Rio de Janeiro

"Uma bala, um tiro, levou a minha princesa" professora lembra da aluna morta durante confronto

Em texto publicado numa rede social, ela fala com carinho da aluna e reflete sobre a rotina de confrontos na região de Madureira e adjacências: "Você fica refém da violência e até a normaliza"

Ester de Assis Oliveira em celebração da Páscoa na escolaEster de Assis Oliveira em celebração da Páscoa na escola - Foto: Reprodução

A pequena Ester de Assis Oliveira, de 9 anos, gostava de contar à professora do 4º Ano da Escola Municipal Astolfo Rezende que se chamaria Hadassa. O nome, de origem bíblica, tem muitos significados, entre os quais “protegida”.

Baleada por criminosos em guerra na comunidade do Cajueiro, em Madureira, na Zona Norte do Rio, na tarde de quarta-feira (5), ao sair da escola, Ester foi mais uma vítima da violência que aterroriza moradores de toda a cidade. A sensação é de que ninguém está, de fato, protegido.

Em texto publicado em suas redes sociais, além de revelar a curiosidade sobre o nome de Ester, a professora lembra com emoção da aluna. “Ela era uma espoleta, mas era carinhosa. E nessa última semana só queria sentar perto de mim, e hoje, perguntou um monte de coisas sobre mim. Ela era curiosa. Extrovertida. Levada. Igual toda criança de 9 anos”, escreveu.

Na sequência da publicação, o lamento: “Mas uma bala, um tiro, levou a minha princesa Ester pra Glória um pouquinho mais cedo”. Em outro trecho, a professora reflete sobre os desafios de viver numa cidade conflagrada. “Sabe, trabalhar em Madureira, tem sido um aprendizado. Você fica refém da violência e até a normaliza. Acorda ouvindo os tiros e já sabe se é em Madureira, no Campinho ou na Praça Seca”. Todas as localidades citadas por ela vivem, há semanas, uma rotina de tiroteios e conflitos causados pela disputada entre grupos criminosos locais.

O texto segue, pontuado pela emoção e a revolta. “Não consigo acreditar! O RJ não é pra amadores. Eu odeio esse RJ que mata, que sequestra, que estupra, que violenta, que rouba, que dá um jeitinho. Mais um anjo atingido pela bala de um revólver maldito. Estou desesperada!”

Dados da ONG Rio de Paz apontam que Ester foi a quarta criança morta por bala perdida esse ano. As outras vítimas foram: o menino Juan Davi de Souza Faria, de 11, morto em 1º de janeiro, em Mesquita; Rafaelly da Rocha Vieira, de 10, atingida em 25 de janeiro, ao brincar na frente de casa em São João de Meriti; e Maria Eduarda Carvalho Martins, de 9, que morreu em 19 de fevereiro, em Praia Grande, Magé.

Pelo menos cinco pessoas foram baleadas durante o confronto de quarta-feira entre criminosos do Complexo da Serrinha e do Morro do Cajueiro, ambos em Madureira, na Zona Norte do Rio. Além de Ester, o entregador de gás João Vitor Pereira Brander, de 19 anos. O rapaz estava no horário de almoço quando foi atingido. Ele morreu no local.

Segundo testemunhas, os invasores de uma favela comandada por uma facção rival chegaram no local já atirando por volta das 17h30. O objetivo seria a expansão de territórios, de acordo com informações preliminares recebidas pela polícia. O tráfico de drogas do Complexo da Serrinha é comandado por Wallace de Brito Trindade, conhecido como “Lacoste”.

A Polícia Militar afirma que foi acionada para a ocorrência, mas diz que não realizou operação na região na quarta-feira. Os feridos, segundo a corporação, foram encaminhados para o Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha, e para unidades de Pronto Atendimento (UPAs) de Rocha Miranda e Irajá.

Após o tiroteio, o comando do 9º BPM (Rocha Miranda) reforçou o policiamento na região.

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