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Opinião

Uma carta de princípios para escolher o candidato

A política, como a certificar a teoria de Charles Darwin, vai eliminando os mais fracos ao longo das corridas eleitorais, até que as espécimes

sobreviventes, aquelas que se fortaleceram fisicamente, se adaptaram ao meio pantanoso e cooptaram outros para a sua causa entram no campo de batalha das urnas.

Confesso, acabrunhado, que meu senso cidadão está em declínio. Mas, a amenizar esse sentimento, não há nada de nobre na forma como somos envolvidos na Ágora política contemporânea.

A verborragia em excesso nas campanhas, os truques dos marqueteiros regiamente pagos, algumas pesquisas amadoras que distorcem o quadro e os candidatos maquiados pela superficialidade de declarações pré-fabricadas são responsáveis por essa insatisfação.

Sabemos que a política nacional, não raras vezes, tem por arte enganar sem ruborizar, achando que a população é tomada pela cegueira social e está sempre disposta a ser conduzida como rebanho para o curral dos interesses patrimoniais.

Que o adversário de hoje é o irmão de sangue amanhã e depois de amanhã mais uma vez será o adversário a ser abatido. Que acordos com bases ideológicas duram até a porta do elevador que leva os signatários a uma outra sala, onde nova proposta mais atraente lhes convencerá a abandonar a já firmada.

Habitamos no país da utopia, governado na distopia de um presidencialismo de coalizões espúrias que subsistem por nenhum temor de serem condenadas.

Chegamos na semana decisiva do embate eleitoral com a certeza de que no Brasil não se discutem propostas concretas que mostrem uma possibilidade de resolução aos desafios diários da população e aos desafios estratégicos para o país diante de um mundo em constante mutação.

Em síntese:

- no campo militar, o que dizem os candidatos sobre o papel a ser desempenhado pelas Forças Armadas? Exclusividade na Defesa da Pátria ou agente propulsor do desenvolvimento e ator da segurança pública?

- no campo psicossocial, como resolverão concretamente a desigualdade social abissal? Somos mais de 30 milhões de famélicos, diariamente despertos pela angústia da dúvida se haverá um prato de comida para saciar o estômago vazio.

- no campo da ciência, tecnologia & inovação, quando deixaremos de ser dependentes das grandes potências? Sabe-se que a projeção de poder e o pleno desenvolvimento de um país passa necessariamente por pesquisar e aplicar conhecimento.

- no campo econômico, qual a proposta para vencer o desemprego, hoje na casa dos 9 milhões? A solução não pode estar no estímulo hipócrita ao empreendedorismo da informalidade.

- no campo da política, que ação as lideranças tomarão para fortalecer o sistema, alijando os partidos de alugueis? Segundo o Tribunal Superior Eleitoral, o Brasil possui mais de 30 agremiações políticas-partidárias, uma babel programática.

Há muito pouco a exigir dos incumbentes diante da proximidade da data decisiva que, oxalá, dará oportunidade de novo rumo para o país perdido em mar revolto.

Nas últimas semanas, personalidades têm declarado publicamente suas intenções eleitorais com base em princípios éticos e valores morais que elas e seus grupos políticos, culturais e sociais defendem.

Difícil não concordar com algumas declarações. Mas admito que outros podem educadamente discordar.

Se essas confissões compartilhadas não se coadunam com seus princípios, escreva você mesmo, caro leitor, a sua carta de normas exigíveis aos seus escolhidos, baseada na sua razão, na sua emoção e, principalmente, nas suas necessidades elementares. 

Leia e releia o seu escrito até o 2 de outubro. Na hora de teclar o número de seu candidato lembre-se o quão próximo de suas demandas cognitivas e psicomotoras ele se aproxima. Estando você seguro, aperte confirme!

Paz e bem!

 

General de Divisão da Reserva



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