"Uma pessoa muito querida e prestativa", diz prima de mulher trans assassinada no Recife
Corpo da cabeleireira Crismilly Pérola, de 37 anos, foi encontrado às margens do rio, no bairro da Várzea. Segundo Isabelli Soares, vítima sofria preconceito.
Na noite em que foi assassinada, nesse domingo (4), a cabeleireira Crismilly Pérola, de 37 anos, tinha saído para uma festa perto de onde morou a vida inteira, no bairro da Várzea, Zona Oeste do Recife.
Mulher trans, era uma pessoa muito querida e atuante na comunidade, conforme descreve a também cabeleireira e prima dela, Isabelli Soares, 30. “Ela atendia em domicílio e trabalhava com reciclagem. Muito prestativa. Todos na família e os vizinhos a amam muito. Está todo mundo triste”, conta.
O corpo de Crismilly foi encontrado na manhã desta segunda-feira (5), às margens do rio Capibaribe, na comunidade Beira-Rio, nas proximidades da ponte da Caxangá. Ainda não são conhecidas, em detalhes, as circunstâncias da morte, mas, segundo o que foi dito à família, tiros foram disparados perto do local da festa em que a vítima estava.
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“Ela saiu às 21h do domingo, dizendo que ia a uma festa na casa de uma amiga e aí não voltou. Quando foi já de manhã, o pessoal de lá [da comunidade Beira-Rio] que nos conhecia nos ligou para dar a notícia. Nós fomos, os policiais já tinham isolado o lugar, e soubemos que, realmente, ela tinha sido agredida, deram um tiro e tiraram o corpo do local. Acho que tentaram jogar no rio, mas a maré estava baixa”, lembra Isabelli.
Por meio de nota, a Polícia Civil disse que está investigando o homicídio e que a mulher foi encontrada em via pública, já sem vida. O inquérito, instaurado para apurar a autoria e a motivação do crime, está sendo conduzido pelo delegado Victor Meira, da 4ª Delegacia do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
“Ela era muito ofendida na rua”
Para a prima de Crismilly, não havia nenhuma motivação aparente para o crime além da transfobia que ela sofria cotidianamente.
No mês passado, a cabeleireira foi agredida por um homem da mesma comunidade, que lhe teria pedido para pagar “uma cerveja” para ele. Após uma discussão, houve uma briga, e Crismilly chegou a ser hospitalizada. Foi o único episódio recente de desentendimento envolvendo a vítima.
Segundo Isabelli, embora não tivesse inimizades no bairro, a prima costumava ouvir ofensas de algumas pessoas na rua. E o rapaz que a agrediu em junho era uma delas.
“Até agora, ninguém sabe exatamente como foi, mas o policial falou que ela teria levantado as mãos como se fosse se defender. Então, ela não esperava por isso. Se não estivesse no meio de amigos, nem iria [até o local do crime]”, diz.
Ainda de acordo com Isabelli, Crismilly sofria muito preconceito - e continua sofrendo mesmo depois de assassinada.
“Ela era muito querida, mas era também muito ofendida no meio da rua. Até hoje, depois que saiu a notícia de que estava morta, teve gente que postou dizendo coisas, esculhambando, agradecendo [a morte], chamando de ‘verme’. Então, a gente acha que foi um caso de ‘homofobia’ porque não tinha motivo”, afirma.