Trump afirma que perdoará invasores do Capitólio 'nos primeiros minutos' de seu novo mandato
Em entrevista à Time, presidente eleito diz vai analisar 'caso a caso'; anúncio vem no dia em que Joe Biden comutou 1,5 mil sentenças e perdoou 39 pessoas
O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, afirmou em entrevista que começará a perdoar as centenas de pessoas condenadas por participação no ataque ao Capitólio, no dia 6 de janeiro de 2021, “nos primeiros nove minutos” de seu novo mandato.
A promessa foi divulgada no dia em que o atual presidente, Joe Biden, comutou as sentenças de 1,5 mil pessoas e perdoou 39 condenados por crimes não violentos, naquele que é visto como o maior uso, em um só dia, da clemência presidencial.
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Falando à revista Time, que pela segunda vez o escolheu “Pessoa do Ano”, Trump disse que analisará “caso a caso” a situação dos invasores, determinando se agiram de forma violenta ou se havia “alguns que realmente estavam fora de controle”.
Segundo ele, o Departamento de Justiça deve começar a avaliar os processos “nos primeiros nove minutos” do novo mandato.
— A grande maioria deles não deveria estar na prisão. A grande maioria não deveria estar na prisão, e eles sofreram gravemente — disse Trump, citando casos em que, segundo ele, manifestantes violentos não foram punidos pelas autoridades com a mesma firmeza. — Se você der uma olhada no que aconteceu em Seattle (onde houve protestos contra a morte de George Floyd, em 2020), você teve pessoas morrendo, você teve muitas mortes, e nada aconteceu, e essas pessoas foram tratadas muito, muito mal.
Ao longo da campanha, Trump repetiu de forma exaustiva a promessa de libertar seus apoiadores que invadiram o Capitólio, em janeiro de 2021, para tentar impedir a confirmação da vitória de Biden na eleição do ano anterior. O republicano, como mostraram as investigações sobre o episódio, foi considerado o principal incitador, e acusado de não agir para controlar os trumpistas.
Desde então, mais de 1,2 mil pessoas foram condenadas ou se declararam culpadas, e cerca de 600 cumpriram ou cumprem penas de prisão. Trump, por sua vez, não deve ser punido na Justiça, e uma investigação do Congresso, liderada pelos democratas, foi sepultada em 2023.
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No domingo, em entrevista à rede NBC News, ele já havia sinalizado que perdoaria boa parte dos invasores.
— Vou agir muito rápido. Primeiro dia — disse Trump. — Eles estão lá há anos, e estão em um lugar imundo e nojento que nem deveria ter permissão para ficar aberto.
Na ocasião, afirmou acreditar que as pessoas que se declararam culpadas, em acordos com a promotoria, podem ter sido pressionadas pelos promotores e juízes.
— Eu conheço o sistema. O sistema é um sistema muito corrupto — afirmou. — Eles dizem a um cara: “Você vai para a cadeia por dois anos ou por 30 anos”. E esses caras estão olhando, suas vidas inteiras foram destruídas. Por dois anos, eles ficaram destruídos. Mas o sistema, é um sistema muito desagradável.
Ao ser questionado sobre os deputados que investigaram o ataque ao Capitólio, sugeriu que poderão ser processados futuramente, e definiu qual seria seu desfecho preferido.
— Sinceramente, eles deveriam ir para a cadeia.
Nas semanas que antecedem a posse de Trump, o indulto presidencial, outrora tema secundário, ganhou relevância poucas vezes vista, e não apenas por culpa do republicano.
Em seu primeiro mandato, Trump usou o poder de clemência 237 vezes, incluindo 143 perdões e 94 comutações de sentenças — a lista inclui nomes conhecidos, como o do assessor político Roger Stone; seu ex-chefe de campanha, Paul Manafort; Michael Flynn, ex-conselheiro de Segurança Nacional; e Charles Kushner, pai de seu genro, Jared Kushner, e que mais tarde se tornou embaixador dos EUA na França.
O “recorde” diário ocorreu em 19 de janeiro de 2021, horas antes de passar o posto para Biden, quando perdoou 74 pessoas e comutou as sentenças de outras 70. Entre os beneficiários da “última lista” estavam seu ex-estrategista Steve Bannon ( mais tarde preso por não colaborar com a investigação do Congresso sobre a invasão), o rapper trumpista Lil’ Wayne e Elliot Broidy, um importante doador do Partido Republicano, processado por violar as regras de lobby para empresas estrangeiras.
Trump não é o primeiro, tampouco será o último, presidente a usar indultos para beneficiar aliados ou parentes. Que o diga Joe Biden, que no dia 1º de dezembro perdoou seu filho Hunter, dono de uma longa lista de problemas com a Justiça, alegando que ele havia sido processado “de maneira seletiva e injusta” e tratado “de forma diferente” em comparação com acusados de crimes semelhantes.
“As acusações em seus casos surgiram somente depois que vários dos meus oponentes políticos no Congresso os instigaram a me atacar e se opor à minha eleição”, disse Biden em comunicado. “Ao tentar quebrar Hunter, eles tentaram me quebrar — e não há razão para acreditar que isso vai parar aqui. Já chega.”
A decisão foi criticada por republicanos e aliados no Partido Democrata, que lembraram do compromisso firmado pelo então candidato à reeleição Joe Biden de que não daria o perdão presidencial ao seu filho, condenado por mentir sobre uso de drogas ao comprar arma nos EUA.
Os advogados de Trump usaram o argumento pró-Hunter em uma moção para arquivar o único dos quatro processos criminais em que ele foi condenado, por fraude relacionada ao pagamento de suborno a uma ex-atriz pornô, e o ex-presidente citou os presos na invasão do Capitólio.
“O perdão dado por Joe a Hunter inclui os reféns de J-6 (6 de janeiro)?”, escreveu em sua rede social, a Truth Social, no começo do mês.
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Nesta quinta-feira, Biden anunciou o maior número da História de de perdões — 39 — e comutações de sentenças — quase 1,5 mil — um só dia. Os beneficiários foram condenados por crimes não violentos e, segundo a Casa Branca, “foram reintegrados com sucesso às suas famílias e comunidades”.
“Juntas, essas ações se baseiam no histórico do presidente de reforma da justiça criminal para ajudar a reunir famílias, fortalecer comunidades e reintegrar indivíduos à sociedade”, afirmou Biden, em comunicado.
Nos bastidores, o presidente e seus assessores discutem maneiras de usar o perdão para proteger potenciais alvos de perseguição judicial no governo Trump, incluindo o procurador especialJack Smith, que liderou os casos federais contra o presidente eleito, incluindo sobre o ataque ao Capitólio. No comunicado, Biden deixou no ar apenas a possibilidade de novos indultos.
“Tomarei mais medidas nas próximas semanas. Minha administração continuará revisando petições de clemência para promover justiça igualitária perante a lei, promover a segurança pública, apoiar a reabilitação e a reentrada e fornecer segundas chances significativas”, afirmou o democrata.