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Guerra

Trump dá 100 dias para enviado acabar com guerra na Ucrânia, e Rússia vê oportunidade

Presidente americano ameaçou impor novas sanções caso Moscou se negue a negociar um cessar-fogo, mas Putin tem dado sinais de que não está com pressa para resolver a questão

Tradicionais bonecas russas de madeira representando Putin e Trump são vendidas no centro de Moscou Tradicionais bonecas russas de madeira representando Putin e Trump são vendidas no centro de Moscou  - Foto: Alexander Nemenov / AFP

O recém-empossado presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deu um prazo de 100 dias para o enviado especial da Casa Branca Keith Kellogg acabar com a guerra na Ucrânia.

Poucos acreditam que isso seja possível, embora a Rússia tenha sinalizado nesta quarta-feira que Moscou vê uma janela de oportunidade para forjar acordos com o novo governo após Trump sugerir impor novas sanções caso o país se negue a negociar um cessar-fogo.

O presidente ucraniano, por sua vez, reiterou que qualquer acordo de paz com os russos deve ser acompanhado de supervisão militar e pediu um efetivo de 200 mil soldados europeus de manutenção da paz.

"Se não fizermos um 'acordo', e em breve, não terei outra escolha senão impor altos níveis de impostos, tarifas e sanções a qualquer bem vendido pela Rússia aos Estados Unidos" e outros países, alertou Trump em sua rede Truth Social, nesta quarta-feira, repetindo uma ameaça feita no dia anterior diante de repórteres.

O vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Ryabkov, respondeu nesta quarta-feira dizendo que Moscou vê uma "pequena janela de oportunidade" para negociar acordos com Trump, embora não tenha citado especificamente a questão ucraniana.

— Não podemos dizer nada hoje sobre o grau de capacidade de negociação do novo governo, mas ainda assim, em comparação com a falta de esperança em todos os aspectos do chefe da Casa Branca anterior, há uma janela de oportunidade hoje, embora pequena — declarou Ryabkov em discurso no Instituto de Estudos Americanos e Canadenses, em Moscou. — Portanto, é importante entender com o que e com quem teremos de lidar, qual a melhor forma de construir relações com Washington, qual a melhor forma de maximizar as oportunidades e minimizar os riscos.

Nos últimos meses, Trump disse repetidamente que acabaria com a guerra na Ucrânia antes mesmo de assumir a Presidência nos EUA, o que não aconteceu.

A Rússia não tem um embaixador em Washington desde outubro, quando Anatoly Antonov deixou seu cargo. E no dia da posse em Washington, o presidente russo, Vladimir Putin, sinalizou não ter pressa em resolver o conflito com Kiev.

— [O objetivo de qualquer negociação futura] não deve ser uma breve trégua, nem algum tipo de trégua para o reagrupamento de forças e rearmamento com vistas à continuação subsequente do conflito, mas uma paz de longo prazo baseada no respeito aos interesses legítimos de todas as pessoas, de todos os povos que vivem na região — afirmou Putin em um vídeo divulgado pelo Kremlin.

Trump respondeu criticando a invasão russa, dizendo que Putin está “destruindo a Rússia por não fazer um acordo”.

Perguntado por um repórter na terça-feira se ele aplicaria mais sanções a Moscou caso Putin se recusasse a negociar, Trump disse que “é provável”.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, tem reiterado que a Ucrânia deve ser representada em qualquer negociação com as partes internacionais para encerrar o conflito e disse que qualquer acordo de cessar-fogo com a Rússia precisa ser supervisionado por um grande contingente estrangeiro de soldados de manutenção de paz, segundo informações divulgadas em Kiev nesta quarta-feira.

Em uma mensagem no Fórum Econômico Mundial em Davos, um dia antes, Zelensky explicou que, dado o tamanho do Exército ucraniano em comparação com o da Rússia, “precisamos de contingentes com um número muito grande de soldados” para garantir qualquer acordo de paz.

— Duzentos mil [soldados], esse é o mínimo, caso contrário, não é nada — enfatizou.

Na opinião de Zelensky, qualquer outro acordo seria semelhante à missão de monitoramento liderada pela Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (Osce) no leste da Ucrânia, que se desintegrou quando a Rússia lançou sua invasão em grande escala, em fevereiro de 2022.

— Eles só tinham escritórios — afirmou o presidente ucraniano, destacando a necessidade de uma força para dissuadir novos ataques russos.

Lideranças europeias temem que um acordo de paz negociado pelos Estados Unidos de Trump implique em perdas territoriais consideráveis para a Ucrânia. Há receio também de que Washington reduza drasticamente, ou mesmo corte por completo, o apoio militar dado a Kiev na guerra.

Trump disse na terça-feira que iria “verificar” se os EUA enviarão ou não mais armas para a Ucrânia. Sob o governo de Joe Biden, a Casa Branca usou os últimos meses do mandato para fornecer o máximo de armamento e fundos para Kiev antes do ex-presidente deixar o cargo.

A fala indica que Trump estaria disposto a recuperar parte dos US$ 61 bilhões (cerca de R$ 364 bilhões) em financiamentos para a Ucrânia que foram aprovados pelo Congresso em 2024, mas que ainda não foram gastos.

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