Trump chama protestos violentos de 'terrorismo doméstico'
Trumo visitou a cidade de Kenosha, foco de protestos e distúrbios após um novo caso de brutalidade policial contra um homem negro
O presidente americano, Donald Trump, descreveu as manifestações violentas contra a polícia e o racismo como "terrorismo doméstico", ao visitar, nesta terça-feira, a pequena cidade de Kenosha, foco de protestos e distúrbios após um novo caso de brutalidade policial contra um homem negro.
"Estes não são atos de protesto pacífico, são terrorismo doméstico", afirmou Trump, referindo-se às várias noites de tumulto na pequena cidade, localizada em Wisconsin, estado-chave para as eleições de novembro. O presidente visitou Kenosha ignorando os pedidos em contrário feitos pelo democrata Tony Evers, governador de Wisconsin, que expressou seu temor de que a presença de Trump inflame a tensão gerada pela morte de Jacob Blake.
O magnata republicano percorreu áreas destruídas da cidade, que refletem o clima tenso das noites de manifestação, que deixaram dois mortos na semana passada. "Iremos ajudá-los", prometeu o presidente a comerciantes em frente a uma loja incendiada. "Estes homens fizeram um trabalho maravilhoso", assinalou Trump, apontando para policiais posicionados em frente a prédios destruídos.
Leia também
• Desafiando autoridades locais, Trump visita cidade onde Jacob Blake foi baleado pelas costas
• Biden acusa Trump de fomentar violência nos EUA
• Confrontos entre antirracistas e seguidores de Trump terminam com um morto nos EUA
Visita inoportuna
O prefeito de Kenosha, John Antaramian, democrata, havia dito no fim de semana que este não era um bom momento para uma visita presidencial à cidade, onde Trump reuniu-se com autoridades policiais e observou de perto os estragos. O presidente sorriu e cumprimentou apoiadores que aplaudiram sua comitiva, e foi vaiado por manifestantes do movimento contra o racismo e a violência policial Black Lives Matter. Os dois grupos trocaram ofensas e palavras de ordem.
"Esta é uma grande área, um grande estado", disse Trump posteriormente, indicando que seu governo avalia destinar pelo menos 47 milhões de dólares às forças de ordem de Wisconsin, a pequenos negócios e a programas de segurança pública. "Colocaremos Kenosha em forma novamente", garantiu o presidente.
Durante meses, Trump buscou mudar seus passos na corrida pela Casa Branca, contra o democrata Joe Biden, após ter sido deixado para trás nas pesquisas, em boa parte devido à sua gestão da pandemia de coronavírus. Às vésperas das eleições de 3 de novembro, ele se sente muito mais confortável no campo da "lei e da ordem", frente à onda de protestos contra o racismo.
Microcosmo
Kenosha, localizada às margens do Lago Michigan, no norte do país, converteu-se em um microcosmo da tensão racial e ideológica nos Estados Unidos, quase quatro anos após a chegada de Trump à Casa Branca. A cidade foi cenário de protestos do Black Lives Matter, de distúrbios e de confrontos envolvendo grupos brancos armados.
No apogeu da tensão, Kyle Rittenhouse, 17, simpatizante de milícias, supostamente matou duas pessoas a tiros durante um protesto e feriu uma terceira.
Os democratas e aqueles que pedem uma reforma policial consideram Kenosha um símbolo do racismo institucional, que leva a confrontos sangrentos entre agentes e suspeitos negros. Também afirmam que o ato de Rittenhouse revela um aumento das milícias de direita, que, de forma cada vez mais ostensiva, exibem suas armas e se comportam como agentes da lei.
O candidato democrata à Presidência, Joe Biden, acusou Trump de ser "fraco", por não pedir a seus apoiadores "que deixem de agir como uma milícia armada".
'Situação interessante'
Trump havia dito antes da visita que desejava "ver as pessoas que fizeram um bom trabalho por mim", referindo-se às unidades policiais que interromperam os distúrbios. Ele se negou a condenar a ação de Rittenhouse, que circulava pelas ruas com um rifle, o que considerou "uma situação interessante", e disse que o adolescente reagiu porque foi atacado.
Trump acusa Biden de fraqueza diante dos protestos em cidades como Kenosha e Portland, e de não denunciar suficientemente a violência de manifestantes. "Precisamos de um presidente que faça a temperatura baixar e que una o país, e não de um que aumente a temperatura e nos separe ainda mais", tuitou hoje o candidato democrata.
A visita de Trump aconteceu enquanto, em Los Angeles, eram convocados novos protestos para esta terça-feira, após a morte de um homem negro por policiais ocorrida ontem.