UE anuncia 'pausa' nas negociações sobre programa nuclear iraniano após exigências russas
Há apenas uma semana, diplomatas falavam de um acordo iminente, mas no dia seguinte, Moscou, pilar fundamental das negociações, interrompeu o progresso
A União Europeia (UE), que supervisiona as negociações do programa nuclear iraniano em Viena, anunciou nesta sexta-feira (11) uma "pausa" nas conversas, coincidindo com o pedido russo de garantias adicionais.
"Temos que pausar as negociações devido a fatores externos", disse o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell. "Há um texto final, praticamente pronto, que está sobre a mesa", garantiu.
Borrell disse que permanece "em contato" com as diferentes partes e com os Estados Unidos "para superar a situação atual e chegar a um acordo".
Há apenas uma semana, diplomatas falavam de um acordo iminente, mas no dia seguinte, Moscou, pilar fundamental das negociações, interrompeu o progresso.
A Rússia, afetada pelas sanções ocidentais após a invasão da Ucrânia, pediu aos Estados Unidos garantias de que as novas sanções não afetariam sua cooperação econômica com o Irã.
O secretário de Estado americano, Antony Blinken, classificou essas demandas como "irrelevantes", embora tenham conseguido suspender as negociações.
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À sombra da Ucrânia
"O conflito na Ucrânia agora estourou de uma maneira muito concreta" esta questão que geralmente causa tensões geopolíticas, disse à AFP Eric Brewer, do Nuclear Threat Initiative( instituto de pesquisa de ameaças nucleares) dos EUA.
As exigências russas "prejudicaram o mecanismo na última hora, ameaçando comprometer as discussões e impedir o restabelecimento do pacto", conhecido pela sigla JCPOA, alertou.
Onze meses atrás, o Irã retomou as negociações em Viena com as grandes potências para tentar salvar o acordo de 2015.
O acordo foi assinado pelo Irã, de um lado, e Estados Unidos, China, França, Reino Unido, Rússia e Alemanha, do outro, e tinha como objetivo impedir que Teerã adquirisse a bomba atômica em troca do levantamento das sanções econômicas que sufocam sua economia.
Em 2018, os Estados Unidos se retiraram do acordo sob o presidente Donald Trump e reimpuseram sanções.
Em resposta, o Irã parou de honrar seus compromissos. Deixando o Palácio de Coburg, onde as negociações estão ocorrendo, o diplomata da UE Enrique Mora disse esperar que as negociações sejam retomadas "muito, muito em breve".
"O Irã e os Estados Unidos sempre tiveram uma abordagem muito construtiva e positiva", disse ele. "Estamos na fase de notas de rodapé", acrescentou.
Já o negociador russo Mikhail Ulyanov denunciou "tentativas de colocar toda a culpa" em Moscou.
A arma do petróleo
O Irã, próximo à Rússia, está em uma posição difícil e na quinta-feira culpou os Estados Unidos por supostamente levantar "novas exigências".
Nesta sexta-feira, o porta-voz das Relações Exteriores do Irã, Said Khatibzadeh, demonstrou calma. "Nenhum fator externo afetará nosso desejo comum de chegar a um acordo coletivo", reagiu ele no Twitter.
"A pausa pode servir de impulso para resolver questões pendentes", acrescentou.
No entanto, alguns especialistas temem que a Rússia esteja "instrumentalizando a questão iraniana", segundo Clément Therme, especialista em Oriente Médio.
"A estratégia da Rússia pode ser atrasar a retomada do acordo para evitar o fluxo de petróleo iraniano no mercado", o que reduziria os preços, disse ele à AFP.
"Ao manter o preço do petróleo alto, o Kremlin pode usar a arma energética contra o Ocidente", diz o especialista, que leciona na Universidade Paul Valéry, em Montpellier.
Já o Irã tem uma margem de manobra estreita devido à sua posição de "fragilidade" e "assimetria de sua relação" com a Rússia, analisa.
Além disso, a República Islâmica "se recusa a negociar diretamente com os Estados Unidos, o que aumenta sua dependência da China e da Rússia".
Caso Moscou mantenha a sua posição inflexível, “outras opções” serão possíveis”, afirma um diplomata europeu de alto escalão, sem querer dar mais detalhes neste momento.
"Não queremos estar em uma situação binária de deixar a Rússia tomar o JCPOA como refém", disse ele.