Logo Folha de Pernambuco

Argentina

Um mês após o ataque a Kirchner na Argentina, o mistério e a polarização continuam

Kirchner, de 69 anos, pediu uma investigação para apurar se há conexões entre os réus e manifestantes de extrema-direita

Apoiadores da vice-presidente da Argentina, Cristina Fernandez de Kirchner, em meio a bandeiras nacionais argentinas durante a transmissão de sua defesa durante um julgamento por suposta corrupção fora do Congresso Nacional em Buenos AiresApoiadores da vice-presidente da Argentina, Cristina Fernandez de Kirchner, em meio a bandeiras nacionais argentinas durante a transmissão de sua defesa durante um julgamento por suposta corrupção fora do Congresso Nacional em Buenos Aires - Foto: Luis Robayo / AFP

Um mês depois da noite que um homem apontou uma arma de fogo que não disparou para a cabeça da vice-presidente argentina, Cristina Kirchner, o caso oferece poucas informações esclarecedoras além dos quatro jovens detidos, odiadores da líder e de uma identificação confusa com a extrema-direita.

Com pouco progresso na investigação, o país continua polarizado. A governamental Frente de Todos (FdT), corrente de centro-esquerda do peronismo, afirma que a tentativa de assassinato da duas vezes presidente (2007-2015) é fruto de "discursos de ódio e violência" da oposição e da mídia opositora.

Lideranças de direita e ultraliberais concordam que o FdT tenta aproveitar o ataque para se "vitimizar", de olho nas eleições presidenciais dentro de um ano, em momentos em que a inflação está transbordando para quase 100% anual e os conflitos sociais se multiplicam.

"O fato é extremamente grave, mas não há mudança substancial nos atores políticos em jogo", disse à AFP o sociólogo e cientista político Ricardo Rouvier. "O clima político continua mais ou menos semelhante ao que tínhamos antes", acrescentou.

Os quatro acusados, com idade de 21 a 35 anos, estão em prisão preventiva sob acusações de "tentativa de homicídio qualificado".  Fernando Sabag Montiel, que disparou a pistola calibre 32, com cinco balas no carregador e nenhuma na câmara de disparo, ostenta tatuagens neonazistas (um sol negro, uma cruz de ferro). 

"Mandei um cara para matá-la"

A parceira e suposta instigadora de Montiel é a vendedora ambulante Brenda Uliarte, que expressou sua indignação em mensagens com insultos a Kirchner e escreveu em um bate-papo: "Mandei um cara matar Cristi (sic)".

Outra detida e sua amiga, Agustina Díaz, responde: "Quem não gostaria de atirar naquela velha vadia (ladra)". O quarteto é completado pelo vendedora de doces Nicolás Carrizo.

"Estamos diante de um grupo de jovens que não sabe o que são, quem são, como agem e quem os dirige e financia", disse Rouvier.

Kirchner, de 69 anos, pediu uma investigação para apurar se há conexões entre os réus e manifestantes de extrema-direita que saíram às ruas com sacos de cadáveres e cartazes de "morte a Cristina".

Uliarte foi filmada em uma manifestação hostil do microgrupo de extrema-direita Revolução Federal (RF), que transportou um modelo de guilhotina, com tochas, até a Plaza de Mayo, em frente à sede do governo.

Jonathan Morel, fundador da RF, condenou publicamente o ataque. A justiça considerou que há provas "insuficientes" para envolver o grupo, razão pela qual está sendo investigado em outro tribunal.

O ex-presidente e líder da oposição Mauricio Macri (2015-19), sustenta que os acusados são "um grupo de loucos à solta". Por sua parte, a FdT que afirma que devem investigar "os autores intelectuais" e o "financiamento dos autores materiais".

"Não há mais nenhuma suspeita de que (o ataque) foi auto-organizado. É um magnicídio fracassado. A questão é quão complexa é a organização", disse à AFP o cientista político Diego Reynoso, da Universidade de San Andrés.

Kirchner, que é acusada de associação criminosa e administração fraudulenta qualificada, por supostamente ter orientado a atribuição de licitações de obras públicas na província de Santa Cruz (sul),  afirmou que o julgamento foi capaz de "criar um clima" para o ataque que sofreu.

Dias após o atentado, o setor peronista de esquerda da FdT parecia lutar pela candidatura de Kirchner em 2023. Ela reiterou que já foi "presidente duas vezes" e que "essas coisas não a seduzem".

Veja também

Ucrânia pede sistemas de defesa para enfrentar novos mísseis russos
Ucrânia

Ucrânia pede sistemas de defesa para enfrentar novos mísseis russos

Hospitais de Gaza em risco por falta de combustível
Gaza

Hospitais de Gaza em risco por falta de combustível

Newsletter