Um dia após visita de Bolsonaro, curto circuito provoca explosões em rede no Amapá
Segundo a CEA, bairro de Macapá foi afetado, mas rodízio de energia no resto do estado continua
Nem 20 dias depois de um apagão que atingiu 14 das 16 cidades do Amapá, deixando 90% da população do estado no escuro, um trecho da zona norte de Macapá ficou novamente sem energia na noite do último domingo (22), após um curto circuito na rede elétrica de alta tensão provocar explosões em série.
O curto circuito aconteceu um dia depois da visita do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ao Amapá e 19 dias depois do incêndio que destruiu os transformadores da subestação de energia elétrica do Amapá, que resultou na implantação de um rodízio de energia que já dura 17 dias.
O apagão no Amapá já dura 20 dias. Ontem Macapá também sofreu com um forte temporal e inundações. O resultado foi esse: curto-circuito e explosões na rede elétrica. Isso tudo um dia após Bolsonaro visitar o Estado pra "religar a luz". O povo amapaense merece respeito! #SOSAmapa pic.twitter.com/Sa56BHDgGj
— Marcelo Freixo (@MarceloFreixo) November 23, 2020
Apavorados, alguns moradores filmaram as explosões na rede elétrica e postaram os vídeos nas redes sociais, relatando medo de que elas pudessem provocar incêndios. "Senhor, misericórdia, nos ajude. Desliga o computador lá de casa", diz, desesperada, uma moradora do bairro Novo Brasil, na zona norte, onde aconteceu o incidente. O risco de incêndios serem provocados pelas oscilações de energia elétrica durante o racionamento de energia imposto aos amapaenses, inclusive, é alvo de investigações do Corpo de Bombeiros.
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Sobre as explosões e o novo apagão que afetou a zona norte de Amapá no domingo, a CEA informou que um "problema na rede elétrica causado pelo atrito entre dois cabos de alta tensão provocou um curto circuito" e que esse atrito, por sua vez, foi provocado "pela ventania, após uma tempestade".
Ainda segundo a concessionária, o incidente aconteceu em um trecho da rua Laranjeiras, no bairro Brasil Novo, zona norte, e afetou "apenas as residências localizadas no perímetro", não chegando a interromper o rodízio de energia elétrica que está em curso no Amapá desde o dia 7 de novembro.
O fornecimento na região afetada foi normalizado às 2h25 desta segunda (23), informou a CEA, que manteve para o dia 26 o prazo de restabelecimento da energia integral ao estado.
Após o apagão, Bolsonaro chegou a prometer que a energia elétrica seria 100% restabelecida em tempo integral no sábado (21), mas depois o governo federal recuou e confirmou a normalização do fornecimento apenas no dia 26 de novembro, como havia sido anunciado inicialmente pela CEA (Companhia de Eletricidade do Amapá).
Durante a visita presidencial, foi inaugurada a central de geradores termelétricos instalada em Macapá com a promessa - ainda não cumprida - de suprir temporariamente parte da demanda do estado.
Segundo a CEA, dois geradores da Usina Termelétrica Santana 2 entraram em funcionamento no sábado (21). No entanto, apenas 20 dos 45 megawatts anunciados pela concessionária foram ligados, o que mantém o rodízio em atividade.
Moradora do bairro Renascer 1, na zona norte, a técnica em saúde bucal Adriana Xavier, 34, contou que, apesar dos curto circuitos e do temporal que atingiu Macapá domingo - foi o dia com maior quantidade de chuva no ano–, na casa dela o racionamento não foi interrompido. "Desta vez não houve apagão total, acho que só em alguns trechos da zona norte", contou.
O MME (Ministério de Minas e Energia) classificou as explosões de domingo à noite como incidentes isolados e informou que o fornecimento de energia elétrica no estado ocorreu de forma programada nesta segunda (23). Em nota, o MME informou ainda que na maior parte do dia não houve necessidade de aplicação de rodízio pela CEA.
No entanto, a professora Naira Queiroz, 33, que mora no bairro Buritizal, zona sul de Macapá, relatou que o rodízio de energia segue com intervalos de quatro horas, sem interrupções nem melhorias. "Tem horários que fica com mais de quatro horas de luz, mas ainda estamos no rodízio", contou.
O MME informou ainda que, "em virtude do tempo chuvoso que embaraçou o andamento dos trabalhos de energização dos demais geradores", a geração térmica chegou a 23 megawatts de potência nesta segunda (23), com expectativa de chegar a 34 megawatts até quarta (24). Para que o racionamento chegue ao fim, a geração precisaria atingir 45 megawatts.
Sobre a instalação do segundo transformador na subestação Macapá, que também pode pôr fim ao racionamento, o MME informou que nesta segunda (23) o transformador foi submetido a testes elétricos e que já estão em andamento os procedimentos necessários para o início da operação do equipamento. O ministério manteve a previsão de energização do transformador até o dia 26 de novembro.
Não bastasse o apagão, o racionamento de energia e o aumento dos casos de Covid-19 no estado - apontado pelos boletins diários da Secretaria Estadual de Saúde -, os moradores de Macapá ainda tiveram que lidar com os alagamentos após o temporal do domingo.
É que, segundo o NHMet (Núcleo de Hidrometeorologia) do Iepa (Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Amapá), a chuva de domingo correspondeu a quase metade do previsto para o mês de novembro e, no acumulado do mês, o volume de chuvas já é três vezes maior do que o previsto pelo órgão.