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GUERRA NA UCRÂNIA

Ucrânia tenta retirar mais civis de Mariupol e Kiev entra em toque de recolher

Mais de 200 mil pessoas estão bloqueadas em Mariupol

Bandeira da UcrâniaBandeira da Ucrânia - Foto: Thomas Coex/AFP

As autoridades ucranianas anunciaram nesta terça-feira (22) uma nova tentativa de retirar os civis da cidade portuária de Mariupol, cercada pelas tropas russas praticamente desde o início da invasão há um mês, ao mesmo tempo que a capital Kiev iniciou um toque de recolher.

Mais de 200 mil pessoas estão bloqueadas em Mariupol, descrita por aqueles que conseguiram fugir como um "inferno gelado repleto de cadáveres e edifícios destruídos", afirmou a organização Human Rights Watch, que citou um balanço divulgado por um funcionário do governo local.

"Sabemos que não haverá espaço suficiente para todos nesta terça-feira, mas vamos tentar concretizar a retirada até a saída de todos os habitantes de Mariupol", disse a vice-primeira-ministra Iryna Vereschuk.

Com o país sob ataques constantes, o presidente ucraniano Volodimir Zelensky convidou o papa Francisco a atuar como mediador no conflito, um dia depois de se declarar aberto a discutir qualquer questão em um diálogo direto com Vladimir Putin.

Nas frentes de batalha, a violência não dá trégua, mas sem grandes vitórias para as tropas russas, o que leva alguns a temer uma intensificação dos ataques.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, alertou que Putin está considerando usar armas químicas e biológicas na Ucrânia, enquanto conversa com os aliados europeus sobre o que chamou de "táticas brutais" de Moscou.

Na quinta-feira, o atual ocupante da Casa Branca viajará a Bruxelas para uma série de encontros com líderes da Otan, da União Europeia (UE) e do G7 antes de visitar a Polônia, país que recebeu a maioria dos três milhões de exilados ucranianos.

Tentativa "desesperada" 
Desde o início da invasão, em 24 de fevereiro, ao menos 117 crianças morreram na guerra, informou o Ministério Público Federal da Ucrânia. Além disso, 548 escolas foram atingidas - 72 delas completamente destruídas.

Uma fonte do Departamento de Defesa dos Estados Unidos afirmou que a Rússia intensificou a atividade militar, com 300 voos em 24 horas, em uma tentativa "desesperada" de mudar o cenário contra a resistência ucraniana.

O comando militar da Ucrânia afirmou que as tropas russas têm munições, comida e combustível apenas para mais três dias. Também afirmou que 300 soldados russos desertaram na região de Sumy (nordeste).

Mesmo nas áreas capturadas pela Rússia persiste a resistência. Autoridades ucranianas acusaram nesta terça-feira as tropas russas de abrir fogo contra manifestantes desarmados na cidade ocupada de Kherson.

Vídeos publicados nas redes sociais e no aplicativo Telegram mostram dezenas de pessoas reunidas na Praça Liberdade de Kherson para protestar contra a tomada da cidade.

Os soldados russos aparecem nas imagens atirando para o alto, enquanto um idoso ensanguentado é retirado do local, mas as autoridades afirmaram que não foram registradas mortes.

Negociar com Putin
As autoridades ucranianas afirmaram que a prioridade desta terça-feira é a retirada de moradores de Mariupol. Para isto foram elaboradas três rotas entre a cidade e Zaporizhzhia, a mais de 200 km de distância.

A localidade, às margens do Mar de Azov, é bombardeada sem trégua e mais de 2.000 pessoas morreram, segundo as autoridades locais.

A Rússia anunciou que Mariupol tinha até 5h00 de segunda-feira para rendição, mas a Ucrânia rejeitou o ultimato e afirmou que a resistência na cidade fortaleceu a defesa de toda a Ucrânia.

Mariupol é um alvo crucial na guerra de Putin, por servir de ponte entre as forças russas na Crimeia e nos territórios controlados por Moscou no norte e leste.

As negociações entre Rússia e Ucrânia registram poucos avanços. Depois de conversar nesta terça-feira por telefone com o papa Francisco, o presidente ucraniano afirmou que o governo "apreciaria" que a Santa Sé assumisse "um papel de mediador [...] para acabar com o sofrimento humano".

Na véspera, Zelensky insistiu na necessidade de estabelecer uma discussão direta com Putin na qual seria possível "abordar todas as questões", inclusive o status da península da Crimeia anexada pela Rússia e das áreas separatistas pró-Moscou do Donbas (leste).

"No primeiro encontro com o presidente da Rússia, estou preparado para abordar estes temas", declarou Zelensky. "Resolveríamos tudo na reunião? Não, mas existe a possibilidade de que possamos, ao menos parcialmente, deter a guerra", acrescentou.

Ele insistiu que a Ucrânia "já entendeu" que não pode aderir à Otan, mas acrescentou que suas compatriotas não podem simplesmente "entregar" a capital ou as cidades de Kharkiv e Mariupol.

"A Ucrânia não pode aceitar nenhum ultimato da Rússia. Em primeiro lugar, terão que destruir a todos e só então seus ultimatos serão respeitados", disse.

Toque de recolher em Kiev 
Kiev prossegue em um toque de recolher de 35 horas que começou às 20H00 (15H00 de Brasília) de segunda-feira, depois que os bombardeios russos destruíram o shopping Retroville, onde morreram pelo menos oito pessoas.

"Foi a maior bomba que caiu na cidade até agora", declarou Dima Stepanienko, de 30 anos.

A Rússia afirmou que o centro comercial era utilizado para armazenar sistemas de foguetes e munições.

A secretária de Direitos Humanos do Parlamento ucraniano, Liudmila Denisova, afirmou que vários ataques russos foram registrados no leste do país nas últimas horas.

Ela disse que "disparos de artilharia e bombardeios aéreos destruíram completamente Avdivka", na periferia de Donetsk, onde morreram cinco civis.

Em Lysyshansk, 150 km ao nordeste, morreram duas pessoas, E em Kharkiv (nordeste), pai, mãe e a filha de nove anos morreram e o filho de 17 anos ficou ferido quando um tanque russo atirou contra seu carro, apesar do veículo exibir uma bandeira branca.

A guerra provocou o deslocamento de quase 10 milhões de ucranianos - um terço deles deixaram o país -, segundo a ONU, enquanto aumenta o temor de fome em outros países porque Rússia e Ucrânia são grandes exportadores agrícolas.

Para tentar suavizar a devastação econômica da Ucrânia, os líderes europeus estimulam a criação de um fundo fiduciário para o país, segundo um rascunho de documento ao qual a AFP obteve acesso.

"A UE se compromete a prestar apoio ao governo ucraniano para suas necessidades imediatas e, após o fim do ataque russo, para a reconstrução de uma Ucrânia democrática", afirma o texto.

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