Universidade Columbia cede ao governo Trump para tentar recuperar financiamento federal perdido
Casa Branca suspendeu US$ 400 milhões e exigia medidas para controlar protestos no campus; ativistas veem decisão como um risco à liberdade acadêmica
A Universidade Columbia concordou nesta sexta-feira (21) com mudanças em suas políticas para protestos nos campi, práticas de segurança e no departamento de estudos do Oriente Médio, em uma concessão ao governo do presidente Donald Trump, que se recusou a restaurar o financiamento federal de US$ 400 milhões (R$ 2,29 bilhões) sem que fossem feitas reformas.
O acordo, detalhado em uma carta enviada ao governo federal e compartilhada com membros da comunidade acadêmica, pode sinalizar uma nova etapa na disputa entre a Casa Branca e universidades de elite nos EUA.
A Universidade Harvard, a Universidade Stanford e a Universidade do Michigan, ao lado de dezenas de instituições, estão ameaçadas por inquéritos e podem sofrer penalizações similares, e representantes de algumas delas disseram que a decisão de Columbia pode abrir um perigoso precedente.
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Nesta semana, a Universidade da Pensilvânia entrou na mira do governo, que ameaçou cancelar US$ 175 milhões em financiamento federal, em parte porque a instituição permitiu que uma mulher transgênero participasse de uma equipe feminina de natação.
Columbia, diante do risco de perder verbas e contratos por causa do que o governo Trump disse ser um fracasso sistêmico para proteger estudantes e membros da universidade “da violência antissemita e assédio”, escolheu ceder às demandas mais cruciais da Casa Branca.
A instituição disse ter concordado com a contratação de uma força interna de segurança formada por 36 “agentes especiais”, que terão o poder de retirar pessoas do campus ou prendê-las. O uso de máscaras será proibido para evitar que as pessoas escondam suas identidades durante altercações, sendo permitido apenas por razões religiosas ou de saúde.
Columbia ainda adotará uma definição formal do que é antissemitismo, algo que muitas universidades evitaram fazer mesmo diante, como a instituição baseada em Nova York, da pressão parta que o fizessem, em meio aos protestos em seus campi e à guerra na Faixa de Gaza.
A reitora interina de Columbia, Katrina Armstrong, disse em uma carta nesta sexta-feira que as ações da universidade são parte de um esforço para “fazer com que cada estudante e funcionário se sinta seguro em noss campus”.
“A forma como Columbia e sua comunidade foram representados é difícil de aceitar”, diz a mensagem. “Temos desafios, sim, mas eles não nos definem.”
Ela ainda acrescentou que “em todos os momentos, nos guiamos por nossos valores, colocando a liberdade acadêmica, liberdade de expressão, as pesquisas abertas e o respeito à frente de todas decisões tomadas”.
O governo Trump exigiu cada uma das mudanças em uma carta para a administração de Columbia no dia 13 de março. Um porta-voz do Departamento de Educação, uma das três pessoas citadas no documento, não atendeu aos pedidos de comentários, incluindo questões sobre a eventual retomada do financiamento federal.
Talvez em sua ação mais controversa, Columbia disse que indicaria um novo vice-reitor para supervisionar o Departamento de Estudos do Oriente Médio, Ásia e África. A Casa Branca exigiu que o departamento fosse colocado sob uma rara intervenção federal, normalmente um último recurso para enfrentar períodos de turbulência interna. Columbia não citou a intervenção, mas sua decisão soou como se fosse uma.
Juristas e defensores da liberdade acadêmica expressaram suas preocupações com o que descreveram como uma perigosa rendição da universidade a Donald Trump, em um momento delicado para o ensino superior.
Alguns críticos temem que a Casa Branca possa atingir qualquer instituição que receba verbas federais, como escolas públicas, hospitais, casas de repouso e iniciativas comerciais.
Sheldon Pollock, um ex-chefe do Departamento de Estudos do Oriente Médio de Columbia, disse em mensagem de texto que “o corpo docente de Columbia está chocado e desapontado diante da capitulação ao comportamento extorsivo do governo federal”.
“É um dia vergonhoso para a história de Columbia”, disse Pollock, afirmando que a decisão iria “ameaçar a liberdade acadêmica, a governança interna e a excelência do sistema universitário dos EUA”.
A decisão da universidade às demandas de Trump foi a mais recente reviravolta em uma fase turbulenta iniciada há 17 meses, quando estudantes pró- Palestina e pró- Israel realizaram protestos nos dias que sucederam o ataque do Hamas contra Israel, em outubro de 2023, e o início da operação militar na Faixa de Gaza.
Desde então, o campus em Manhattan viveu um raro chamado à polícia para controlar os atos, a renúncia de uma reitora e a prisão do estudante Mahmoud Khalil por agentes de imigração.
Apesar das mudanças, esse capítulo complexo dos 270 anos de história da universidade pode não ter chegado ao fim. O governo federal disse que o cumprimento de suas demandas era uma “condição prévia para as negociações formais” sobre a continuidade de uma relação financeira, e que a Casa Branca pode pedir novas “reformas estruturais imediatas e a longo prazo”.