Ucrânia pede o envio de soldados da ONU à central nuclear de Zaporizhzhia
País solicitou envio de capacetes azuis da ONU para central nuclear de Zaporizhzia
A Ucrânia apoiou nesta quarta-feira (7) o envio de capacetes azuis da ONU à central nuclear de Zaporizhzia, ocupada pelas tropas russas, um dia após o pedido da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) para a criação de uma "zona de segurança".
"Mobilizar o contingente de manutenção de paz e retirar os militares russos pode ser um dos meios para criar a zona de segurança na central nuclear de Zaporizhzhia", declarou Petro Kotin, diretor da Energoatom, a operadora nuclear estatal ucraniana.
A AIEA, que enviou uma missão de especialistas ao local, pediu na terça-feira a criação de uma "zona de segurança" para evitar um acidente nuclear na central, cuja situação é "insustentável" devido aos bombardeios.
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As tropas russas tomaram o controle da usina no início de março, pouco depois do início da invasão à Ucrânia.
Há várias semanas, a central é alvo de bombardeios e de uma troca de acusações entre Moscou e Kiev.
A agência de segurança nuclear da Ucrânia alertou nesta quarta-feira que um acidente na central de Zaporizhzhia, a maior da Europa, afetaria os países vizinhos.
Em caso de danos no núcleo do reator, "haverá consequências não apenas para a Ucrânia, mas também além das fronteiras", advertiu em uma entrevista coletiva Oleg Korikov, diretor interino da agência.
Korikov afirmou que a central do sul do país, atualmente desconectada da rede de energia elétrica, está sob risco de entrar em uma situação na qual seus sistemas de segurança precisem ser alimentados por energia de reserva, que funciona com diesel.
"Mas em tempos de guerra é muito difícil repor as reservas de diesel, que exigem quatro tanques por dia", explicou Korikov.
"Potencialmente podemos enfrentar uma falta de diesel, o que pode provocar um acidente que danifique o núcleo do reator e, em consequência, liberar produtos radioativos no meio ambiente”, alertou.
De acordo com especialistas, a interrupção do abastecimento de energia elétrica dos reatores pode provocar a paralisação do resfriamento e a fusão do núcleo do reator.
Moscou pede esclarecimentos
Ao contrário do que indica o relatório da AIEA, o presidente russo, Vladimir Putin, afirmou que o país não instalou equipamentos militares em Zaporizhzhia.
Moscou pediu "esclarecimentos" à agência de energia atômica da ONU sobre o relatório publicado na terça-feira.
"São necessários esclarecimentos adicionais porque há vários pontos problemáticos no relatório", disse o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov.
"Não vou enumerá-los, mas pedimos os esclarecimentos ao diretor geral da AIEA", o argentino Rafael Grossi, que visitou a central Zaporizhzhia, afirmou Lavrov.
A usina de Zaporizhzhia recebeu na semana passada a visita de 14 especialistas da AIEA. Dois inspetores ficarão no local de forma permanente para tentar garantir a segurança da instalação.
Na segunda-feira, o último reator em funcionamento foi desconectado da rede de energia ucraniana, após um incêndio provocado por um bombardeio.
Putin responde acusações sobre o gás
A guerra provocou dezenas de milhares de mortes e deixou milhões de deslocados, além de ter desencadeado uma crise energética, com a disparada dos preços, e uma crise no abastecimento de grãos, dos quais Ucrânia e Rússia são dois grandes exportadores.
Putin negou nesta quarta-feira que seu país utilize a questão da energia como uma arma contra as sanções ocidentais, poucos dias depois de o grupo Gazprom interromper por tempo indeterminado o fornecimento de gás natural através do gasoduto Nord Stream, que liga a Rússia com a Alemanha.
Ele reiterou o argumento de que as sanções provocaram uma falta de peças de reposição que comprometem a integridade do gasoduto e afirmou que por culpa das medidas punitivas "entramos em um beco sem saída".
Também destacou que a Rússia não exportará mais gás nem petróleo para os países que adotarem um teto de preços para os combustíveis russos, como os países europeus planejam fazer para punir as finanças do Kremlin.
"Não entregaremos nada, em absoluto, se for contrário aos nossos interesses, neste caso econômicos. Nem gás, nem petróleo, nem carvão (...) Nada", disse Putin em um fórum econômico em Vladivostok, no extremo leste da Rússia.
O porta-voz da diplomacia ucraniana, Oleg Nikolenko, alertou que "Putin caminha para a segunda fase de uma guerra híbrida, ameaçando a estabilidade dos lares europeus".
Em outra acusação contra o Ocidente, Putin também afirmou que as exportações de cereais a partir dos portos ucranianos no Mar Negro, paralisadas após a invasão e retomadas graças a um acordo em julho entre Moscou e Kiev, estão seguindo mais para os países da União Europeia que para para as nações mais pobres.
"Isto pode levar a uma catástrofe humanitária sem precedentes", declarou Putin, que pretende consultar o presidente turco Recep Tayyip Erdogan, que atuou ao lado da ONU como mediador do acordo.
A Ucrânia rejeitou essas acusações, chamando-as de "mentiras", e seu ministro das Relações Exteriores, Dmytro Kuleba, assegurou que "no total, dois terços dos navios enviados vão para a Ásia, África e Oriente Médio".
Entre os países que, segundo ele, receberam grãos ucranianos, Kuleba citou China, Egito, Irã, Índia, Somália e Líbia.