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Guerra

Ultimato de Israel à Gaza não impediu bombardeios ao sul e abriu período sangrento para palestinos

Do total de 3.875 palestinos mortos, segundo dados do Ministério de Saúde de Gaza administrado pelo Hamas, 2.248 pessoas morreram no enclave palestino entre o dia do ultimato e esta quinta-feira

Bombardeio destrói casas e prédios em Rafah, na Faixa de GazaBombardeio destrói casas e prédios em Rafah, na Faixa de Gaza - Foto: Mohammed Abed/AFP

Quando Israel deu um ultimato para que a população civil do norte da Faixa de Gaza, cerca de 1,1 milhão de pessoas, deixasse a região para buscar refúgio a sul do Rio Wadi Gaza, que divide o enclave em dois, a perspectiva de escapar do intenso bombardeio aéreo israelense era o principal objetivo dos quase 600 mil cidadãos que participaram do deslocamento em massa que gerou condenações da comunidade internacional e alertas sobre uma possível catástrofe humanitária. Uma semana depois do ultimato, a esperança foi pelos ares. As Forças Armadas de Israel bombardearam Gaza centenas de vezes após o anúncio, incluindo cidades no sul que receberam a maior parte dos deslocados internos, de acordo com o próprio Exército do país.

Relatórios publicados pelas Forças de Defesa de Israel apontam que os bombardeios continuaram a acontecer desde o ultimato. Embora não detalhem quantos alvos foram atingidos desde então (a última informação neste sentido foi em 12 de outubro, dia do ultimato, em que menciona 2.687 alvos atingidos em território palestino). Desde então, os relatórios apontam "centenas" de ataques aéreos, sem apontar um número exato, mas confirmam que ao menos Khan Yunis, uma das maiores cidades ao sul, foi bombardeada.

"Os ataques aéreos das FDI continuam contra o Hamas em Gaza", aponta o relatório publicado no dia 15 de outubro. "Locais foram atacados em Zaytun, Khan Yunis, Jabalia, Al-Furqan e Beit Hanoun", citando a cidade do sul, em meio aos vários alvos no norte.

Os militares israelenses afirmam que todos os alvos atacados são cuidadosamente escolhidos a partir de informações de inteligência, e miram ativos militares do Hamas, incluindo líderes envolvidos no ataque terrorista de 7 de outubro (ao menos nove lideranças foram eliminadas desde então). Contudo, autoridades do Hamas e observadores internacionais em Gaza relatam ataques sistemáticos à população civil.

De acordo com os dados oficiais do Ministério da Saúde de Gaza, administrado pelo Hamas, 2.248 pessoas morreram no enclave palestino entre o dia do ultimato e esta quinta-feira. O número inclui cerca de 500 mortos no ataque ao Hospital Árabe al-Ahli, que Israel nega ter bombardeado e culpa o grupo terrorista Jihad Islâmica. Os militares do Estado Judeu respondem às acusações de ataque a população civil, argumentando que os terroristas usam a população palestina como escudo-humano.

Por todo o sul, os relatos são de bombardeios incessantes. Em entrevista ao GLOBO, brasileiros relataram uma noite de terror em uma casa da embaixada brasileira a 1 km da fronteira com o Egito em Rafah.

— Houve um bombardeio muito violento à noite, e não conseguimos dormir. Não há proteção em Gaza, todos morrerão aqui. A situação é muito difícil e todos estão em perigo. Israel está matando todo mundo — disse Alajrami Ahamed, de 43 anos.

Ao longo dos sete dias após a ordem de evacuação, relatos similares se multiplicaram. Um comboio que deixava o norte palestino foi atingido logo após o ultimato. Uma verificação independente de vídeos feita pela BBC confirmou que ao menos 12 pessoas morreram, a maioria mulheres e crianças, algumas delas parecendo ter entre dois e cinco anos.

Questionado sobre a razão pela qual Israel continuou a atacar no sul de Gaza depois de ordenar que as pessoas se retirassem de lá, o major Nir Dinar, um porta-voz militar israelense, disse que Israel procurou evitar baixas civis, mas que membros do Hamas continuavam se escondendo entre a população. O major disse que o sul de Gaza era relativamente mais seguro que o norte, mas não totalmente seguro.

No relatório publicado pelas forças de Israel na quarta-feira, os militares informam que um novo apelo foi feito à população no norte da Faixa de Gaza e na Cidade de Gaza, para que fiquem em uma zona humanitária ao sul do Wadi Gaza. Não há relatos sobre a adesão dos palestinos.

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