajudar vizinhos a deixarem as residências já tomadas pela água e de auxiliar sua sobrinha e prima que quase foram atingidas pelas pedras. Depois de ajudar a todos que conseguiu, Anderson ainda precisou correr o suficiente para se salvar da avalanche de lama.
As cenas da tragédia daquele dia ainda estão vivas na mente de Anderson, que também tem na pele as cicatrizes da enxurrada. Fugindo do deslizamento, ele pulou da laje da sua casa, de aproximadamente quatro metros de altura, e correu na tentativa de salvar sua vida enquanto sua casa era destruida pela lama. Na fuga, quebrou as duas pernas, dois dentes e perdeu os óculos e o celular.
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"Eu tava ajudando o povo porque na minha casa não tinha acontecido nada. Quando estava voltando pra casa vi uma barreira descendo que passou muito perto de mim, que também atingiu o muro de casa. Atravessei a lama e levei a Paulinha - minha prima, e a minha sobrinha para outro lugar. Quando estava voltando ela gritou. Pulei da laje e sai correndo com as pedras batendo em mim. Vi a lama levando a minha casa, da minha tia e da minha mãe. Foram 100 metros correndo com as pernas quebradas. Se eu recuso uma ajuda dessas, ia estar em casa e estariamos mortos" lembra Anderson apontando para as cicatrizes.
Ajudante de pedreiro, ele espera que a ajuda do governo chegue o quanto antes para poder se reerguer. Com suas pernas quebradas ele só deve conseguir voltar a andar sozinho em sete meses, segundo os médicos que o atenderam.
Não deu para pegar nada em casa. Pretendo alugar uma casinha com esse dinheiro e me recuperar. Já me inscrevi no aluguel social, mas ainda não sei quando vou sair daqui. Com o dinheiro vou tentar alugar uma casa com dois quartos para mim e minha mãe - desabafa Anderson.
O governo do estado pretende começar os pagamentos do benefício em 15 dias. O valor será de R$ 1 mil para as famílias vítimas da tragédia, sendo R$ 800 custeados pelo governo estadual e o restante, pela prefeitura.
Para quem não teve a casa destruída mas está em área de risco, o governo flexibilizou o prazo para apresentação do laudo da Defesa Civil Municipal para até 60 dias. O documento atesta a inviabilidade definitiva do retorno do morador à residência atingida.