Trump reage à prisão de María Corina na Venezuela: "Deve permanecer viva e em segurança"
Em postagem no Truth Social, presidente eleito dos EUA exaltou opositores venezuelanos por "expressarem a voz dos venezuelanos contra o regime"
O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, reagiu à breve prisão da líder da oposição venezuelana, María Corina Machado, após após liderar protestos por todo o país na véspera da posse do ditador Nicolás Maduro. Em uma publicação na sua rede social, Truth Social, o republicano exaltou a ex-deputada e o opositor do chavista nas eleições, Edmundo González, a quem chamou de "presidente eleito".
"A ativista da democracia venezuelana Maria Corina Machado e o presidente eleito Gonzalez estão expressando pacificamente as vozes e a VONTADE do povo venezuelano, com centenas de milhares de pessoas se manifestando contra o regime", escreveu Trump. "A grande comunidade venezuelano-americana nos Estados Unidos apoia de forma esmagadora uma Venezuela livre e me apoiou fortemente. Esses lutadores pela liberdade não devem ser prejudicados e DEVEM permanecer VIVOS e SEGUROS!"
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Trump une coro com uma série de lideranças e chefes de Estado que repudiaram a repressão à opositora após ter sido detida por pouco mais de uma hora por agentes do regime. María Corina apareceu, mais tarde, em um vídeo dizendo que está "a salvo". Segundo seu partido, o comboio que a escoltava foi interceptado e alvejado com tiros após o protesto. Os detalhes do confuso incidente serão esclarecidos pela ex-deputada mais tarde, garantiram seus assessores.
Junto com María Corina, González contesta o resultado das eleições de 28 de julho, na qual o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) proclamou Maduro vencedor, mas sem apresentar as atas que o comprovem. Em setembro, ele foi para o exílio em Madri. Em visita à República Dominicana nesta quinta-feira, o ex-diplomata disse que iria para a Venezuela nesta sexta-feira para ser empossado.
Além dos EUA, o governo espanhol também expressou sua "preocupação" e "total condenação” à prisão de Maria Corina Machado. Em comunicado, o Ministério das Relações Exteriores da Espanha pediu ainda que a "integridade" dos líderes da oposição seja "protegida e salvaguardada". O presidente do Panamá, José Raúl Mulino, pediu respeito à "integridade pessoal" de María Corina, advertindo no X que o "regime ditatorial [de Maduro] é responsável pela sua vida".
O Gabinete da Presidência da Argentina expressou "extrema preocupação" com o que descreveu como "ataque criminoso do regime chavista contra a líder democrática" María Corina. "A um dia da posse do presidente eleito Edmundo González, o ditador Nicolás Maduro faz uma demonstração de força, atacando a maior referência em favor de uma Venezuela livre e democrática", escreveu em comunicado.
A visão foi partilhada pelo subdiretor da Divisão das Américas da ONG Humas Rights Watch, Juan Pappier, que argumentou que, com a prisão da María Corina, "pretende colocar o último prego no caixão do processo eleitoral".
O governo colombiano também expressou seu repúdio ao "assédio sistemático" contra a líder da oposição venezuelana. Em comunicado, o Ministério das Relações Exteriores disse que a ação "leva o governo colombiano a reiterar seu apelo às autoridades venezuelanas para que respeitem plenamente seus direitos", em referência aos opositores.
O vice-presidente do Conselho de Ministros da Itália, Antonio Tajani, também exigiu a libertação de María Corina, afirmando que "não podemos mais tolerar as ações repressivas e ilegítimas do regime de Maduro, que perdeu as eleições". Já o ex-presidente da Colômbia Álvaro Uribe (2002-2010), acusado pelo Ministério Público de suborno e fraude, questionou: "As Nações Unidas serão capazes de fazer alguma ação para resgatar María Corina Machado?"
Outras autoridades, como senador da Flórida Rick Scott e o ex-presidente da Colômbia Iván Duque, também pediram a liberdade da líder da oposição.
"Estou com você até o fim"
A oposição venezuelana voltou às ruas nesta quinta-feira para marchar contra a posse de Maduro, proclamado vencedor em uma eleição contestada pela oposição e boa parte da comunidade internacional. A concentração dos manifestantes nos pontos escolhidos pelos dirigentes da oposição ocorreu a despeito das instalações pelo governo de plataformas ou piquetes com música alta e o destacamento de policiais e militares.
María Corina chegou em um caminhão ao comício no bairro de Chacao, em Caracas, à tarde. Em um vídeo publicado nas redes sociais, a líder da oposição aparece em cima do que parece ser a cabine do motorista. Ela veste sua tradicional camisa branca e acena para apoiadores, que gritam "Liberdade!". "Estou aqui, com você, e ATÉ O FIM", escreveu nas redes.
Mas, no fim da manifestação, o Vem Venezuela, seu partido, anunciou que a líder da oposição foi "violentamente interceptada" durante sua saída da manifestação em Chacao. A conta do partido também afirma que agentes do regime "dispararam contra as motos que a transportavam".
Apesar das ruas de Caracas terem amanhecido desertas nesta quinta-feira, salvo os agentes de segurança fortemente armados, os manifestantes foram chegando aos poucos, por volta das 10h da manhã local (11h em Brasília), horário marcado para a marcha. Vestindo camisas com as cores da bandeira venezuelana (amarelo, vermelho e azul), foram se estabelecendo nos quatro pontos destacados por María Corina e Edmundo González Urrutia, que reivindica a vitória nas eleições de julho.
São eles, a Conferência Episcopal Venezuelana, na Paróquia de La Vega; a rua Élice, do distrito de Chacao; em frente ao Shopping Líder, no município de Sucre; e na distribuidora de Santa Fé, em Baruta. Por questões de segurança, a líder da oposição não revelou anteriormente de qual desses pontos sairia. Em entrevista à AFP na segunda-feira, disse que "não perderia esse dia histórico por nada no mundo".
Em dois dos pontos, o chavismo instalou simultaneamente plataformas guardadas por funcionários das forças de segurança do Extado e civis encapuzados. Agentes da Polícia Nacional Bolivariana (PNB) também estavam dispostos em frente à Conferência Episcopal Venezuelana, na Paróquia de La Vega, informou o jornal venezuelano El Pitazo. É na capital que está localizado o Palácio Miraflores e as sedes dos poderes públicos.
— Não há palco que possa tirar a esperança. Eles são o passado! —exclamou uma mulher no distrito comercial de Chacao.
O destacamento massivo de agentes de segurança está acontecendo desde a semana passada sob a justificativa de um "plano de defesa", informou o jornal La Patilla. Às vésperas das marchas, Maduro ordenou a mobilização de militares e policiais de todo o país sob o argumento de planos para impedir a sua posse para um terceiro mandato. Um manifestante, sob condição de anonimato, disse ao El Pitazo que esse destacamento massivo "faz parte do que o governo sempre fez, que é intimidar a população para que não saia."
— Todo mundo sabe disso, mas eles estão tranquilos lá e nós estamos tranquilos aqui , ninguém incomoda ninguém, porque não estamos fazendo nada — afirmou, acrescentando que aqueles presentes compareceram devido ao apelo feito pelas lideranças da oposição.
Jornais venezuelanos informaram que muitos locais no interior do país, onde alguns opositores se reunirão, também receberam as plataformas e palanques chavistas. No Estado de Nueva Esparta, o jornal Efecto Cocuyo afirmou que apoiadores do Partido Socialista Unido da Venezuela (Psuv), de Maduro, montaram um palanque na Plaza de las Bandeira e um telão, onde foi transmitido o programa "Con el mazo dando", apresentado por Diosdado Cabello, número dois do chavismo. No entorno do local, também foram instalados postos de controle do serviço de Inteligência (Sebin) e da Guarda Nacional Bolivariana (GNB) para fiscalizar os veículos que passam pelo local. De acordo com o jornal, uma jovem foi detida pelo Sebin na cidade de Porlamar.
O mesmo ocorre no estado de Falcón, onde um ponto de concentração foi alterado após o envio de um grande contingente da Guarda Nacional e da Polícia Bolivariana, e na cidade de Maracaibo, no estado de Zulia, continuou o Efecto Cocuyo. Nesta última, junto com as cidades de Valência, em Carabobo, e Valera, no estado de Trujillo, funcionários da Guarda e da Polícia nacional usaram bombas de gás lacrimogênio para dispersar os opositores, informou o jornal Tal Cual.
Os chavistas começaram sua marcha em apoio à posse de Maduro por volta de 13h30 local (14h30 em Brasília), em vários pontos de Caracas.
"Nos veremos em breve"
Os protestos da oposição desafiam o medo que se instalou em julho após uma repressão brutal às manifestações que eclodiram depois do anúncio da posse do líder chavista, deixando 28 mortos, quase 200 feridos e mais de 2.400 presos. María Corina acusa Maduro de "roubar" as eleições e reivindica a vitória de González Urrutia, que chegou à República Dominicana para a última escala antes de retornar à Venezuela.
— Nos veremos todos muito em breve em Caracas em liberdade — disse o ex-diplomata nesta quinta-feira durante evento com o presidente Luis Abinader.
González Urrutia, que pediu asilo na Espanha em 8 de setembro após uma ordem de prisão, disse que quer retornar ao seu país para assumir o poder. A cerimônia de posse presidencial está marcada para 10 de janeiro ao meio-dia (13h em Brasília), no Parlamento, controlado pelo chavismo.
O ex-diplomata está em uma viagem que o levou à Argentina, Uruguai e Estados Unidos, onde se encontrou com o presidente Joe Biden e representantes de seu futuro sucessor, Donald Trump. Depois, foi ao Panamá, onde entregou à polícia as atas emitidas pelas urnas para comprovar a vitória da oposição, que o chavismo considera falsas.
De qualquer forma, as autoridades venezuelanas — que oferecem US$ 100 mil dólares (R$ 613 mil) por sua prisão — já alertaram que, se ele chegar ao país, "será preso imediatamente" e seus companheiros internacionais serão tratados como "invasores". (Com AFP)