Tribunal de Belarus condena vencedor do Nobel da Paz a 10 anos de prisão
Ele foi detidos após as históricas manifestações contra a reeleição, em 2020, do presidente bielorrusso Alexander Lukashenko
Um tribunal de Belarus condenou nesta sexta-feira (3) o ativista pró-democracia Ales Bialiatski, um dos vencedores do Prêmio Nobel da Paz de 2022 — informou sua organização de defesa dos direitos humanos.
A ONG Viasna ("primavera") afirmou que outros dois ativistas julgados ao lado de Bialiatski, Valentin Stefanovitch e Vladimir Labkovitch, foram condenados a nove e sete anos de prisão, respectivamente.
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Os três foram detidos após as históricas manifestações contra a polêmica reeleição, em 2020, do presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, para o sexto mandato.
O quarto acusado, Dmitri Soloviev, julgado à revelia depois de fugir para a Polônia, foi condenado a oito anos de prisão. Todos também foram condenados a pagar multa de US$ 70.000 (em torno de R$ 364,7 mil).
"Estas sentenças monstruosas são uma vingança por defender os direitos humanos. Trata-se de uma ordem política que vem de cima deste poder ditatorial", declarou Soloviev à AFP.
Bialiatski, de 60 anos e fundador da Viasna em 1996, e os outros dois ativistas foram acusados de financiar "atividades que violam gravemente a ordem pública", segundo a ONG
Detido em julho de 2021, Bialiatski venceu o Nobel da Paz no fim do ano passado por sua defesa dos direitos humanos. Dividiu o prêmio com a ONG russa Memorial e com a organização ucraniana Centro para as Liberdades Civis.
O ativista fundou e dirigiu por vários anos a Viasna, principal organização de direitos humanos no país autoritário, governado desde 1994 por Lukashenko.
Durante as manifestações de 2020, a ONG teve um papel crucial na documentação das medidas repressivas e das detenções de manifestantes.
"Injustiça vergonhosa"
A líder opositora bielorrussa Svetlana Tikhanovskaya criticou a condenação. "Devemos fazer todo o possível para lutar contra esta injustiça vergonhosa", escreveu no Twitter.
Uma porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos pediu o fim das "perseguições" contra os opositores em Belarus.
O comitê que entrega o prêmio Nobel da Paz também condenou o veredito de "motivações políticas".
"O processo e as acusações contra ele têm motivações políticas", declarou a presidente do comitê norueguês, Berit Reiss-Andersen, em um comunicado, acrescentando que "o veredito mostra que o regime atual recorre a qualquer meio para reprimir seus opositores".
A ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baebock, chamou o processo de "farsa" e destacou que os réus foram condenados por seu "compromisso com o direito, a dignidade e a liberdade das pessoas em Belarus".
O governo da Polônia considerou a condenação "escandalosa".
Durante o julgamento, os três ativistas insistiram em sua inocência.
Bialiatski passou quase três anos preso em Belarus entre 2011 e 2014, depois de outro processo denunciado como político.
Até 1º de março, Belarus tinha 1.461 presos políticos, segundo a Viasna.
Os países ocidentais aprovaram diversos pacotes de sanções contra Belarus pela repressão aos protestos de 2020, mas o regime ainda conta com o apoio inflexível da Rússia.
Belarus aceitou servir de base de retaguarda para as tropas russas no conflito na Ucrânia. Até o momento, porém, seu Exército não participou diretamente dos combates.
Além do julgamento contra Bialiatski, outros processos foram iniciados contra ativistas do movimento democrático em Belarus. Tikhanovskaya, que vive no exílio, e vários de seus colaboradores estão sendo julgados à revelia.
Vários jornalistas do site Tut.by, principal meio de comunicação independente do país, também estão sendo julgados. Eles são acusados de fraude fiscal e de incitação ao ódio. Em 2021, o portal foi classificado como "extremista".
Em fevereiro, o jornalista e ativista Andrzej Poczobut foi condenado a oito anos de prisão.
No mesmo mês, teve início o julgamento dos três fundadores do Nexta, meio de comunicação que teve papel importante nos protestos de 2020.