Ucrânia resiste a avanço russo e Zelensky diz que fica em Kiev
Presidente convoca militares e cidadãos ucranianos para a defesa do país
O avanço das forças da Rússia na Ucrânia se deparou nesta sexta-feira (25) com uma forte resistência na capital, Kiev, onde o presidente Volodymyr Zelensky desafiou os apelos do líder russo, Vladimir Putin, para que fosse derrubado pelo próprios ucranianos.
Putin convocou o Exército ucraniano a tomar o poder no segundo dia de invasão, que já provocou a fuga de mais de 50.000 ucranianos do país, assim como 100.000 deslocados internos - segundo a ONU - e mais de 100 mortos, de acordo com Kiev.
Em pronunciamento na TV, o presidente russo classificou o governo de Zelensky como "um bando de viciados em drogas e neonazistas", e afirmou, dirigindo-se aos militares ucranianos: "Tomem o poder com suas mãos. Acredito que será más fácil negociarmos vocês e eu."
Zelensky respondeu com a divulgação de um vídeo gravado em frente ao palácio presidencial. "Estamos todos aqui, nossos militares estão aqui, os cidadãos, a sociedade, estamos todos aqui, defendendo a nossa independência, o nosso Estado", proclamou, ao lado de seus principais colaboradores. Zelensky elogiou o "heroísmo" da população diante do avanço da Rússia rumo à capital.
O secretário-geral da Otan, o norueguês Jens Stoltenberg, também elogiou a mobilização das forças ucranianas, "que lutam com coragem e mantêm sua capacidade de causar perdas às forças invasoras russas".
Leia também
• Ucrânia pediu ajuda financeira de emergência ao FMI
• Tiroteios são registrados em Kiev; Ucrânia afirma ter abatido quatro aeronaves militares russas
• Rússia veta resolução que deplora 'agressão' à Ucrânia no Conselho de Segurança
Nesse sentido, um funcionário do alto escalão do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, que preferiu manter o anonimato, afirmou que a ofensiva russa estava perdendo força, sobretudo em Kiev, devido à resistência dos ucranianos.
O Ministério de Defesa da Ucrânia, por sua vez, afirmou que suas tropas eliminaram 2.800 soldados russos, sem apresentar provas. Moscou não divulgou informações sobre baixas em suas fileiras até o momento.
Zelensky contou que conversou com o presidente americano, Joe Biden, sobre o "reforço das sanções, de uma assistência de defesa concreta e de uma coalizão antiaérea", além de manifestar seu "agradecimento" pelo "forte" apoio americano.
A Otan anunciou que ativará seus planos de defesa, "para impedir excessos contra territórios da aliança", segundo Stoltenberg. Trata-se da Força de Resposta, um corpo formado por 40.000 militares, cuja ponta de lança, a Força Conjunta de Alta Prontidão (VJTF, sigla em inglês), conta com 8.000 membros.
Corpos nas ruas
Ao amanhecer desta sexta-feira, era possível ouvir disparos e explosões no bairro residencial de Oblon, norte de Kiev, provocados pelo que parecia um regimento avançado das forças russas.
Jornalistas da AFP viram um corpo na calçada e ambulâncias socorrendo uma pessoa que teve o carro "atropelado" por um veículo blindado.
Durante o dia, as sirenes e explosões não deixaram de soar em Kiev, cidade que, após a fuga de muitos moradores, apresenta um aspecto fantasmagórico. Veículos blindados e soldados patrulhavam os cruzamentos em torno do distrito onde ficam os edifícios do governo.
As forças ucranianas informaram nesta sexta-feira que combatiam unidades russas em Dymer e Ivankiv, localidades situadas 40 e 80 quilômetros ao norte de Kiev, respectivamente. Os russos estariam avançando também pelo nordeste e leste, segundo a mesma fonte.
O Ministério da Defesa ucraniano convocou a população a resistir. "Pedimos aos cidadãos que nos informem sobre a movimentação de tropas, que fabriquem coquetéis Molotov e neutralizem o inimigo", disse.
Putin, por outro lado, está disposto a enviar uma delegação a Minsk, capital de Belarus, país aliado da Rússia, para negociar com a Ucrânia, indicou seu porta-voz, Dmitry Peskov. Contudo, o porta-voz do Departamento de Estado americano, Ned Price, criticou a proposta, qualificando-a de "diplomacia sob a mira de uma pistola, quando as bombas, os disparos de morteiro e a artilharia de Moscou estão apontadas contra os civis" ucranianos.
Sanções em todos os âmbitos
A Rússia exige que a Ucrânia abandone sua ambição de aderir à Otan e pede que a aliança militar liderada pelos EUA reduza a sua presença no Leste Europeu.
Após a ofensiva, a União Europeia (UE) desbloqueou um pacote de sanções "maciças" nos setores de energia e financeiro. O próprio Putin e seu chanceler, Sergei Lavrov, foram incluídos hoje na lista de personalidades sancionadas, com ativos congelados, por União Europeia, Reino Unido e Canadá, enquanto os Estados Unidos anunciaram que tomariam medidas semelhantes.
Zelensky pediu ao Ocidente que expulsasse a Rússia do sistema de transferências bancárias Swift, mas alguns países da União Europeia, como Alemanha e Hungria, manifestaram suas dúvidas, pelo temor de que essa medida pudesse provocar problemas na entrega de gás russo. Em resposta, a porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova, afirmou que as sanções contra Putin e Lavrov mostram "a impotência" dos ocidentais.
Outra retaliação veio da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), que rejeitou o processo de adesão da Rússia e fechou seu escritório em Moscou.
A resposta à invasão também chegou ao esporte e ao mundo da cultura. A Uefa retirou São Petersburgo como sede da final da Liga dos Campeões, que será disputada agora em Paris. Além disso, a organização da Fórmula-1 cancelou a realização do Grande Prêmio da Rússia, que fazia parte do calendário de 2022 da categoria.
O Eurovision, popular concurso musical disputado por representantes de diferentes países do continente, anunciou que fecharia suas portas a concorrentes do país invasor.
O Papa Francisco, por sua vez, reuniu-se com o embaixador russo no Vaticano para manifestar "sua preocupação". Em um tuíte, publicado em vários idiomas, entre eles o russo, afirmou que "toda guerra é uma rendição vergonhosa".