Três dias após tragédia em Petrópolis, apenas 30% dos corpos levados para IML já foram liberados
Três dias após tragédia em Petrópolis, apenas 30% dos corpos levados para IML da cidade já foram liberados
Debaixo da chuva que cai na cidade serrana na manhã desta sexta-feira, parentes de vítimas da tragédia em Petrópolis ainda aguardam para reconhecerem e liberaram os corpos no Instituto Médico Legal (IML), que fica no subdistrito de Corrêas.
Ao menos 122 pessoas perderam a vida no temporal. No entanto, até o fim desta manhã, a Polícia Civil só conseguiu liberar 36 corpos, 25% dos 120 que já estão no instituto. Desde a última quarta-feira, pelo menos 27 pessoas já foram sepultadas no Cemitério Municipal de Petrópolis. A tragédia deixou 116 pessoas desaparecidas.
Dos 120 corpos, 79 são do sexo feminino e 41, do masculino. Vinte e um são de menores de idade, crianças ou adolescentes. Até agora, 72 corpos já foram identifcados, mais da metade dos que foram levados para o IML.
A angústia, o desespero e a raiva tem dado o tom no pátio do IML, onde muitas famílias aguardam, algumas deles há dois dias. Na tarde desta quinta-feira, uma promotora do Ministério Público estadual e uma defensora pública se reuniram com agentes da Polícia Civil e cobraram agilidade no trabalho dos profissionais da instituição.
Sem informações, as pessoas estão aguardando sentadas em cadeiras colocadas debaixo de uma lona na porta da sala lilás do IML. Vez ou outra, algum parente passa mal, por conta da emoção, e é atendido por profissionais da saúde que acompanham o trabalho em outra tenda.
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— Morreram a minha mãe, a minha filha de um ano e a minha afilhada. Liberaram o corpinho da minha pequena. Ela está no cemitério para ser velada e eu estou aqui, com o coração partido, porque tenho que liberar o corpo da minha mã . Quero enterrá-las juntas — diz uma mulher, aos prantos, sendo amparada por parentes que também acompanham no IML.
O encarregado de obras Tiago dos Reis Neves Ramos, de 34 anos, tenta, desde a tarde de quarta-feira, liberar os corpos dos irmãos Yuri Pereira Ramos, de 14 anos, Vitória Pereira Ramos, de 11, Cláudio Pereira Ramos, de 4, e a madrasta Marise Pereira de Medeiros, de 42, que morreram soterrados na última terça-feira no bairro Sargento Boening, em Petrópolis. Nesta manhã, ele reclamou da demora para as autorizações para organizar o enterro, após quase 70 horas de espera.
— A gente está sofrendo. Meu pai está em estado de choque. Ele está indo para o cemitério achando que vai enterrar os filhos e a esposa e nada. Só temos a liberação da minha madrasta e de um filho. Eu tirei eles lá dos escombros. Os corpos já foram reconhecidos. A gente vem achando que tudo está resolvido e nada — relata Tiago aos prantos.
Ele então questiona:
— Isso aumenta mais a angústia. Vamos ter que ficar o dia inteiro aqui para reconhecer as outras crianças?
O desempregado Roberto Pereira, de 52 anos, tenta liberar o corpo da mãe, a aposentada Helena Rute Pereira, de 65, que morava no Alto da Serra e foi morta após uma barreira derrubar e cobrir sua residência.
— Eu tirei a minha mãe do barro porque não tinha ferramentas. Olha o cheiro. Eles estão brincando com a gente. Já está dando cheiro de podre. Esse caminhão frigorífico não tem condições de conservar os corpos. Não tem previsão para liberarem o corpo da minha mãe. Aumenta a angústia. Estou aqui há três dias. Toda hora eles falam que estão saindo. O tempo que eles andam de helicóptero, que tragam mais legistas. Não tem recursos.
Meteorologistas apontam que segue a previsão de mais chuva forte para a Cidade Imperial. De acordo com o Climatempo, a Zona de Convergência do Atlântico Sul voltou a se organizar sobre o Brasil e suas áreas de instabilidade se espalham sobre algumas regiões do país, incluindo a Serra Fluminense. Com isso, o tempo fica instável com muita nebulosidade e pancadas de chuva frequentes, que podem ser fortes.
De acordo com a Defesa Civil municipal, núcleos de chuva fraca se deslocam em direção a Petrópolis, e a previsão é de chuva fraca a moderada nas próximas horas. Em alguns pontos da cidade, por volta das 7h30, já chove. As tempestades devem seguir até sábado na Região Serrana, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), que emitiu, na noite desta quinta, aviso vermelho de chuva intensa.