crise internacional

Ucrânia combate avanço russo em Kiev e arredores; batalha na capital se intensifica

O Exército da Ucrânia informou que repeliu um ataque russo em uma das principais avenidas da capital

Ataque russo em Kiev, capital da UcrâniaAtaque russo em Kiev, capital da Ucrânia - Foto: Genya Savilov/AFP

As tropas ucranianas combateram na madrugada deste sábado (26) o avanço russo em Kiev e arredores, instadas pelo presidente Volodimir Zelensky a resistir a forte ofensiva inimiga para tomar a capital.

"Não podemos perder a capital", alertou Zelensky ao cair da noite.

O Exército da Ucrânia informou que repeliu um ataque russo em uma das principais avenidas da capital e que estava envolvida em "duros combates" em um cidade 30 km ao sul.

"Hoje à noite, o inimigo vai usar todas as suas forças para romper nossas defesas da maneira mais vil, dura e desumana. Vão tentar um ataque", avisou Zelensky em um vídeo postado no site presidencial horas antes.

O alerta se confirmou pouco depois. A Rússia "atacou uma unidade militar na avenida Vitória de Kiev, o ataque foi repelido", indicou o exército ucraniano no Facebook.

Ao longo da madrugada de sábado, jornalistas da AFP escutaram fortes explosões no centro da capital que, segundo fontes militares ocidentais, é o principal objetivo da invasão iniciada na quinta-feira pelo presidente russo, Vladimir Putin.
 

O Exército ucraniano também informou "combates duros" em Vasilkov, uma cidade 30 km ao sul de Kiev, onde os russos "tentaram pousar paraquedistas". Anteriormente, foi noticiado a destruição de um avião de transporte militar IL-76 nessa região e de um helicóptero e um caça no leste do país.

Civis armados
A ofensiva russa provocou a fuga de mais de 50.000 ucranianos do país, assim como 100.000 deslocados internos - segundo a ONU - e mais de 100 mortos, de acordo com Kiev.

Vladimir Putin exortou o exército ucraniano a "tomar o poder" e chamou o governo Zelensky de "gangue de viciados em drogas e neonazistas".

Zelensky respondeu com a divulgação de um vídeo gravado em frente ao palácio presidencial. "Estamos todos aqui, nossos militares estão aqui, os cidadãos, a sociedade, estamos todos aqui, defendendo a nossa independência, o nosso Estado", proclamou, ao lado de seus principais colaboradores.

O Ministério da Defesa ucraniano chamou a população a resistir."Pedimos aos cidadãos que nos informem dos movimentos de tropas, que fabriquem coquetéis Molotov e neutralizem o inimigo", pediu.

Civis alistados nas brigadas de "defesa do território", identificados com braçadeiras amarelas, são onipresentes em toda a capital. "Eu nunca tinha pegado em armas até hoje. Vamos tentar fazer o melhor que pudermos", disse Roman Bondertsev, no norte de Kiev.

"E se eles me matarem, haverá outras duas pessoas prontas para tomar o meu lugar", acrescentou.

Na sexta-feira, houve tiros e explosões em sua área, no bairro residencial de Obolon, após um aparente avanço russo. Jornalistas da AFP viram um morto na calçada e ambulâncias socorrendo uma pessoa cujo veículo foi esmagado por um veículo blindado.

O exército ucraniano também relatou combates na sexta-feira em Dymer e Ivankiv, duas cidades a 40 e 80 quilômetros ao norte de Kiev, respectivamente, e avanços inimigos para nordeste e leste.

Diplomacia travada
Enquanto isso, os países ocidentais adotaram uma série de sanções contra entidades, empresas e autoridades russas, entre elas Putin, em resposta à invasão.

Contudo, a diplomacia segue travada.

No Conselho de Segurança da ONU, a Rússia vetou uma resolução promovida pelos Estados Unidos e pela Albânia para deplorar a "agressão" contra a Ucrânia.

A porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova, disse que as relações entre Moscou e as potências ocidentais estão se aproximando de um "ponto de não retorno".

"Não foi nossa opção. Queríamos o diálogo, mas os anglo-saxões fecharam essas opções uma atrás da outra e começaram a agir de forma diferente", acusou.

Segundo Zakharova, as sanções contra Putin e seu ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, mostram a "impotência" dos países ocidentais.

Putin disse estar disposto a enviar uma delegação a Minsk, capital de Belarus, para negociar com a Ucrânia. A Hungria, membro da Otan e próxima a Moscou, ofereceu Budapeste como palco para negociações.

O porta-voz da diplomacia americana, Ned Price, descreveu esta proposta como uma "diplomacia realizada sob a mira de armas, quando bombas, morteiros e artilharia de Moscou atingem civis ucranianos".

A Otan anunciou que ativará seus planos de defesa para reforçar seu flanco oriental.

A Rússia exige que a Ucrânia abandone sua ambição de aderir à Otan e pede que a aliança militar liderada pelos EUA reduza a sua presença no Leste Europeu.

Sanções em todos os âmbitos 
Após a ofensiva, a União Europeia (UE) desbloqueou um pacote de sanções "maciças" nos setores de energia e financeiro.

O próprio Putin e seu chanceler, Sergei Lavrov, foram incluídos hoje na lista de personalidades sancionadas, com ativos congelados, por União Europeia, Reino Unido e Canadá, enquanto os Estados Unidos anunciaram que tomariam medidas semelhantes.

Zelensky pediu ao Ocidente que expulsasse a Rússia do sistema de transferências bancárias Swift, mas alguns países da União Europeia, como Alemanha e Hungria, manifestaram suas dúvidas, pelo temor de que essa medida pudesse provocar problemas na entrega de gás russo.

Outra retaliação veio da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), que rejeitou o processo de adesão da Rússia e fechou seu escritório em Moscou.

A resposta à invasão também chegou ao esporte e ao mundo da cultura. A Uefa retirou São Petersburgo como sede da final da Liga dos Campeões, que será disputada agora em Paris. Além disso, a organização da Fórmula 1 cancelou a realização do Grande Prêmio da Rússia, que fazia parte do calendário de 2022 da categoria.

O Eurovision, popular concurso musical disputado por representantes de diferentes países do continente, anunciou que fecharia suas portas a concorrentes do país invasor.

O Papa Francisco, por sua vez, reuniu-se com o embaixador russo no Vaticano para manifestar "sua preocupação". Em um tuíte, publicado em vários idiomas, entre eles o russo, afirmou que "toda guerra é uma rendição vergonhosa".

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