Petrópolis: Sem opção, moradores de áreas de risco assumem risco e voltam para suas casas
Famílias se revezam em vigília noturna para alertar parentes a qualquer sinal de desabamento
Com problemas e falta de informação sobre o recebimento do aluguel social, moradores de áreas de risco em Petrópolis estão retornando para casas previamente condenadas pela Defesa Civil do município após a tragédia de Petrópolis, em 15 de fevereiro, que deixou 233 mortos e 685 ainda em abrigos. Alguns voltam para as residências pelas lembranças e pelo apego, mas a grande maioria retorna por não ter para onde ir.
No bairro Chácara Flora, um dos mais atingidos na tragédia, a Defesa Civil municipal realizou um mutirão nesta segunda-feira (14) para moradores conseguirem o registro de ocorrência (RO), constatando que suas casas foram destruídas ou tiveram a estrutura comprometida. No entanto, a grande maioria saiu sem o documento em mãos. A previsão é de que o documento fique pronto em 20 dias.
A dona de casa Carla Maia mora no bairro com o marido e os dois filhos no segundo andar da casa dos pais, que vivem no primeiro piso. O deslizamento de terra que houve no bairro passou próximo aos fundos de sua casa e ela, assim como os vizinhos, foram avisados para deixar suas casas. Como os técnicos não retornaram para dar o laudo de condenação definitiva, ela voltou com a família para casa.
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"No dia do deslizamento, o pessoal da Defesa Civil e os bombeiros vieram e mandaram todo mundo sair pois havia risco de mais deslizamentos. Eu perdi uma tia na tragédia, então saí e fiquei 15 dias na casa da minha irmã", disse Carla, que também aguarda o RO de sua casa. "Mas é difícil ficar um monte de gente na casa de uma pessoa. Como os vizinhos estavam voltando, viemos também".
Perto dali, o mecânico José Marcos Lopes escapou por um fio, já que a pedra que deslizou destruindo dezenas de casas passou próximo de onde ele morava com a esposa e um filho. Depois de passar duas noites em um abrigo, ele voltou para a casa condenada com a família. Ele conta que durante a noite, um familiar fica acordado para alertar a todos a qualquer sinal de desabamento.
"Estava muito difícil ficar no abrigo. Era muita gente numa sala, o colchonete fino em que a gente sente o chão gelado", contou José Marcos. "Na hora de dormir, um dos homens fica acordado para em caso de desabar algo, acordar todo mundo".
Devido a falta de informações, muitos moradores seguem acreditando que precisam dos registros de ocorrência para conseguir o aluguel social. A prefeitura de Petrópolis vem informando que os moradores afetados devem procurar os Centros de Referência em Assistência Social (CRAS) e fazer o cadastro para requerer o benefício.