Logo Folha de Pernambuco
DESAVENÇA

Trump bate boca com Zelensky na Casa Branca e o chama de ingrato

Zelensky foi a Washington com a expectativa para assinatura do acordo para exploração de minerais na Ucrânia

Trump bate boca com Zelenski na Casa Branca e o chama de ingratoTrump bate boca com Zelenski na Casa Branca e o chama de ingrato - Foto: Saul Loeb/AFP

Minutos antes de uma reunião crucial para o futuro da guerra na Ucrânia, o presidente dos EUA, Donald Trump, elevou o tom com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, acusando o governo de Kiev de "jogar com a Terceira Guerra Mundial", e afirmando que ele deve "ser grato" pela ajuda americana.

As declarações, feitas na Casa Branca, evidenciam a pouca disposição de Trump de lidar com Zelensky, a quem já chamou de "ditador" há alguns dias.

Com os dois líderes sentados lado a lado no Salão Oval, cercados por membros de seus governos, Trump começou em um tom relativamente ameno, elogiando a "bravura inacreditável" das tropas ucranianas, e afirmando que elas merecem "grande crédito" por suportarem três anos de guerra.
 


Ele expressou otimismo sobre a assinatura de um acordo que dará acesso dos EUA a parte dos recursos minerais ucranianos, visto pela Casa Branca como uma forma de compensar os bilhões de dólares em ajuda financeira e militar, e que é a grande razão da visita de Zelensky a Washington.

Ao falar sobre um acordo de paz, sinalizou que Zelensky terá que fazer compromissos e concessões, sem citar o que estaria sobre a mesa, mas que eles "não seriam tão grandes como algumas pessoas estão sugerindo". Foi quando o tom começou a ficar um pouco mais tenso.

Após uma intervenção do vice-presidente americano, J.D. Vance, criticando o governo de Joe Biden por não dialogar com o presidente russo, Vladimir Putin, Zelensky citou a anexação da Crimeia pela Rússia, o apoio às milícias separatistas no leste do país e a quebra de acordos previamente assinados, uma referência aos Acordos de Minsk.

Zelensky, Trump e JD Vance - Foto: Saul Loeb/AFPZelensky, Trump e JD Vance - Foto: Saul Loeb/AFP

Vance disse que estava sendo "desrespeitoso", que não era grato o suficiente pelo apoio concedido a Kiev e lembrou de uma participação do presidente ucraniano em um evento de campanha da então candidata democrata, Kamala Harris, em setembro do ano passado.

Foi quando Trump entrou na discussão, apoiando Vance e dando início a uma troca de acusações como há muito não se via na Casa Branca diante das câmeras — se é que se viu alguma vez.

— Não nos diga o que vamos sentir. Você não está em posição de ditar o que vamos sentir. Você se permitiu estar em uma posição muito ruim. Você não tem as cartas certas agora conosco — ameaçou Trump. — Você está apostando com as vidas de milhões, você está jogando com a Terceira Guerra Mundial. E o que você está fazendo é muito desrespeitoso com este país.

As ameaças continuaram depois disso. Segundo o presidente, Zelensky "não estava sendo nada grato", , e que seria "muito difícil" negociar assim".

— Ou vocês vão fazer um acordo ou estamos fora — disse Trump. — Se estivermos fora, vocês vão lutar. Não acho que será bonito.

A troca de ofensas diante das câmeras foi mais um episódio em uma história pouco amistosa entre Trump e Zelensky. Desde a eleição do republicano, em novembro do ano passado, ele demonstra um interesse em se aproximar da Rússia, quebrando a linha adotada por Biden desde o início da guerra, enquanto trata Zelensky como um parceiro minoritário na guerra.

O clima piorou nas últimas semanas, com a resistência inicial do ucraniano sobre os termos do acordo sobre os recursos minerais, além de críticas feitas por ele a Trump — em resposta, o presidente americano afirmou, em mais de uma ocasião, que a Ucrânia era a responsável pela guerra, que Zelensky não era capaz de liderar o país e que era um "ditador", citando o fim de seu mandato, no ano passado.

A Constituição ucraniana permite que o líder siga no posto enquanto a Lei Marcial, decretada em 2022, esteja em vigor.

Veja também

Newsletter