Ucrânia ataca forças russas na região ocupada do sul
A região de Kherson, limítrofe com a península da Crimeia anexada por Moscou em 2014, está ocupada em grande parte pelas forças russas
A Ucrânia anunciou, nesta terça-feira (12), que bombardeou de madrugada as forças russas na região ocupada de Kherson, no sul do país, mas as autoridades de ocupação instaladas por Moscou acusaram Kiev de ter atingido casas.
A região de Kherson, limítrofe com a península da Crimeia anexada por Moscou em 2014, está ocupada em grande parte pelas forças russas, que invadiram a Ucrânia em 24 de fevereiro. O exército ucraniano lançou há várias semanas uma contraofensiva nesse front, enquanto grande parte das tropas russas está mobilizada no Donbass, ao leste.
Oficiais militares ucranianos para o sul do país indicaram que os mísseis e fogo de artilharia mataram 52 soldados russos e destruíram artilharia, veículos blindados "e um depósito de munição em Nova Kajovka", a cerca de 70 quilômetros da cidade de Kherson, que tem com 290 mil habitantes.
Por sua vez, o chefe da administração civil-militar instalada pelos russos em Kherson, Vladimir Leontiev, denunciou um "ato de terrorismo" e "uma terrível tragédia". "Não há alvos militares aqui", disse ele.
"Há sete mortos e cerca de 60 feridos", afirmou. O número de vítimas "vai aumentar porque a magnitude dos danos é enorme", acrescentou Leontiev.
"Dezenas de casas foram atingidas (...) pessoas estão sendo retiradas dos escombros", declarou. "Está claro que este é um ataque deliberado, violento e cínico com mísseis de alta precisão, não há alvos militares aqui... armazéns, lojas, uma farmácia, postos de gasolina e até uma igreja foram atacados", disse ele.
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Uma vice-líder da administração da ocupação de Kherson, Ekaterina Gubareva, também relatou sete mortos e acusou as forças ucranianas de terem bombardeado com o lançador de mísseis múltiplo americano HIMARS.
Até o momento não foi possível verificar as alegações com fontes independentes.
O presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, afirmou nesta terça-feira que conversou no dia anterior com o presidente russo Vladimir Putin sobre os "planos" de ataque contra a Rússia que, segundo ele, os ocidentais prepararam em meio ao conflito na Ucrânia.
"Ontem discutimos em detalhes com o presidente russo que foram elaborados planos estratégicos de ataque contra a Rússia", disse Lukashenko, segundo a agência bielorrussa Belta. Esses "planos" preveem ofensivas "através da Ucrânia e de Belarus", disse ele.
Bola de fogo
Em um vídeo divulgado pela mídia russa, uma enorme bola de fogo pode ser vista no céu à noite, uma espessa coluna de fumaça branca e detonações poderosas podem ser ouvidas.
Outras imagens feitas pela manhã e divulgadas pelas autoridades de ocupação mostram vários prédios destruídos.
No leste do país, onde os bombardeios russos continuam, a Ucrânia se prepara para uma nova ofensiva russa na região de Donetsk, na bacia de mineração do Donbass, parcialmente controlada desde 2014 por separatistas apoiados por Moscou.
"Há indícios de que as unidades inimigas estão se preparando para intensificar as operações de combate na direção de Kramatorsk e Bakhmut", alertou o Estado-Maior ucraniano.
Kiev vê Kramatorsk, o centro administrativo do Donbass ainda sob controle ucraniano, e seu vizinho Sloviansk como os próximos alvos dos russos em seu plano de conquistar todo o Donbass.
As autoridades russas vão inaugurar a embaixada da região separatista de Donetsk em Moscou nesta terça-feira, na presença do ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov.
Na segunda-feira, a Rússia anunciou que facilitará o acesso de todos os ucranianos à nacionalidade russa, medida que até agora se aplicava apenas aos territórios ucranianos que ocupa.
34 mortos em Chasiv Yar
O número de vítimas do suposto bombardeio russo de um prédio residencial em Chasiv Yar, na região de Donetsk, no domingo, continua aumentando à medida que os esforços de resgate continuavam. As autoridades locais relataram pelo menos 34 mortes.
Em Kharkiv (nordeste), seis civis foram mortos em um bombardeio russo na segunda-feira, segundo o governador Oleg Synegubov.
Diante de problemas para manter suas armas, a Rússia receberia "centenas de drones" do Irã que poderia começar a usar muito em breve, disse Jake Sullivan, conselheiro de segurança nacional da Casa Branca.
Os drones têm desempenhado um papel importante desde o início da guerra para operações de reconhecimento, mísseis ou lançamento de bombas.
O Kremlin anunciou nesta terça-feira que Vladimir Putin se reunirá com os presidentes do Irã e da Turquia em Teerã em 19 de julho em uma cúpula para discutir o conflito sírio e discussões bilaterais.
Pacote de ajuda da UE
Enquanto isso, a Europa entrou em um período de incerteza sobre o fornecimento de gás russo.
A gigante russa Gazprom iniciou na segunda-feira os trabalhos de manutenção do gasoduto Nord Stream I, que transporta grande parte do gás que ainda fornece para a Alemanha e outros países da Europa Ocidental.
A Rússia, argumentando um problema técnico, já cortou as entregas de gás através do Nord Stream em 60% nas últimas semanas, uma decisão denunciada como "política" por Berlim.
Apesar de sua dependência do gás russo e da situação complexa, a União Europeia adotou nesta terça-feira um pacote de ajuda macrofinanceira à Ucrânia de um bilhão de euros para cobrir suas "necessidades urgentes e garantir o funcionamento de infraestrutura crítica".
Esses pacotes de ajuda macrofinanceira (conhecidos como AMF) são um mecanismo da UE para ajudar os países vizinhos que enfrentam sérios problemas de balança de pagamentos.