CONFLITO

Tropas russas são enviadas para base aérea do Níger

Junta militar instou a retirada dos mais de mil militares americanos no país; movimento marca novo ganho para Moscou, que aumentou seu foco na África

Manifestante segura cartaz exigindo retirada dos soldados americanos do Níger sem negociação. EUA enviaram delegação para capital para trabalhar em saída ordenada.Manifestante segura cartaz exigindo retirada dos soldados americanos do Níger sem negociação. EUA enviaram delegação para capital para trabalhar em saída ordenada. - Foto: AFP

Soldados russos foram destacados para uma base aérea no Níger, que também abriga tropas americanas, após a junta militar do país ter decidido expulsar as forças dos EUA, informou o secretário de Defesa Lloyd Austin, na quinta-feira (2). Em março, a junta do Níger, que tomou o poder em julho passado, informou que estava encerrando um acordo de cooperação militar com Washington, que tinha o país como um dos seus pilares estratégicos no combate aos jihadistas na África Ocidental.

O Níger enfrenta a violência dos jihadistas do Boko Haram e dos militantes da Província da África Ocidental do Estado Islâmico (EI) na região sudeste de Diffa, perto da Nigéria. Os EUA abrigavam uma base de drones americanos de US$ 100 milhões e cerca de mil soldados, mas a junta alega que o acordo foi imposto e que a presença americana era ilegal.

Washington concordou em retirar suas tropas e enviou uma delegação a Niamey para trabalhar em uma saída ordenada. Após derrubarem o presidente eleito Mohamed Bazoum, a junta do Níger também expulsou os 1,5 mil soldados da França, antiga potência colonizadora, do país.

O destacamento russo para a Base Aérea 101 na capital Niamey coloca soldados da Rússia e dos EUA em locais próximos, no momento em que Washington e Moscou estão em forte desacordo sobre a guerra na Ucrânia. Perguntado sobre isso em uma entrevista coletiva na quinta, no Havaí, Austin disse que o destacamento russo não representava uma “questão significativa... em termos de proteção de nossa força”.

"A base aérea 101, onde nossas forças [estão], é uma base da força aérea nigeriana que está localizada junto a um aeroporto internacional na capital. Os russos estão em um complexo separado e não têm acesso às forças dos EUA ou aos nossos equipamentos" afirmou.

Em Moscou, também durante uma entrevista coletiva, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, não confirmou nem negou as informações sobre a presença russa na base do Níger, dizendo apenas que a Rússia estava cultivando laços com os países africanos em todas as áreas, inclusive na de defesa.

Afastamento ocidental
Poucos dias após concordar em retirar suas tropas do Níger, os EUA também anunciaram a saída de suas tropas do Chade, enquanto os militares franceses foram expulsos no Mali e Burkina Faso. A retirada dos EUA marca um novo ganho regional para o Kremlin, que aumentou seu foco na África.

No mês passado, instrutores militares de Moscou chegaram ao Níger com um sistema de defesa aérea e outros equipamentos, informou a mídia estatal nigerina, após conversas entre o general Abdourahamane Tiani, líder militar, e o presidente russo Vladimir Putin. A Rússia também apoia regimes militares nos vizinhos em Burkina Faso e no Mali, e fez diversas promessas aos países, incluindo o fornecimento gratuito de grãos para ambos os países, além de Zimbábue, Somália e República Centro-Africana.

O Mali e a República Centro-Africana também receberam combatentes do Grupo Wagner, organização de mercenários de guerra liderada por Yevgeny Prigojin, além de manter "contatos governamentais oficiais com nossos dirigentes", segundo o ministro das Relações Exteriores russo, Sergey Lavrov.

Entre os projetos de aproximação com a África também está o investimento no hóquei, proposta que foi feita pelo vice-chefe da federação de hóquei de Moscou, Boris Rotenberg, da família de amigos de juventude de Putin, que construiu a ponte sobre o estreito de Kerch ligando a península da Criméia, ocupada pelos russos desde 2014, com a Rússia.

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