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guerra na ucrânia

Ucrânia recolhe veículos blindados, munições e armas abandonadas pelos russos

A captura de itens dos adversários ocorre em quase todas as guerras, se os armamentos forem compatíveis

O conflito entrou em uma nova fase no final de agosto, com duas contraofensivas ucranianasO conflito entrou em uma nova fase no final de agosto, com duas contraofensivas ucranianas - Foto: Dimitar Dilkoff/ AFP

Há algumas semanas, a Ucrânia captura veículos blindados, munições e armas abandonadas pelo Exército russo durante sua retirada. A captura de itens dos adversários ocorre em quase todas as guerras, se os armamentos forem compatíveis.

O conflito entrou em uma nova fase no final de agosto, com duas contraofensivas ucranianas. Uma delas no nordeste do país, e outra, nas redondezas de Kherson, uma das primeiras cidades a serem dominadas, ao sul.

Após quatro meses de estagnação no "front" e de violentos combates com poucos avanços territoriais, os ucranianos reivindicaram a reconquista de milhares de quilômetros quadrados. E, embora os próprios russos tenham capturado material militar rival nos meses anteriores, a tendência se reverteu drasticamente.

Nem sempre o Exército do Kremlin faz a retirada corretamente. O instituto privado de inteligência britânica Janes cita a captura ucraniana de tanques, veículos blindados, peças de artilharia, caminhões de transporte de tropas, radares e equipamentos eletrônicos russos.

Compatibilidade
Mesmo que os dados não possam ser confirmados, Janes numerou a tomada de, pelo menos, 200 veículos, 70 blindados de infantaria, 40 tanques e 30 peças de artilharia.

"Muitos foram capturados no nordeste, na contraofensiva de Kharkiv e Izium", detalha um analista da Janes que pede anonimato. Os russos "parecem ter considerado que poderiam fugir mais rápido em veículos civis do que em blindados".

Ao norte de Kherson, a AFP conseguiu contar ao menos 20 tanques, lançadores de foguetes e veículos de transporte recentemente destruídos, ou danificados. Meia dúzia deles, vistos no início do dia, desapareceram horas depois.

"O fato de os projéteis terem sido deixados e de parte da pólvora ter sido espalhada para que não pudéssemos usá-la mostra que estavam fugindo, e muito rápido", afirma um socorrista, apelidado "Doc".

A utilização deste material bélico está bem organizada e exibida. O Twitter do Ministério ucraniano da Defesa divulgou na segunda-feira (17) imagens do reboque do "último modelo do T-90A", um tanque que permaneceu três meses submerso. "Já é hora deste tanque se juntar às fileiras do Exército ucraniano", tuitou o ministério.

A compatibilidade dos armamentos é uma vantagem notável. Kiev recebeu muitas armas e munições ocidentais modernas, mas seu equipamento inicial é de origem soviética.

"Um veículo blindado destruído também é importante pelas peças que não foram queimadas: os motores, as suspensões, as barras de tração, tudo isso é valioso. Nem mesmo a Rússia produz mais isso", destaca Pierre Grasses, historiador no laboratório parisiense Sirice, em entrevista à AFP.

A história da guerra está cheia de exemplos desse tipo.

"Os alemães utilizaram bastante materiais capturados aqui, ou ali", na Segunda Guerra Mundial, recorda um oficial militar francês de alta patente, que cita os "tanques franceses que estavam na frente oriental".

Rússia facilita a tarefa
Nesta guerra, porém, a Rússia facilita a tarefa para o adversário. Eles parecem não ter a logística que permitiria a recuperação do material danificado nos combates.

A princípio, "o material deve ser neutralizado antes de ser abandonado", explica a fonte francesa. Mas "o comando russo provavelmente não fornece informações para efetuar a neutralização, ou talvez não tenham material para isso".

"A perda de material reduz claramente a potência de combate russo, e não apenas a perda de terreno, mas também tem um efeito devastador no moral russo", indica Janes.

"Os ucranianos brincam que começaram a ofensiva de Kharkiv em uma brigada mecanizada e terminaram em uma brigada blindada", completou.

Tudo isso beneficia os aliados da Ucrânia. Ainda de acordo com Janes, "isso também significa que as agências e os técnicos de Inteligência ocidental poderão avaliar equipamentos russos".

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