Turismo é desafio futuro no combate às mudanças climáticas
Em Baku, no Azerbaijão, mais de 50 países, incluindo o Brasil, assinaram compromisso para reduzir emissões do setor, com revisão prevista até fevereiro de 2025
O turismo teve destaque inédito na COP29, com um dia exclusivo de debates, culminando na assinatura da declaração “Ação Aprimorada sobre Turismo” por mais de 50 países, incluindo o Brasil. O compromisso busca incluir o setor nas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, com revisão prevista até fevereiro de 2025. A medida visa mitigar os impactos ambientais de um setor responsável por 8,8% das emissões globais e que representa cerca de 3% do PIB mundial, segundo a Organização das Nações Unidas.
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Para o ministro do Turismo, Celso Sabino, a adesão do Brasil reflete o compromisso com metas climáticas e práticas responsáveis:
— O ecoturismo sustentável é um dos focos, priorizando transporte e hospedagem com energia renovável e o manejo adequado de resíduos, para atrair turistas em busca de experiências ecológicas.
Segundo ele, a expansão do ecoturismo visa impulsionar o desenvolvimento econômico e social de comunidades quilombolas, indígenas e ribeirinhas, enquanto preserva florestas e rios:
— A estratégia é essencial para mitigar as mudanças climáticas, proteger ecossistemas e melhorar a qualidade de vida das comunidades.
Desde 2022, o Fundo Geral do Turismo investiu mais de R$ 1 bilhão no setor privado e foi útil em emergências como enchentes e queimadas. Sabino anunciou para breve uma nova modalidade do fundo para impulsionar projetos de ecoturismo sustentável. Outro avanço é a atualização da Lei Geral do Turismo, sancionada por Lula em setembro, que fortalece a segurança jurídica, amplia o acesso ao financiamento e favorece práticas sustentáveis, como o ecoturismo.
Ação regenerativa
Segundo Marina Barki, coordenadora de Sustentabilidade e ESG da Embratur, a decisão reflete o esforço para mitigar impactos ambientais e promover práticas responsáveis no turismo.
— O papel da entidade é multiplicar boas práticas junto ao trade — diz.
A Embratur adota o conceito de turismo regenerativo, focado em deixar os destinos melhores do que foram encontrados, e atua em parceria com projetos como o Onçafari, de conservação de onças-pintadas, e a Biofábrica de Corais, que trabalha na regeneração de recifes em Porto de Galinhas e Maragogi.
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Alexandre Prado, líder de Mudanças Climáticas do WWF-Brasil, considera positivo o papel do Brasil na COP29, mas ressalta a ausência de metas quantitativas no compromisso firmado, como a redução de emissões até 2030. Ele sugere a definição de objetivos concretos, como incentivo ao uso de combustíveis sustentáveis no transporte aéreo e adaptações na infraestrutura turística, especialmente nas áreas costeiras.
— É fundamental preparar o setor para os impactos climáticos, como a elevação do nível do mar, que ameaça resorts e hotéis — diz Prado, que vê o ecoturismo como alternativa viável devido ao menor impacto ambiental. — Apesar dos desafios de infraestrutura, o ecoturismo fortalece a resiliência das comunidades locais e promove a preservação ambiental.
8% do PIB brasileiro
As unidades de conservação, como o Parque da Cantareira (SP), são fundamentais para preservar os recursos hídricos. Segundo o Monitora do WWF, elas mantêm estáveis as populações de fauna e flora. Em contraste, fora dessas áreas, as populações caíram 73%, sendo a América Latina e o Caribe responsáveis pela maior perda global de biodiversidade (95%), principalmente devido à conversão do uso do solo, segundo o relatório Planeta Vivo 2024.
Em crescimento constante, o turismo brasileiro já representa 8% do PIB e movimenta R$ 752,3 bilhões, segundo o WTTC. Os gastos de turistas atingiram R$ 35 bilhões entre janeiro e outubro, um recorde histórico. A Embratur projeta que o Brasil supere o recorde de 6,6 milhões de turistas alcançado em 2018, consolidando o país como destino sustentável e competitivo.