Logo Folha de Pernambuco

Guerra na Ucrânia

Ucrânia reforça contraofensiva com ataques no sul; Putin diz que confrontos aumentaram

Avanços ucranianos até agora ocorriam em ritmo mais lento que o esperado, despertando indagações internacionais

Soldados ucranianos fazem exercícios de treinamento em Berlim Soldados ucranianos fazem exercícios de treinamento em Berlim  - Foto: Sergei Supinsky/AFP

A Ucrânia deu início a uma etapa aguardada de sua contraofensiva, aumentando os ataques contra as linhas de frente da Rússia no sul. Segundo o presidente da Rússia, Vladimir Putin, os embates se "intensificaram significativamente" na região de Zaporíjia, no que analistas dizem poder ser uma tentativa de romper os elos terrestres de Moscou com áreas importantes da já há nove anos ocupada Península da Crimeia.

À Bloomberg, uma autoridade dos Estados Unidos que pediu para não ser identificada afirmou que os ucranianos fazem avanços significativos na região de Zaporíjia, uma das quatro áreas unilateralmente anexadas há quase um ano, junto com a vizinha Kherson e Donetsk e Luhansk, no leste. As autoridades russas também relataram um grande assalto do país do presidente Volodymyr Zelensky mais de sete semanas após o início da contraofensiva.

O Comando-Maior da Ucrânia disse que os russos concentram seus "principais esforços em prevenir mais avanços" de Kiev. Segundo os militares, as forças ucranianas "continuam a conduzir uma operação nas direções de Melitopol e Berdyansk" — ambas cidades estão no Mar de Azov, que o país invadido deseja alcançar para abrir uma brecha entre os territórios ocupados pela Rússia no leste e no sul.

 

O Comando-Maior se recusou a confirmar se a contraofensiva entrou em uma nova etapa. Anonimamente, contudo, militares ucranianos disseram que unidades de reserva ainda não haviam sido deslocadas para a operação e que as tropas já engajadas buscavam criar brechas na defesa russa.

— Glória a todos os que defendem a Ucrânia! A propósito, nossos meninos na frente tiveram resultados muito bons hoje — disse Zelensky em seu discurso de quarta à noite, sem maiores informações. — Bom trabalho! Detalhes depois.

Analistas do Instituto para o Estudo da Guerra, um centro de pesquisa sediado em Washington, disseram que "uma significativa operação contraofensiva mecanizada" parece ter "avançando em certas posições de defesa russas previamente preparadas". Afirmam, entretanto, que um leque de declarações divergentes de blogueiros militares russos sobre a escala do ataque e o número de baixas fazem com que a situação seja pouco clara.

O novo momento da guerra coincide com uma cúpula em São Petersburgo, convocada pelo presidente Vladimir Putin para reforçar laços com os países da região e projetar uma influência crescente no Sul Global. O comparecimento, contudo, ficou aquém do esperado: apenas 17 chefes de Estado haviam confirmado presença, menos da metade dos 43 que estiveram presentes em 2019.

Autoridades ucranianas admitiram nas últimas semanas que a contraofensiva vem sendo mais difícil que o esperado, com avanços lentos entre os campos minados, barreiras de tanques e trincheiras russas. O controle e a superioridade militar do Kremlin também dificulta que seus avanços terrestres tenham apoio aéreo.

Paralelamente, Kiev e oficiais militares ocidentais apontavam para uma estratégia de desgastar unidades russas com poucos homens na frente de 1,5 mil km. A abordagem inclui conter a principal força de assalto ucranianas — elas têm o apoio de unidades equipadas e treinadas pela Organização para o Tratado do Atlântico Norte (Otan) —, para que possam explorar pontos fracos e romper as linhas russas.

Os ucranianos já recorreram a tais distrações, criando uma armadilha para em seguida dar seu golpe fatal. Um exemplo disso foi sua operação no ano passado no sul, que voltou a atenção de Moscou para a região, seguida da retomada de territórios no Norte do país há pouco menos de um ano.

— A questão agora é se os ucranianos estão mobilizando algumas das unidades que retiveram e pondo todas na contraofensiva — disse o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, a repórteres na Nova Zelândia.

Ao New York Times, dois funcionários não identificados do Pentágono afirmaram que a Ucrânia lançou a parte principal de sua contraofensiva. Também segundo fontes americanas ouvidas pelo jornal, o centro dos esforços ucranianos seria na direção de Robotyne, a cerca de 10 km da cidade de Orikhiv, controlada pelos ucranianos, e 80 km ao norte de Melitopol.

— Dizemos desde o início que esta seria uma dura luta, que seria uma guerra longa e com desafios, sucessos e contratempos — disse o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, a repórteres na quinta-feira em uma coletiva de imprensa em Papua-Nova Guiné. — Eles estão trabalhando para passar pelos campos minados e outros obstáculos, mas ainda têm muito poder de combate — completou ele, sem comentar diretamente sobre a contraofensiva.

Um militar ucraniano, contudo, rechaçou o afirmado pelas autoridades americanas, alergando que as forças de Kiev estavam em posições defensivas ao redor de Robotyne. Um funcionário da Embaixada da Ucrânia em Washington também alertou ao NYT que seria contraproducente retratar qualquer parte da contraofensiva como uma batalha decisiva, descrevendo a guerra contra a Rússia como uma longa série de operações.

As Forças Especias ucranianas, por sua vez, divulgaram um vídeo que parece mostrar soldados ucranianos fazendo soldados russos de prisioneiros no vilarejo de Staromaiorske. O local, a aproximadamente 144 km ao norte de Berdyansk, fica perto de uma aglomeração de pequenas autoridades agrícolas ao longo de um rio sinuoso — área reivindicada por Kiev nos dias iniciais da contraofensiva.

Em paralelo, os russos intensificaram seus ataques contra Odessa, cidade no sul da Ucrânia cujo porto era fundamental para o acordo de grãos mediado há um ano pela ONU e pela Turquia e suspenso pelos russos na semana passada. Um homem morreu, segundo o governador local, Oleg Kiper, em decorrência dois mísseis tipo Kalibr disparados de um submarino no Mar Negro e que não puderam ser interceptados.

As instalações de um terminal para carga também ficaram danificadas, um pequeno edifício foi destruído, assim como dois veículos. Segundo a Força Aérea da Ucrânia, os russos também lançaram oito drones kamikazes contra as regiões de Khmelnitski, no oeste; Dnipropetrovsk, no centro-este, e Donetsk. Todos eles foram derrubados.

Veja também

Ucrânia pede sistemas de defesa para enfrentar novos mísseis russos
Ucrânia

Ucrânia pede sistemas de defesa para enfrentar novos mísseis russos

Hospitais de Gaza em risco por falta de combustível
Gaza

Hospitais de Gaza em risco por falta de combustível

Newsletter