Último paciente vindo do Amazonas internado no Recife recebe alta
Das 26 pessoas recebidas em Pernambuco, 16 se recuperaram e 10 não resistiram
O autônomo Artur Uchôa, de 50 anos, foi o último paciente do grupo do Amazonas que veio para o Recife fazer tratamento contra a Covid-19 a receber alta. Ele estava internado no Hospital das Clínicas da UFPE/Ebserh e deixou a unidade nesta quarta-feira (3).
Ele chegou em estado bastante grave, no último dia 26 de janeiro, e passou tanto pela Unidade de Terapia Intensiva (UTI) quanto pela Enfermaria de Doenças Infecciosas e Parasitárias (DIP) do hospital-escola, que é uma unidade vinculada à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh).
“Em 24 de janeiro, estava muito mal de saúde e fui a um dos hospitais públicos de Manaus. Vivi aquele terror no sistema de saúde da falta de vagas e sem oxigênio nos hospitais. Das 16h às 21h, vi cerca de dez pessoas morrerem lá. Voltei para casa e, no dia seguinte, fui a outro hospital, onde fiz um exame que mostrou 85% de comprometimento dos pulmões. Lá, me disseram que não havia vaga, mas que sairia um avião para o Recife naquela noite e me perguntaram se eu poderia ir. Não pensei duas vezes. Eu quero viver”, afirma Artur, que tem esposa e três filhos, de 22, 15 e 4 anos. “Liguei logo para o meu filho mais velho levar roupas para eu viajar e me internar”, disse.
A alta foi marcada pela emoção tanto de Artur quanto da equipe de assistência do HC. “Vocês (profissionais do HC) me ensinaram como é cuidar de gente. Trabalho com vendas e viajo pelo Brasil e falo de coração que o que me encantou aqui em Pernambuco foi o carinho das pessoas. Todos os profissionais daqui foram sempre muito atenciosos e carinhosos. Tô lisonjeado com isso tudo o que fizeram por mim desde o primeiro momento”, completou Artur, agradecido e emocionado.
Em estado grave, Artur foi encaminhado direto da Base Aérea do Recife para a UTI do HC, em 26 de janeiro, onde ficou sob tratamento por 21 dias (12 deles intubado). Com o quadro clínico estabilizado, ele passou a ser assistido pela equipe da Enfermaria de DIP no dia 16 de fevereiro até receber a alta e poder voltar para Manaus.
“Tive muito medo de morrer, mas também tenho muita fé. No dia 12 de janeiro, comecei a sentir sintomas gripais, procurei o médico, fiz um exame que deu negativo e tratei como uma gripe, com uns chás e algumas medicações. Mas o quadro foi piorando e um novo exame, dessa vez, um PCR, deu positivo. A Covid não é uma doença igual para todos: não sabemos como o vírus vai reagir em cada organismo, como estará a imunidade, como as outras doenças que a pessoa tem pode piorar o estado. Minha cunhada, por exemplo, ficou 77 dias internada; meu irmão ficou 45 dias. É difícil demais”, relata Artur.
E a saudade, como está depois de tanto longe de casa? “É grande. Saudade da esposa, dos filhos, dos amigos da Igreja (ele é adventista) e de tomar o açaí de lá que é muito bom e gostoso. Mas fiquei bem tranquilo aqui e nesse tempo final com a reabilitação. Ainda ando devagar e sinto cansaço, mas vou me recuperar rápido. Vou precisar dar continuidade a essa recuperação lá em Manaus”, finalizou Artur.
Ao todo, o HC recebeu 15 pessoas do Amazonas, estado que ainda vive momento crítico em seu sistema de saúde. Dessas, 11 foram curadas e receberam alta retornando às suas casas, duas foram transferidas para a UTI do Hospital de Referência à Covid-19 (Alfa), em Boa Viagem, na Zona Sul do Recife, e duas não resistiram à gravidade da doença.
“Recebemos o chamado do Ministério da Saúde e cumprimos nosso dever: recuperamos os pacientes, mesmo aqueles que estiveram em cuidado de terapia intensiva, como o último que recebeu alta hoje. Isso é motivo de grande satisfação para toda a equipe do HC, que se mobilizou para que todas as etapas fossem realizadas da melhor maneira do ponto de vista técnico e da humanização”, destaca o superintendente do HC, Luiz Alberto Mattos.
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Na equipe do HC, o sentimento é de missão cumprida. “Tratamos os pacientes vindos de Manaus, muitos deles em estado grave, como o senhor Artur, num estágio avançado da doença, em que fica mais difícil o tratamento. Esse foi mais um período desafiador para a nossa equipe, já que tivemos que voltar a adotar os protocolos para a Covid-19, que são diferenciados e detalhados”, explica a chefe da UTI, Michele Godoy.
Esses pacientes chegaram ao Recife em dois voos da Força Aérea Brasileira, nos dias 23 e 26 de janeiro, como parte da Operação Manaus, iniciada em meados de janeiro e coordenada pelo Ministério da Saúde, para tratar centenas de pessoas.
Em parceria com o Ministério da Educação, hospitais universitários federais da Rede Ebserh, como é o caso do HC, já acolheram mais de 200 pessoas da região Norte.
O Hospital de Referência à Covid-19 (Alfa), que integra a rede de leitos da SES-PE, também não tem mais pacientes oriundos do Amazonas em tratamento. Entre os que recebeu, sete se recuperaram e voltaram para casa e outros seis não resistiram.