Um mês após ser baleada por agentes da PRF, jovem fala pela primeira vez: "Mãe, te amo"
Momento emocionalmente foi registrado pela mãe de Juliana Rangel
Nesta sexta-feira (24), Juliana Leite Rangel, de 26 anos, completou um mês de internação no Hospital Municipalizado Adão Pereira Nunes (HMAPN), em Duque de Caxias, após ser atingida por disparos de policiais rodoviários federais no dia 24 de dezembro de 2024. O caso ocorreu enquanto a jovem seguia para a casa de familiares em Itaipu, Niterói, para comemorar o Natal.
Apesar do trauma, a recuperação de Juliana tem surpreendido a equipe médica. A jovem, que segue em tratamento intensivo, pronunciou nesta semana suas primeiras palavras desde o incidente: "mãe, te amo". Segundo o diretor médico do HMAPN, Moisés Almeida, o quadro clínico de Juliana tem apresentado avanços consistentes.
— Ela está se recuperando muito bem desse estado pós-operatório. No momento, o quadro dela está bem estável, sem febre, evoluindo satisfatoriamente. Ela está já há uma semana sem nenhum tipo de ventilação mecânica, respirando em ar ambiente, realizando a fisioterapia respiratória e motora, andando com ajuda da fisioterapia. Ela já teve dois episódios de banho com auxílio — informou o médico.
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De acordo com a direção do hospital, Juliana segue lúcida, interagindo bem e recebendo acompanhamento de uma equipe multidisciplinar. Está em processo de reabilitação motora e respiratória, além de contar com o suporte de fonoaudiologia para retirada da cânula de traqueostomia e treinamento de deglutição.
Apesar das evoluções, não há previsão de alta da Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
A mãe de Juliana, Deyse Rangel, não esconde a emoção com os avanços da filha.
--- Ela tomou o primeiro banho dela sozinha, auxiliada por dois técnicos. Quando cheguei no quarto, ela me deu um sorriso e pediu papel e caneta para me contar. Foi o melhor presente que recebi depois de tudo isso. Hoje, ela tomou o segundo banho e está muito animada para sair logo do hospital --- disse Deyse.
Ainda emocionada, Deyse destacou o momento em que ouviu Juliana falar pela primeira vez após o incidente.
--- Ontem, durante um exercício da fisioterapia, ela falou 'mãe'. Foi muito emocionante, chorei. Estamos muito felizes com cada progresso dela--- afirmou.
O crime
Juliana foi atingida por policiais rodoviários federais durante uma abordagem equivocada na Baixada Fluminense. Os agentes alegaram ter confundido o veículo em que a jovem estava com outro, de onde teriam partido disparos.
As armas utilizadas pelos policiais — dois fuzis e uma pistola automática — foram apreendidas para perícia, e o caso está sendo investigado pela Polícia Federal e pela Corregedoria-Geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF). Os agentes foram afastados preventivamente.
A família de Juliana enfrenta dificuldades financeiras, já que o pai da jovem precisou deixar o trabalho para acompanhá-la.
--- Estamos vivendo de doações. Recebemos a visita de uma assistente social, mas até agora nenhuma assistência financeira. Vamos lutar por justiça e queremos conversar com o superintendente da PRF --- afirmou Deyse.
Enquanto a investigação segue, a mãe de Juliana agradece pelo apoio que tem recebido.
--- Hoje é só vitória. A Juliana está se recuperando a cada dia. Só temos a agradecer a todos que ajudaram e estão em oração por ela --- concluiu.
Familiares de Juliana disseram que se recorda de tudo que aconteceu no dia do tiroteio e que vem escrevendo as cenas no caderno dado pela mãe.
Juliana Leite Rangel foi baleada enquanto seguia para a casa de familiares em Itaipu, Niterói, na véspera de Natal, após o carro em que estava ser alvo de disparos de policiais rodoviários federais em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. A equipe, formada por dois homens e uma mulher que habitualmente atuam em funções administrativas, estava em patrulha no plantão especial de Natal e utilizava dois fuzis e uma pistola automática, armas que foram apreendidas para perícia. Segundo a PRF, os policiais alegaram que ouviram disparos próximos ao veículo e, ao supor que vinham dele, atiraram, mas logo perceberam que haviam cometido um grave erro.
Os policiais envolvidos na ação prestaram depoimento na divisão da Polícia Federal de Nova Iguaçu no dia seguinte ao incidente.
Em nota, a PRF informou que a Corregedoria-Geral determinou a abertura de um procedimento interno para apuração e afastou os agentes preventivamente de todas as atividades operacionais. O caso está sob investigação da Polícia Federal no Rio de Janeiro, que realiza a perícia das armas utilizadas.
Além disso, a corporação apura uma possível ocorrência envolvendo outra patrulha da PRF na mesma estrada, alguns quilômetros antes do ataque.