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Guerra na Ucrânia

Ucrânia não se pronuncia sobre ataque na Rússia, moradores fogem de Mariupol

Ministro das Relações Exteriores ucraniano afirmou que não poderia confirmar ou negar as informações sobre o bombardeio em um "depósito de gasolina" em cidade russa

Ministro das Relações Exteriores ucraniano, Dmytro KulebaMinistro das Relações Exteriores ucraniano, Dmytro Kuleba - Foto: Janex Skarzynski / AFP

A Ucrânia não desmentiu, nesta sexta-feira (1º), ter realizado um ataque aéreo em território russo, enquanto uma caravana de ônibus conseguiu evacuar alguns civis da cidade ucraniana de Mariupol, assediada e bombardeada pelas tropas russas.

O governador da região russa de Belgorod, Vyacheslav Gladkov, disse que dois helicópteros ucranianos entraram em território russo e bombardearam um "depósito de gasolina" naquela cidade, a cerca de 40 quilômetros da fronteira.

O ministro das Relações Exteriores ucraniano, Dmytro Kuleba, afirmou que não poderia confirmar ou negar as informações de Moscou, que alertou que essa ação poderia afetar o diálogo entre Rússia e Ucrânia.

No entanto, algumas horas depois, o principal negociador do Kremlin, Vladimir Medinski, informou que as negociações entre os dois países haviam sido retomadas por videoconferência.

A Ucrânia diz estar pronta para adotar o status de país neutro e renunciar à adesão à Otan, com a condição de que outros países garantam sua segurança contra a Rússia.

A agonia de Mariupol
Mariupol, um porto estratégico no Mar de Azov, ainda aguarda o resultado de negociações complexas para abrir um corredor humanitário para evacuar dezenas de milhares de civis que vivem em condições deploráveis.

Na noite desta sexta-feira, algumas pessoas que conseguiram fugir da cidade até Berdiansk, sob controle russo, foram levadas de ônibus a Zaporizhzhia, 200 km a noroeste, informou um jornalista da AFP no local, uma informação confirmada pela vice-primeira-ministra ucraniana, Irina Vereshchuk.

"Estou chorando. Acabo de ver minha neta", declarou Olga, que esperava seus parentes no centro para deslocados em Zaporizhzhia. "A família de sua mãe segue em Mariupol e não sabemos se estão com vida".

O sucesso da operação de evacuação é uma raridade em uma cidade que tem sido bombardeada há semanas.

O vice-secretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários, o britânico Martin Griffiths, estará em Moscou no domingo para tentar garantir um "cessar-fogo humanitário" na Ucrânia, anunciou o chefe da ONU, Antonio Guterres, nesta sexta-feira.

Mariupol foi reduzida a escombros. Só lá 5.000 pessoas morreram, segundo as autoridades ucranianas, e dezenas de milhares de civis vivem escondidos em porões, quase sem luz, comida, água ou remédios.

Após cinco semanas de guerra, quatro milhões de pessoas - 90% mulheres e crianças - fugiram da Ucrânia, que também tem quase 6,5 milhões de deslocados internos, segundo a ONU.

O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), que inicialmente considerou iniciar a operação nesta sexta-feira, indicou que sua equipe não conseguiu chegar à cidade ou "facilitar a passagem segura" de civis, mas que tentará novamente no sábado.

"Há muitas partes em ação e todos os detalhes não estão resolvidos para ter certeza de que isso acontecerá com a segurança adequada", explicou a entidade anteriormente.

"Retirada parcial"
A Rússia anunciou no início desta semana que reduziria suas operações em Kiev e na cidade de Chernihiv, no norte, para se concentrar nas regiões separatistas de Donetsk e Luhansk, no leste. 

Especialistas militares garantem que Moscou, diante da resistência ucraniana, busca agora estabelecer seu controle na faixa litorânea meridional que vai da península da Crimeia - anexada em 2014 - às duas regiões de Donbass, Donetsk e Lugansk, amplamente controladas por separatistas pró-russos.

O presidente ucraniano Volodimir Zelensky também disse na quinta-feira que o exército russo está se reagrupando para lançar "ataques poderosos" no sudeste, onde a situação é "muito difícil".

Zelensky agradeceu a visita a Kiev da presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola.

"Ela veio e é um sinal muito importante. Agradecemos o gesto e não o esqueceremos", declarou o presidente ucraniano, que elogiou o "heroísmo" da funcionária europeia para visitar a capital ucraniana.

No terreno, as forças armadas ucranianas disseram ter libertado 11 cidades na região sul de Kherson. Duas pessoas morreram e outras duas ficaram feridas em um bombardeio russo na quinta-feira, disse o governador regional nesta sexta-feira.

A Presidência ucraniana informou ter obtido a libertação de 86 dos seus soldados capturados pela Rússia, em troca de soldados russos cujo número não foi especificado.

A Unesco informou que, desde o início da invasão, 53 locais culturais ucranianos foram danificados. A lista inclui 29 edifícios religiosos, 16 edifícios históricos, quatro museus e quatro monumentos.

Guerra energética
A economia russa foi submetida a um arsenal de sanções ocidentais pela invasão da Ucrânia.

A União Europeia (UE) pediu nesta sexta-feira que a China "não interfira" para ajudar o presidente russo, Vladimir Putin, a diminuir o impacto dessas medidas.

"Esperamos que a China leve em consideração a importância de sua imagem internacional e a relação econômica entre a China e a UE", disse o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, ao final de uma videoconferência com o presidente chinês, Xi Jinping.

Putin proibiu os principais líderes dos países da UE de entrar na Rússia em retaliação e alertou os países europeus na quinta-feira que, a partir desta sexta-feira, terão que pagar em rublos pelo gás russo.

Ao contrário dos Estados Unidos, os países europeus não cancelaram as importações de combustíveis russos, dos quais depende grande parte de seu fornecimento de energia.

A guerra entre a Rússia e a Ucrânia, dois grandes produtores de matérias-primas, e as sanções internacionais colocam os mercados sob pressão, com a inflação se tornando mais pronunciada nos países industrializados.

Nos Estados Unidos, o aumento anual dos preços atingiu 6,4% e na UE um recorde de 7,4%.

O presidente dos EUA, Joe Biden, disse nesta sexta-feira que mais de 30 países se juntaram aos Estados Unidos na liberação de suas reservas de petróleo para mitigar o aumento dos preços dos combustíveis.

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