Ucrânia procura sobreviventes em teatro atacado de Mariupol; Biden e Xi conversam sobre a guerra
As manobras e contatos diplomáticos acontecem enquanto as bombas continuam explodindo na Ucrânia
Os moradores de Mariupol prosseguem com a busca por sobreviventes nos escombros de um teatro bombardeado nesta cidade cercada da Ucrânia, cuja invasão pela Rússia será abordada em uma conversa nesta sexta-feira (18) entre os presidentes dos Estados Unidos e da China.
A ligação entre Joe Biden e Xi Jinping será a quarta desde a chegada do democrata à Casa Branca e, segundo Washington, servirá para alertar Pequim contra qualquer apoio ao presidente russo Vladimir Putin.
Biden "dirá claramente que a China terá responsabilidade por qualquer ato destinado a apoiar a agressão e não hesitaremos em impor um custo a isso", declarou na quinta-feira o chefe da diplomacia americana, Antony Blinken.
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Desde o início da invasão em 24 de fevereiro, o regime comunista chinês tenta proteger sua relação fluida com o Kremlin e evitou pedir a Putin a retirada de suas tropas da Ucrânia.
Ao mesmo tempo, no entanto, estabeleceu certa distância de uma Rússia cada vez mais isolada. Por exemplo, Pequim não apoiou uma resolução russa sobre a guerra na Ucrânia no Conselho de Segurança da ONU, que acabou sendo retirada por Moscou.
Os diplomatas russos "recorreram ao copatrocínio para o texto e não receberam retorno", disse uma fonte diplomática que pediu anonimato, dando a entender que China e Índia apoiavam a resolução e não teriam votado a favor.
Sobreviventes em Mariupol
As manobras e contatos diplomáticos acontecem enquanto as bombas continuam explodindo na Ucrânia, onde as vítimas civis estão na casa das centenas e exilados superam a marca de três milhões, de acordo com os balanços da ONU.
Na madrugada de sexta-feira as sirenes de alarme para bombardeios foram acionadas na capital Kiev, em Kharkiv (nordeste, segunda maior cidade do país) e em Odessa (sudoeste), no Mar Negro.
O prefeito de Lviv, Andriy Sadovy, anunciou um bombardeio com mísseis contra um fábrica de reparo de aviões nesta grande cidade do oeste da Ucrânia, que até agora não havia sofrido com a violência.
"O funcionamento da fábrica já havia sido suspenso, então não há vítimas no momento", escreveu o prefeito no Facebook.
Entre as cidades mais atingidas está Mariupol, um porto estratégico no Mar de Azov, cercada há duas semanas.
Todos os olhares estão voltados para um teatro bombardeado na quarta-feira, onde mais de mil pessoas haviam buscado proteção, segundo as autoridades locais.
Os moradores da cidade começaram a retirar os escombros e a resgatar os sobreviventes do ataque, mas ainda não há um balanço oficial de vítimas.
De fato, a representante ucraniana para os direitos humanos, Liudmyla Denisova, afirmou que "todos sobreviveram" ao ataque.
O parlamentar Serguei Taruta também declarou que o abrigo dentro do teatro pode ter resistido. "Era formado por três partes e ainda não sabemos se foram danificadas", escreveu no Facebook.
Várias pessoas "saíram durante a manhã, depois que os moradores retiraram por conta própria os escombros", acrescentou.
O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky chamou a Rússia de "Estado terrorista", enquanto Moscou afirmou que não bombardeou a cidade e atribuiu a destruição do teatro a um grupo de ultradireita ucraniano.
A prefeitura de Mariupol destacou uma situação "crítica", com bombardeios russos "ininterruptos" e muitos danos. De acordo com as primeiras estimativas, 80% das casas teriam sido destruídas.
Quase 30.000 pessoas conseguiram sair de Mariupol na última semana e os relatos descrevem um cenário atroz, sem água, energia elétrica e gás, o que obrigou muitas pessoas a beber neve derretida ou a fazer fogueiras para cozinhar os poucos alimentos.
"Nas ruas há corpos de muitos civis mortos", declarou à AFP Tamara Kavunenko, de 58 anos. "Não é mais Mariupol (...) é um inferno", disse.
O ministério russo da Defesa afirmou nesta sexta-feira que o exército do país e seus aliados separatistas estão em combate no centro de Mariupol.
"Em Mariupol, as unidades da República Popular (autoproclamada, ndr) de Donetsk, com o apoio das forças russas, estreitam o cerco e combatem os nacionalistas no centro da cidade", afirmou o porta-voz do ministério, Igor Konashenkov.
Ele disse ainda que as tropas russas e os separatistas de Lugansk controlam 90% do território da região ucraniana de mesmo nome. Pouco antes da ofensiva, Moscou reconheceu a independência dos territórios separatistas de Lugansk e Donetsk.
Apesar das sanções econômicas e da pressão internacional, após três semanas de ofensiva Moscou não dá sinais de flexibilização, apesar das negociações entre os dois lados.
Putin afirma que a ofensiva é um "sucesso" e seu porta-voz, Dmitri Peskov, declarou que "a maioria esmagadora" dos russos apoia as ações do presidente. Os demais são "traidores", disse.
O avanço terrestre, porém, parece estagnado e a Rússia recorre cada vez mais a ataques aéreos e de longo alcance para obter vantagem. De acordo com cálculos do Pentágono, Moscou já disparou mais de 1.000 mísseis na guerra.