União Europeia estuda mais sanções ao Irã por repressão após a morte de Masha Amini
Até o momento, 92 pessoas morreram em manifestações no Irã
A União Europeia disse nesta terça-feira (4) que estava estudando impor novas sanções ao Irã pela repressão dos protestos provocados pelo "assassinato" de Mahsa Amini, após um anúncio semelhante feito pelos Estados Unidos.
Uma onda de manifestações afeta o Irã desde a morte, em 16 de setembro, de Mahsa Amini, uma jovem de 22 anos que foi detida pela polícia da moral de Teerã por supostamente violar o rígido código de vestimenta que obriga as mulheres a usar o véu.
Pelo menos 92 manifestantes morreram até agora nas manifestações, segundo o grupo Iran Human Rights, com sede na Noruega, que está acompanhando o número de mortos apesar dos cortes de internet, os bloqueios do WhatsApp, Instagram e outros serviços on-line.
A Anistia Internacional confirmou 53 mortes depois que a agência de notícias iraniana Fars informou na semana passada que este número seria de "cerca de 60".
O chefe de Política Externa da UE, Josep Borrell, disse que o bloco considerava "todas as opções disponíveis, incluindo medidas restritivas para responder ao assassinato de Mahsa Amini e à forma como as forças de segurança iraniana reagiram às manifestações".
Joe Biden anunciou na segunda-feira que Washington vai impor mais sanções ao Irã nesta semana, em resposta à violenta repressão a "manifestantes pacíficos" no país.
"Os Estados Unidos estão com as mulheres iranianas e todos os cidadãos iranianos que inspiram o mundo com sua coragem", afirmou.
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Biden não deu pistas do tipo de medida que considera impor para punir Teerã.
ONGs expressaram sua profunda preocupação pelo uso de gás lacrimogêneo e armas de paintball pela polícia iraniana contra centenas de estudantes na Universidade Tecnológica de Sharif, em Teerã, na noite de domingo.
Escolas também aderiram aos protestos. A ONG curda Hengaw mostrou estudantes se manifestando em duas cidades da província do Curdistão, onde nasceu Amini.
"Hipocrisia"
O Irã denunciou nesta terça-feira a "hipocrisia" do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que prometeu novas sanções contra Teerã após a repressão dos protestos no país.
"Teria sido melhor se Joe Biden pensassem um pouco sobre o histórico de direitos humanos de seu país antes de falar sobre a situação humanitária (no Irã), embora a hipocrisia não exija uma reflexão profunda", afirmou no Instagram o porta-voz do ministério iraniano das Relações Exteriores, Nasser Kanani.
"O presidente americano deveria estar preocupado com as (consequências das) inúmeras sanções (...) contra a nação iraniana, que representam claramente um exemplo de crime contra a humanidade", disse.
O guia supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, acusou Estados Unidos e Israel na segunda-feira de fomentar o movimento de protestos, o maior no país desde o de 2019 contra o aumento dos preços dos combustíveis.
"Digo claramente que esses distúrbios e a insegurança foram organizados pelos Estados Unidos e pelo falso regime sionista de ocupação, bem como seus agentes, com a ajuda de alguns iranianos traidores no exterior", declarou Khamenei, 83 anos, em seu primeiro comentário público sobre os protestos.
"Os Estados Unidos não podem tolerar um Irã forte e independente", enfatizou.
Os distúrbios ofuscaram os esforços diplomáticos para reativar o acordo nuclear de 2015 entre Irã e as principais potências, que estavam prestes a chegar a um acordo nos últimos meses, em negociações que voltaram a estagnar.
Porém, a secretária de imprensa da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, destacou que os "problemas com o comportamento do Irã" não vinculam os esforços para retomar o acordo nuclear.
Khamenei também destacou na segunda-feira que a polícia iraniana deve enfrentar "os criminosos".
No entanto, afirmou que não era normal que "algumas pessoas, sem provas, nem investigação, transformem as ruas em perigo, queimem o Alcorão, tirem o véu das mulheres e incendeiem mesquitas e veículos".
Nesta terça-feira, as forças de segurança libertaram o cantor Shervin Hajipour, detido depois que a canção "Baraye" ("Para"), composta a partir de tuítes sobre as manifestações, viralizou nas redes sociais.
Outras 400 pessoas detidas na repressão foram postas em liberdade nesta terça "com a condição de não repetir suas ações", disse o promotor de Teerã, Ali Salehi, citado pela agência estatal de notícias Irna.
Na província de Sistan-Baluchistan (sudeste), uma manifestação organizada na sexta-feira, após denúncias de que um policial teria estuprado uma adolescente, terminou em distúrbios.
Segundo um novo balanço divulgado nesta terça pela ONG IHR, ao menos 63 pessoas morreram na intervenção das forças de segurança para aplacar os protestos em Zahedan, capital da província.
As autoridades locais afirmam que cinco membros das forças iranianas morreram nos incidentes.