Trump se declara inocente de acusações criminais em NY
Segundo o magistrado que julga o indiciamento de Trump, foram 34 acusações relacionadas à falsificação de registros comerciais
Donald Trump se declarou inocente das acusações criminais apresentadas contra ele pela Justiça de Manhattan por ter subornado uma atriz pornô em troca de seu silêncio antes das eleições presidenciais de 2016, na primeira acusação criminal contra um ex-presidente americano que pode ter consequências para suas aspirações de voltar à Casa Branca.
O juiz Juan Merchan o indiciou por 34 acusações relacionadas à falsificação de registros comerciais no pagamento de US$ 130 mil (cerca de R$ 420 mil à época) à estrela pornô Stormy Daniels na reta final da campanha às eleições presidenciais de 2016 para que ela se calasse sobre um suposto caso extraconjugal, ocorrido dez anos antes e que ele sempre negou.
Merchan acrescentou, durante a audiência de uma hora, que um julgamento poderia começar em janeiro de 2024 e liberou o ex-presidente da custódia.
Segundo a promotoria, Trump se tornou réu de três acusações relacionadas com o pagamento de propinas em troca do silêncio de pessoas antes das eleições presidenciais de 2016.
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Um porteiro da Trump Tower que dizia ter informações sobre um suposto filho ilegítimo recebeu 30 mil dólares (R$ 98 mil aproximadamente) para ficar em silêncio; uma mulher que diz ter sido sua amante cobrou 150 mil dólares (cerca de R$ 490 mil) e a atriz pornô, outros 130 mil dólares por ocultar um suposto relacionamento extraconjugal, detalhou o promotor Alvin Bragg em nota à imprensa.
Com isso, o magnata de 76 anos terá que passar por um julgamento, que terá consequências imprevisíveis para sua candidatura à presidência nas eleições de 2024.
Seu então advogado, Michael Cohen, foi o encarregado de fazer o pagamento, e o magnata reembolsou-o pela quantia de forma parcelada, supostamente fazendo-a passar por honorários profissionais.
Sentado entre seus advogados, Trump parecia sombrio e preocupado, de acordo com uma foto tirada dentro do tribunal, depois de ser submetido ao trâmite habitual para um indiciado, como a tomada de fotografias e de digitais para a ficha judicial.
Tanto o magnata republicano quanto seus advogados insistem no absurdo do caso. Trump repetidamente afirma ser vítima de uma "caça às bruxas".
O indiciamento criminal de Trump, algo inédito para um ex-chefe de Estado americano, "não é uma prioridade" para seu sucessor, Joe Biden, disse a porta-voz da Casa Branca nesta terça-feira.
"Obviamente (o presidente Biden) vai acompanhar algumas das notícias quando tiver um momento para se atualizar, mas isso não é uma prioridade para ele", disse Karine Jean-Pierre.
Mais um caso
O caso Stormy Daniels é apenas um dos casos que ameaçam o ex-presidente, que também é investigado por pressionar funcionários públicos para anular a vitória de Joe Biden em 2020, com uma ligação telefônica gravada. Nela, pediu ao secretário de Estado da Geórgia que "encontrasse" votos suficientes para reverter o resultado.
Trump também é investigado por seu possível papel na invasão de 6 de janeiro de 2021 no Capitólio, assim como pela custódia de documentos confidenciais depois de deixar a Casa Branca.
A caminho do tribunal, Trump publicou uma mensagem em sua rede social, a Truth Social: "Parece SURREAL - WOW, vão me PRENDER. Não posso acreditar no que está acontecendo nos Estados Unidos - MAGA!" (sigla de seu movimento 'Make America Great Again').
Ao contrário de outros estados, onde as câmeras de televisão são permitidas nos tribunais, o juiz Merchán não abriu uma exceção nesta ocasião. Permitiu apenas que os fotógrafos capturassem esse momento histórico por alguns minutos antes do início da audiência.
Em frente ao tribunal, a polícia de Nova York, em alerta máximo, instalou cercas metálicas para separar dezenas de apoiadores do magnata e alguns críticos em uma metáfora para a divisão política do país.
"Trump ou morte" ou "Make America Great Again" estampavam cartazes e bandeiras, bonés e camisetas de alguns. Os opositores proclamavam "Trump mente o tempo todo".
Paulina Farr saiu da vizinha Long Island — um reduto republicano, para onde o ex-presidente solicitou que o caso fosse transferido, de modo a ter um julgamento "justo" — para "mostrar apoio ao nosso presidente Trump".
A enfermeira aposentada disse à AFP que também esteve em Washington, D.C., em 6 de janeiro de 2021, quando milhares de apoiadores de Trump invadiram o Capitólio, mas este protesto "é muito diferente".
"Apenas no caminho"
Em uma tentativa de politizar o caso e motivar seus apoiadores, que têm respondido enviando-lhe mais de 7 milhões de dólares (cerca de 35,5 milhões de reais, nos valores atuais) para sua campanha desde que a acusação foi anunciada na última quinta-feira, o magnata relembrou na rede Truth Social o que já usa como um lema: "Eles não estão vindo atrás de mim, estão vindo atrás de vocês. Estou apenas no caminho eles".
É "IMPOSSÍVEL que eu tenha um julgamento justo" em Nova York, acrescentou Trump sobre sua cidade natal governada por democratas, após a decisão do promotor Alvin Bragg de indiciá-lo na última quinta-feira, mantendo a decisão do grande júri.
Bragg deve dar uma coletiva de imprensa após a audiência de Trump no tribunal. O magnata também anunciou que falará com a imprensa.