Trump, onipresente no aniversário do ataque ao Capitólio
Trump "criou e espalhou uma teia de mentiras" e "tentou impedir a transferência de poder pacífica", afirma o presidente norte-americano, Joe Biden
Os republicanos com seu silêncio e o presidente Joe Biden com seus ataques: o primeiro aniversário do ataque ao Capitólio deu espaço político a Donald Trump.
Biden surpreendeu no aniversário do ataque ao Congresso dos Estados Unidos. Ele, que normalmente apenas menciona seu antecessor por apelidos como "o outro cara" ou "o cara de antes", não poupou ataques contra Trump, cujos partidários invadiram o templo da democracia americana no dia 6 de janeiro de 2021.
Trump "criou e espalhou uma teia de mentiras" e "tentou impedir a transferência de poder pacífica", afirmou o democrata.
Com seus ataques, Biden também ofereceu a seu rival a chance de retornar à arena política.
Sem esperar, o ex-presidente reagiu com uma série de comunicados à imprensa.
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O primeiro serviu para qualificar o discurso de Biden como "teatro político", destinado, segundo Trump, a fazer esquecer o "fracasso" da atual administração.
"Tudo o que ele toca se transforma em fracasso", repetiu Trump sobre Biden em um segundo texto divulgado pouco depois.
No terceiro comunicado, o ex-presidente insistiu: "Nunca se esqueçam que as eleições presidenciais de 2020 foram um crime. Nunca desistam!"
Trump foi forçado a cancelar uma coletiva de imprensa marcada para esta quinta-feira, mas isso não significa que o magnata foi relegado para o segundo plano.
Resta saber se os dois políticos voltarão a se enfrentar em 2024.
Silêncio republicano
No momento, tudo parece possível.
Porque às tiradas do milionário é preciso acrescentar o silêncio desconcertante dos republicanos, que haviam condenado quase unanimemente as ações dos manifestantes pró-Trump um ano atrás.
Os poucos republicanos que emitiram uma declaração, como o poderoso senador Linsday Graham, o fizeram para ir na direção de Trump, prova de sua enorme influência sobre o partido, mais de um ano após sua derrota na eleição de novembro de 2020.
"Se a presidência de Biden está em queda livre um ano depois de 6 de janeiro, não é por causa do ataque ao nosso Capitólio, mas por causa de suas políticas fracassadas e da fraqueza de sua liderança", acusou.
De acordo com o senador da Carolina do Sul, Biden e sua vice-presidente Kamala Harris estão tentando transformar o ataque ao Capitólio em uma questão política.
O líder republicano no Senado, Mitch McConnell, também acusou seus colegas democratas de "usar o aniversário para promover objetivos políticos partidários". Ele faltou às comemorações para assistir a um funeral no sul do país.
Corredores desertos
As únicas vozes dissidentes entre os republicanos foram Liz Cheney, uma ferrenha opositora de Trump, e seu pai, Dick Cheney, ex-vice-presidente de George W. Bush.
Os dois estiveram presentes durante o minuto de silêncio em homenagem aos policiais mortos na agressão.
Liz Cheney é uma das duas parlamentares republicanas que concordaram em participar da comissão parlamentar de inquérito que busca esclarecer responsabilidades no ocorrido em 6 de janeiro de 2021.
Apesar das evidências, mais da metade dos eleitores do partido ainda acredita que os democratas roubaram Trump na eleição presidencial de 2020.
É por isso que, para este dia de comemoração, os republicanos abandonaram o Capitólio.
Não havia um único republicano na câmara do Senado, onde poucas horas depois do discurso de Biden, o líder democrata Chuck Schumer acusou Trump de "continuar derramando sua bile venenosa".
Os únicos dois congressistas a quebrar o silêncio republicano no Capitólio são da ala do partido mais pró-Trump.
"Nós revelaremos a verdade sobre 6 de janeiro" em uma entrevista coletiva, prometeu Marjorie Taylor Greene ao lado do colega Matt Gaetz.
Assim como Trump, esta congressista viu como o Twitter baniu uma de suas contas na plataforma e, também como o ex-presidente, defende a teoria de que as eleições foram "roubadas".