Um dos 'Beatles' do Estado Islâmico é condenado à prisão perpétua nos EUA
Britânico se dedicada à captura, tortura e execução de reféns ocidentais
Um dos "Beatles", célula jihadista do grupo Estado Islâmico (EI) dedicada à captura, tortura e execução de reféns ocidentais, foi condenado nesta sexta-feira (29) à prisão perpétua por um tribunal federal nos Estados Unidos.
Alexanda Kotey, um ex-cidadão britânico de 38 anos, declarou-se culpado em setembro, admitindo sua responsabilidade pela morte de quatro reféns americanos na Síria e pelo sequestro e tortura de cerca de 20 ocidentais durante o conflito bélico neste país.
Outro membro dessa célula, El Shafee el-Sheikh, preso com ele pelas forças curdas em 2018, foi condenado em abril após um julgamento exaustivo e será sentenciado nos próximos meses.
Os dois homens compareceram nesta sexta no tribunal de Alexandria, perto de Washington, onde os familiares de suas vítimas puderam pedir a palavra pela última vez.
"Sequestraram, torturaram e participaram do assassinato de pessoas boas e inocentes, e agora terão que viver com isso pelo resto de suas vidas", disse a britânica Bethany Haines, filha de uma das vítimas.
"Vocês dois perderam!", acrescentou a jovem, cujo pai, David Haines, foi decapitado pelo terceiro membro dos "Beatles", Mohamed Emwazi, morto em um ataque com drones em 2015.
Os reféns apelidaram os jihadistas, que cresceram e se radicalizaram em Londres, de Beatles devido a seu sotaque britânico.
Durante o tempo em que permaneceram na Síria, de 2012 a 2015, o trio supervisionou a detenção de pelo menos 27 jornalistas e parceiros dos Estados Unidos, Reino Unido, França, Espanha, Itália, Alemanha, Dinamarca, Suécia, Bélgica, Japão, Nova Zelândia e Rússia. Dez deles foram executados e muitas vezes os jihadistas se vangloriaram das mortes em vídeos de propaganda do grupo Estado Islâmico.
Entre as vítimas está o jornalista americano Steven Sotloff. Nesta sexta-feira, sua mãe, Shirley, pediu repetidamente aos dois jihadistas que "olhassem nos olhos dela", enquanto ela descrevia o "impacto inimaginável" de suas ações em sua família.
Sede de verdade
Marsha Mueller, cuja filha Kayla morreu em circunstâncias confusas após ter sido escrava sexual do líder do EI Abu Bakr al-Baghdadi, pediu que a ajudassem a entender o que aconteceu com sua filha. "Soubemos de algumas coisas, histórias de estupros, agressões e horror. Mas quero saber toda a verdade, embora seja difícil de ouvir. Preciso viver esses horrores com ela."
Alexanda Kotey não falou nem esboçou nenhuma emoção quando o juiz TS Ellis proferiu a sentença. Seus advogados, no entanto, afirmaram que ele está arrependido e concordaram em se reunir com as famílias das vítimas.
O juiz permitiu que Kotey fique detido em Alexandria até julho, para dar tempo às autoridades e a seus advogados de negociar sobre a prisão em que ele cumprirá a pena.