Trump chama jornais americanos de 'corruptos' e sugere que cobertura crítica deveria ser "ilegal"
Sem provas, republicano acusa CNN e MSDNC de serem 'braços do Partido Democrata' e de atuarem coordenadamente para influenciar juízes
Em mais um ataque à imprensa, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump classificou os meios de comunicação americanos CNN e MSDNC de "corruptos", sugerindo que a cobertura crítica de ambos seria "ilegal". A declaração foi feita durante um discurso no Departamento de Justiça, nesta sexta-feira, perante secretários de Justiça e agentes de segurança.
— Acredito que a CNN e a MSDNC, que escrevem literalmente 97,6% das coisas ruins sobre mim, são braços políticos do Partido Democrata — afirmou, sem provas. — Para mim, na minha opinião, são realmente corruptos e ilegais. O que fazem é ilegal.
O republicano acusou, ainda, os meios de comunicação de influenciaram juízes como parte de uma ação coordenada.
— Isso está mudando a lei, e simplesmente não pode ser legal. Não creio que seja legal. E o fazem em total coordenação entre si — protestou.
Desde o seu primeiro mandato como presidente, de 2017 a 2021, Trump costuma atacar os meios americanos, algo sem precedentes para um líder de um país onde a liberdade de imprensa está consagrada na Constituição.
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O republicano costuma chamar os jornalistas de quem não gosta de "inimigos do povo" e os acusa de propagarem "notícias falsas".
Desde que começou seu segundo mandato em janeiro, o bilionário tem pressionado meios tradicionais. A tradicional agência de notícias americana Associated Press teve o seu acesso ao Salão Oval restringido após se negar a chamar o Golfo do México de Golfo da América, conforme imposto por Trump em um decreto. Veículos de extrema-direita pró-Trump, por sua vez, tiveram o acesso facilitado à Casa Branca.
Caça aos inimigos
Trump usou a maior parte do seu discurso como um palanque para atacar opositores, acusando o seu antecessor, Joe Biden (2021-2025), de ter transformado o Departamento de Justiça em uma "arma" contra ele. O republicano prometeu investigar seus inimigos:
— Nossos antecessores transformaram o Departamento de Justiça no Departamento da Injustiça. Estou diante de vocês hoje para declarar que esses dias acabaram e nunca mais voltarão — disse. — Precisamos ser honestos sobre as mentiras e os abusos que ocorreram dentro dessas paredes.
Durante o discurso, ele afirmou que seu governo “expulsaria os atores desonestos e as forças corruptas de nosso governo, nós iremos... expor seus crimes flagrantes e sua grave má conduta”.
Ainda na corrida eleitoral, Trump prometeu reformar o Departamento de Justiça se fosse eleito para um segundo mandato. Desde que retornou ao cargo, ele vem desmantelando o órgão, que anteriormente abriu dois processos criminais contra ele: um por conspirar para anular os resultados da eleição de 2020 — que até hoje ele se recusa a admitir que perdeu — e outro por se apropriar ilegalmente de milhares de documentos secretos ao deixar a Casa Branca em 2021.
Na primeira entrevista após a vitória: Trump diz que imprensa é 'quase tão corrupta quanto as nossas eleições' e promete 'corrigi-la'
Mas nenhum dos casos foi a julgamento. Quando Trump venceu a eleição, o advogado especial Jack Smith desistiu de ambos seguindo uma política do Departamento de Justiça de não processar um presidente em exercício.
Trump abalou o Departamento em seu primeiro dia de volta ao cargo ao perdoar mais de 1.500 apoiadores que, em um ato sem precedentes de violência política nos EUA, invadiram o Capitólio em 6 de janeiro de 2021, buscando interromper a certificação da vitória eleitoral de Biden.