Trump diz que 'o tempo dirá' se continua na Presidência dos EUA
O presidente quebrou o silêncio depois de uma semana sem declarações em frente às câmeras
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse na sexta-feira (13) que "o tempo dirá" se ele vai permanecer presidente, em um lapso momentâneo de sua recusa sem precedentes em admitir sua derrota nas eleições e ajudar o democrata Joe Biden a se preparar para assumir o poder.
Trump quebrou o silêncio depois de uma semana sem declarações em frente às câmeras, ao falar durante um evento na Casa Branca para anunciar a iminente autorização de uma vacina contra o coronavírus.
Durante um breve discurso sobre o trabalho pela vacina, Trump insistiu em que nunca mais ordenaria um confinamento para conter a disseminação da covid-19.
Leia também
• EUA enfrenta novo aumento dos casos de coronavírus; Trump aposta em vacinas
• Twitter diz ter marcado 300 mil mensagens 'enganosas' sobre eleições nos EUA
"Não vamos para um confinamento", prometeu, no momento em que os Estados Unidos, com seus 243.000 mortos pela pandemia, vivem um surto recorde de casos.
Depois, acrescentou: "Com sorte, aconteça o que acontecer no futuro, quem sabe qual será o governo, acho que o tempo dirá, mas eu posso lhes dizer que este governo não irá adotar um confinamento".
Trump falou logo após as redes de televisão projetarem resultados nos dois últimos estados a serem definidos. Biden venceu o antigo reduto republicano da Geórgia em uma disputa extremamente acirrada, e Trump conquistou a Carolina do Norte.
Essas últimas apurações deram a Biden uma sólida vitória final no Colégio Eleitoral, órgão que decide a Presidência com 306 votos contra os 232 de Trump. Ironicamente, é o mesmo número concedido ao republicano em sua surpreendente vitória sobre a democrata Hillary Clinton em 2016.
Durante todo período pós-eleitoral, o presidente se manteve ausente, pelo menos em público, das funções presidenciais normais, além de notavelmente silencioso sobre o aumento dramático das taxas de infecção por coronavírus e sobre o crescimento constante das mortes no país.
Trump deixou a Casa Branca apenas para jogar golfe duas vezes e para participar de uma breve cerimônia do Dia dos Veteranos, no Cemitério Nacional de Arlington.
Na sexta-feira, participou de uma reunião no Salão Oval sobre a busca pela vacina - uma das primeiras vezes que ele teve um compromisso oficial em sua agenda pública desde a eleição.
"Quando admitirá que perdeu as eleições?", gritavam os jornalistas, enquanto Trump deixa o Rose Garden (Jardim das Rosas), sem fazer comentários.
Marchas na capital
"Esta eleição foi roubada!", tuitou ontem, após anunciar que poderia "tentar passar e saudar" seus partidários nas manifestações previstas para este sábado, em Washington, em apoio às denúncias de fraude feitas por ele.
As autoridades eleitorais de todo país afirmam que estas eleições foram "as mais seguras da história", destacando que "não há evidência" de votos perdidos, ou fraudados, nem de sistemas de votação alterados.
E, ontem, um juiz de Michigan emitiu mais uma decisão desconsiderando as acusações de fraude republicanas.
Apesar disso, Trump e seus aliados da mídia de direita não demonstram intenções de desistir de sua busca pela anulação dos resultados.
"O presidente Trump acredita que será o presidente Trump, terá um segundo mandato", disse sua porta-voz, Kayleigh McEnany, à Fox News.
"Quando se contar cada voto legal, o presidente Trump ganhará", afirmou.
O assessor comercial da Casa Branca, Peter Navarro, declarou à Fox Business na sexta-feira que "achamos que ele ganhou essa eleição".
"Estamos trabalhando aqui na Casa Branca sob a suposição de que haverá um segundo mandato de Trump", completou.
Transição bloqueada
Biden, por sua vez, está se preparando para assumir o cargo em 20 de janeiro, e a lista de líderes mundiais que o reconhecem como o novo presidente continua crescendo. A última nação a bordo foi a China.
Hoje, ele se reúne com seus assessores para a transição, após analisar na sexta-feira o avanço da covid-19 com os especialistas de sua célula de crise.
"Renovo meu apelo a todos os americanos, independentemente de onde vivam, ou em quem votaram, para que (...) façam sua parte no distanciamento social, na lavagem de mãos e no uso de máscaras para se proteger e proteger os demais", convocou, em um comunicado.
O recém-nomeado chefe de gabinete de Biden, Ron Klain, disse à MSNBC na quinta-feira que o bloqueio do acesso da nova administração às reuniões informativas confidenciais do governo atual representa um perigo crescente.
Klain destacou a incapacidade de ficar a par dos planos de vacinação de covid-19 entre "fevereiro e março", quando Biden já estará no Salão Oval.
"Quanto mais cedo conseguirmos que nossos especialistas em transição se reúnam com as pessoas que estão planejando a campanha de vacinação, mais tranquilo será", afirmou.
O ex-chefe de gabinete de Trump John Kelly disse que a demora em permitir que a transição comece oficialmente é prejudicial para a segurança nacional, como já advertiram por escrito mais de 150 ex-funcionários na matéria, incluindo alguns que trabalharam com Trump.
Embora muitos no Partido Republicano tenham-se mostrado leais a Trump, senadores de destaque como Marco Rubio, James Lankford e Roy Blunt se pronunciaram nessa mesma direção.