Ucrânia aprova nova lei para endurecer recrutamento em tentativa de repor tropas no front
Projeto aprovado nesta quinta-feira exclui isenções ao serviço militar e impõe penas para quem burlar convocação; parte que falava sobre desmobilização após 36 meses em serviço foi retirada, após pedido de general
O Parlamento da Ucrânia aprovou, nesta quinta-feira (11), uma nova lei sobre mobilização militar, em mais uma tentativa de reabastecer as exauridas tropas do país, que lutam contra o Exército da Rússia há mais de dois anos. O texto, que ainda precisa ser sancionado pelo presidente Volodymyr Zelensky, endurece regras de alistamento, restringe isenções ao serviço militar e introduz algumas penalidades para quem tentar burlar a convocação. O limite de tempo em serviço foi deixado de fora.
A necessidade de novas tropas foi identificada como urgente desde o ano passado, mas Zelensky tem tratado o tema com cautela, por se tratar de uma agenda politicamente sensível. O presidente pediu aos legisladores que levassem o projeto a votação nesta semana, esperando ele assinar uma outra legislação, que reduziu a idade de alistamento para 25 anos. A medida foi aprovada com 243 votos a favor e 49 abstenções.
A aprovação aconteceu apenas horas depois de um bombardeio em grande escala, quando mais de oitenta mísseis e drones russos miraram sobretudo a infraestrutura energética do país. Embora o texto completo não tenha sido disponibilizado imediatamente, legisladores disseram que ele trata da questão da mobilização de forma ampla e inclui disposições para tornar o processo de recrutamento mais transparente e equitativo.
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Uma legisladora, Iryna Friz, disse que a lei permite que os recrutas que assinam contratos escolham as suas próprias unidades e cria licenças e recompensas adicionais para os soldados que destroem ou capturam armas ou equipamentos inimigos.
Também inclui disposições para que os soldados tirem 15 dias consecutivos de férias, disse Friz em um comunicado. Às famílias dos soldados mortos, serão enviadas um pagamento único de 15 milhões de hryvnias, ou cerca de 380 mil dólares (R$ 1,9 milhão).
Porém, talvez tão importante quanto o que foi incluído na lei seja o que foi cortado, especialmente um cronograma para a desmobilização dos soldados recrutados.
Pela lei marcial, que foi imposta logo após a invasão russa, em fevereiro de 2022, os recrutas são obrigados a servir até ao fim das hostilidades, com poucas isenções. O projeto de lei votado nesta quinta, em sua versão original, pretendia estabelecer um limite de 36 meses ao serviço obrigatório.
A disposição, no entanto, foi cortada após a intervenção do general Oleksandr Syrskyi, principal comandante militar da Ucrânia, que instou os legisladores a separarem a questão da mobilização e da desmobilização em projetos diferentes. Em um comunicado, o Ministério da Defesa disse que a desmobilização foi excluída do projeto de lei apresentado pelo governo a pedido do General Syrskyi, uma vez que ele “compreende a situação operacional” e “as ameaças e riscos que o Estado enfrenta”.
A remoção do trecho para limitar o serviço pode provocar raiva nas fileiras ucranianas, especialmente entre os soldados de infantaria que estão envolvidos em combates brutais nas linhas da frente durante mais de dois anos, com pouca trégua. Agora, segundo o ministério, o governo desenvolverá um projeto de lei separado sobre rotações e desmobilização, mas isso poderá levar até oito meses.
A reação dos legisladores da oposição, muitos dos quais se abstiveram na votação, foi rápida e irónica. Inna Sovsun disse que não poderia votar a favor do projeto porque as punições por evasão ao serviço militar e os bônus para aqueles que se alistaram eram insuficientes. Ela disse que a situação criou "a impressão de uma passagem só de ida" que destrói qualquer motivação para conseguir novos recrutas
Os soldados na frente, muitos dos quais lutam há mais de dois anos, têm expressado abertamente frustração pelo que consideram uma falta de vontade política para encontrar novos soldados que ajudem a aliviar o seu fardo.
Falta de munições
A luta da Ucrânia para reabastecer as suas fileiras com soldados surge em um momento em que as forças já recrutadas são afetadas pela escassez de munições e armamentos. O ataque russo desta quinta, por exemplo, evidenciou a falta de munições para os sistemas de defesa antiaérea que protegem as cidades ucranianas.
Segundo Zelensky, que visita a Lituânia nesta quinta-feira, os russos atacaram instalações em Kiev, Zaporizhzhia, Odessa e Lviv. Duas pessoas morreram e quatro ficaram feridas na cidade de Mykolaiv, informou o governador da região, Vitaly Kim.
As Forças Armadas informaram que conseguiram destruir 37 dos 40 drones lançados pelas forças russas, sem detalhar a taxa de sucesso com os mísseis. Estatisticamente, há uma queda nas interceptações. Em 2023, a Força Aérea ucraniana interceptou em média 80% dos mísseis de longo alcance disparados pela Rússia, percentual que caiu para 60% neste ano — o que tem permitido que o Exército russo destrua sistematicamente o sistema energético ucraniano desde março.
O ministro da Energia do país, Herman Galushchenko, indicou em 8 de abril que a Força Aérea russa danificou 80% das suas centrais térmicas e mais de metade das suas centrais hidroelétricas nas últimas semanas. (Com NYT, El País e AFP)