Sex, 26 de Dezembro

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Trump cria força-tarefa para combater preconceito anticristão nos EUA e anuncia "escritório da fé"

Medidas anunciadas na quinta-feira pelo presidente foram motivo de crítica de entidades que defendem a separação entre o Estado e a Igreja

O presidente dos EUA, Donald TrumpO presidente dos EUA, Donald Trump - Foto: Andrew Harnik/ AFP

O presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou a criação de um "escritório da fé" na Casa Branca e o lançamento de uma força-tarefa com o objetivo de proteger cristãos americanos do que classificou como "preconceito" e "aparelhamento anti-cristão" das instituições de Estado durante a gestão do ex-presidente Joe Biden.

A força-tarefa, criada pelo presidente por meio de decreto assinado na quinta-feira — mesmo instrumento usado pelo republicano para criar o Departamento de Eficiência Governamental (Doge, na sigla em inglês), entregue ao bilionário Elon Musk, e para tomar decisões sem submeter a aprovação do Congresso.

Os anúncios foram feitos durante o Café da Manhã Nacional de Oração, um evento anual que acontece no Capitólio, em Washington.

A força-tarefa, criada pelo decreto assinado na quinta, fica sob a chefia da nova procuradora-geral, Pam Bondi, na aba do Departamento de Justiça, enquanto o "escritório da fé, que funcionaria dentro da Casa Branca, seria entregue à reverenda Paula White, uma televangelista e sua conselheira de fé de longa data, cuja interpretação populista do Evangelho provou ser divisiva entre os cristãos.

Ele também disse que convocaria uma nova comissão presidencial sobre liberdade religiosa.

O decreto que oficializa a criação da força-tarefa, assinado na quinta-feira, justifica a medida a partir de normas legais que garantem a liberdade religiosa no país — embora preveja um tratamento específico na proteção aos cristãos.

O documento afirma que este grupo de religiosos sofreu com uma série de iniciativas durante o governo Biden, que acusou de manter um "padrão flagrante de perseguir cristãos pacíficos, ignorando ofensas violentas e anticristãs".

"É a política dos Estados Unidos, e o propósito desta ordem, proteger as liberdades religiosas dos americanos e acabar com o aparelhamento anticristão do governo", diz o texto do decreto, antes de citar uma série de dispositivos específicos da lei e mirar o governo Biden.

"A Administração anterior se envolveu em um padrão flagrante de mirar em cristãos pacíficos, enquanto ignorava ofensas violentas e anticristãs".

Entre as condutas descritas pelo decreto, atribuídas à gestão Biden, de uso da estrutura do governo para atacar os cristãos, o texto menciona a atuação do Departamento de Justiça para acusar e condenar "quase duas dezenas de cristãos pró-vida pacíficos por orarem e se manifestarem do lado de fora de clínicas de aborto", uma suposta inoperância do mesmo departamento para responder a casos de "violência, roubo e incêndio criminoso" contra igrejas católicas e instituições de caridade pró-vida, além de mencionar medidas de apoio à diversidade e no ambiente educacional, que segundo o texto, forçaram "cristãos a afirmar a ideologia transgênero radical contra sua fé".

Críticos do decreto disseram que a força-tarefa viraria de cabeça para baixo o entendimento tradicional da nação sobre liberdade religiosa, estabelecido pela Primeira Emenda e reforçado por décadas de leis e decisões da Suprema Corte, ao destacar uma religião específica.

"Em vez de proteger as crenças religiosas, esta força-tarefa usará indevidamente a liberdade religiosa para justificar intolerância, discriminação e a subversão de nossas leis de direitos civis", disse Rachel Laser, presidente da Americans United for Separation of Church and State, em uma declaração.

"Se Trump realmente se importasse com a liberdade religiosa e o fim da perseguição religiosa, ele estaria abordando o antissemitismo em seu círculo interno, a intolerância antimuçulmana, os crimes de ódio contra pessoas de cor e outras minorias religiosas".

A força-tarefa, que será composta por integrantes de 17 departamentos e agências do governo, terá duração de ao menos dois anos, nos quais deverá revisar as atividades de todos os departamentos do Executivo e agências, a fim de "identificar políticas, práticas ou condutas anticristãs ilegais", e recomendar ao governo medidas para revogar ou encerrar cada uma delas. 

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