Tribunal russo rejeita recurso de jovem de 15 anos condenado à prisão por criticar Putin
Investigadores alegam que adolescente Arseny Turbin, sentenciado a cinco anos de prisão, faz parte de uma organização paramilitar russa que luta pela Ucrânia, o que ele nega
O jovem Arseny Turbin tinha 15 anos quando foi preso em agosto de 2023, após autoridades russas o acusarem de se juntar a uma organização paramilitar russa que luta a favor da Ucrânia. Foi condenado a cinco anos de prisão em uma colônia juvenil. Na quinta-feira, um tribunal russo rejeitou sua apelação para anular a sentença, reduzindo-a em apenas 24 dias, informou a BBC. Turbin permanecerá na cadeia, tornando-se um dos mais jovens presos políticos.
— Eu simplesmente não entendo o juiz que proferiu a sentença — disse a mãe, Irina, à BBC.
Um outro russo, maior de idade, foi condenado a 13 anos de prisão por "alta traição" por ter apoiado financeiramente o Exército ucraniano com uma doação de R$ 305 reais, informou a agência Ria Novosti. De acordo com um tribunal de Moscou, Alexander Kraichik financiou o Exército ucraniano por "motivos de ódio político e ideológico". O veredito foi feito em 1º de novembro, mas foi publicado apenas nesta sexta-feira.
Leia também
• Rússia entrega à Ucrânia corpos de 563 soldados mortos na guerra
• Zelensky alerta que fazer concessões à Rússia seria "inaceitável" para a Europa
• Rússia afirma que julgará Trump por suas "ações"
A doação teria ocorrido dois dias após o início da guerra na Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022. Segundo o grupo de defesa dos direitos humanos Memorial, classificado como "agente estrangeiro" e banido pelas autoridades russas, o homem de 34 anos foi detido em 2023 quando se preparava para deixar a Rússia com destino à Turquia, poucos dias depois de o seu telefone ter sido confiscado.
Nove menores detidos
As autoridades russas detiveram milhares de pessoas por atos de protesto contra a ofensiva na Ucrânia, sendo as críticas efetivamente proibidas. De acordo com a organização russa de direitos humanos OVD-Info, também citada pela BBC, além de Turbin, outros oito menores também enfrentam acusações criminais com motivação política desde o início do conflito no leste europeu.
Turbin nega as acusações contra ele. Ele diz que pesquisou sobre a Legião da Liberdade da Rússia, mas que nunca se candidatou. O grupo paramilitar é formado por voluntários russos que decidiram lutar contra o Exército russo na guerra na Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022. É designado como uma organização terrorista por Moscou.
Os investigadores também alegam que o adolescente distribui panfletos com críticas ao presidente Vladimir Putin em nome da Legião da Liberdade da Rússia. Turbin admite ter distribuído o material, mas não sob ordem de alguém ou algum grupo. Ele também criticou abertamente a guerra na escola.
Seus amigos foram ouvidos por investigadores e disseram que, sim, Turbin criticava abertamente as ações da Rússia na Ucrânia, mas nenhum deles disse que o colega tinha conexão com a Legião da Liberdade da Rússia, segundo declarações vistas pela BBC.
Ainda segundo a BBC, o adolescente era politicamente ativo nas redes sociais, onde compartilhava conteúdo de figuras da oposição russa e ocasionalmente compartilhando seu próprio conteúdo. Entre eles, um vídeo no qual pode ser visto realizando um piquete solo em apoio a Alexei Navalny, principal opositor de Putin que morreu em fevereiro deste ano.
Irina também disse à rede BBC que o filho agiu por conta própria. Ela lembra como foi o dia em que o filho recebeu a sentença. Para Irina, o FSB teria posteriormente adicionado à transcrição, uma confissão de culpa que o filho nunca fez.
— Eu estava histérica, eu estava tremendo, chorando — contou, acrescentando: — Arseny me disse: 'Mãe, acalme-se, eu não cometi nenhum crime, eles vão resolver isso.'
Detenção
No fim de agosto de 2023, agentes do Serviço Federal de Segurança da Rússia (FSB) revistaram a casa de Turbin, que vive na cidade de Livny, sul de Moscou, e confiscaram seus aparelhos eletrônicos, disse a BBC. Ele foi convocado para um interrogatório no dia seguinte e acusado de se juntar ao grupo paramilitar. Foi formalmente preso na semana seguinte. De acordo com a rede, nenhum advogado estava presente durante o interrogatório, o que ela lamentou.
Turbin ficou vários meses em prisão domiciliar enquanto aguardava a sentença e, em junho, foi transferido para um centro de detenção em Moscou. Segundo a mãe, ele perdeu 17 kg devido ao estresse, que inibia sua fome. Ela também relatou que ele se fechou emocionalmente e que frequentemente questiona por que está sendo punido por algo que não fez. De acordo com a rede, ele também dividiu a cela por um tempo com um detento violento, que o atacava, batia na sua cabeça e o ameaçava.
Iriana e os professores descreveram à BBC um adolescente muito inteligente e politicamente engajado, um senso de justiça que teria sido desenvolvido após sofrer bullying pelo nome de origem árabe, vindo do pai. Turbin era apaixonado por ciência, em especial física, e economia. Sonhava em cursar ciência política na Universidade de Moscou. A mãe conta que seus vizinhos e colegas de trabalho o acusam de ter criado "um terrorista", argumentando que se ele realmente fosse inocente, não teria sido condenado. Para ela, eles não entendem bem como sistema judicial russo funciona. (Com AFP)